♪“Não é preciso apagar a luz
Eu fecho os olhos e tudo vem
Num Caleidoscópio sem lógica”♫
Num lugar indeterminado, daqueles que nunca aconteceram, uma menina abriu um velho livro e um turbilhão de lembranças surgiu.
- Lembra disso?
- Foi quando vocês apareceram pela primeira vez...
Nisso as páginas do livro ganharam vida e um jardim apareceu, onde três irmãs brincavam. As duas menores faziam formas na areia, com pazinhas de madeira, e as cobriam com pétalas de rosa, enquanto a mais velha cuidava do entorno desconhecido.
- Deborah sempre foi cuidadosa, não é mesmo?
Observar a função foi a melhor opção: as pequenas eram bem ágeis e suas maozinhas criavam triângulos entre triângulos formando estrelas de raro brilho que a mais velha elevou-as a flocos de neve, participando um pouco da brincadeira, vendo ao longe o velho observador.
- Você gostou do que viu, não foi?
- Sempre gostei de fractais.
- Amor incondicional - disse a menina - nós explicamos isso no dia!
Aproximou-se e sentou. Outras formas semelhantes e infinitas eram criadas a cada momento e, dessa vez, pareciam cristais. A mais nova, que se chamava Adrielle, jogou os cristais para cima, na direção das nuvens, criando uma chuva fina e delicada. Deborah, por sua vez, pegou um girassol e o abriu como uma aura dourada, para proteger as meninas.
- Adrielle sempre gostou de uma tempestade e um apagão.
- Ela sempre foi mais irritadinha...
Por outro lado, a irmã do meio, Ana Beatriz, descobriu que poderia criar novas cores e, assim, os fractais dançariam ao vento, num efeito semelhante ao caleidoscópio, desde que juntasse as pétalas das rosas a algumas folhinhas que estavam à sua volta. Com um pouco mais de esforço, folhas e pétalas foram ao ar, até o céu nublado, espantaram as nuvens, viraram estrelas que iluminaram o suficiente para surgir uma tarde de céu azul, sumindo a seguir.
Assistir a tudo isso era como um sonho, que jamais seria visto, ou como as flores esquecidas dos caminhos percorridos. Sendo assim, curioso, ele perguntou quem eram:
"- Somos o que nunca aconteceu...
O que foi amado e que nunca pediu o amor...
O que amou, infinitamente, no universo da imaginação."
Assim elas se foram... como num sonho: a mais velha conjurou um redemoinho de pétalas e luzes, mas ainda deu para ouvir a despedida num risinho... - “Xau” Mago!”
- Ainda sabe o que fazer com fractais, Beatriz?
- Só você me chama assim...
♪“Eu quase posso ouvir a tua voz
Eu sinto a tua mão a me guiar
Pela noite a caminho de casa...”♫
No cesto, amoras vermelhas recém colhidas foram o suficiente para colorir o céu, criando um efeito mágico incomum.
Ainda observaram um pouco a obra e, como o pôr do sol, eles desapareceram no horizonte...
Boa Noite! Eu sou o Narrador.