domingo, 11 de setembro de 2011

Um Dia

O teimoso inverno resolveu pedir uma ajudinha, quando o Sol começou a querer aparecer, e veio uma grande tempestade.
Indignada, a Lua resolveu dar um basta nisso tudo e “virou” para o Sol e disse: 

- Quer saber? Você “tá” ficando velho! Nem consegue resolver tal situação? 

Colocou as mãos nas cadeiras, encarou a tempestade e “despachou” para o norte, com todas as nuvens pretas que vieram juntas. 

- Agora vê se lá pra cima você toma jeito e não deixa a coisa ficar como aqui! 

Naquela noite de lua, tudo poderia acontecer (ou então nada acontecer).

O silêncio era uma constante, não estava tão frio, mas ele desistiu das reprises dos filmes que já vira e ligou um canal de rádio, onde velhas baladas o remeteram à um passado muito e muito distante.

Pegou o livro que ganhara de aniversário e resolveu terminar de ler as últimas páginas. Aquela leitura não era das suas preferidas, mas trouxe algumas outras lembranças, mesmo que as situações lá descritas ele nunca tivesse experimentado. 

Ainda sem terminar, veio a vontade impossível de resistir e, numa folha de papel, rascunhou uma carta (ideia que pegou do livro), que começava mais ou menos assim: 

“Oi! Esquisito isso de escrever carta. Acho que na vida só te mandei algumas, mas só lembro de uma que foi um desastre!” 

A carta foi seguindo e ele foi escrevendo o que dava na cabeça. 

Lembrou de algumas cenas como do dia que ele derramou um vidrinho contendo gotas de mercúrio, que ela guardava junto com outras pedrinhas (naquele tempo ninguém falava da toxicidade deste metal líquido, de ecologia, nem nada disso), dos lanches com Toddy que ele adorava e não tomava em casa, nem sei bem por conta do que. 

Dos encontros quase anuais, nos aniversários, nas férias (uma dessas também foi um desastre, quando ele resolveu, pela primeira vez, declarar seu amor, agora quase adolescente); das longas conversas, de esperar a hora do namorado ir embora para aparecer e da distância que, aos poucos, passou a durar mais de um ano.

Lembrou da única vez que a viu chorar e do beijo que, nesse dia, quase aconteceu... 

Páginas e mais páginas, numa letra quase ilegível, sempre elogiando o passado (que é a maior definição de saudade que já ouvi na vida).

O tempo passou e o que ficou foi uma amizade eterna. Ela pra lá e ele pra cá. 

Algumas tentativas frustradas de reaproximação aconteceram, mas a vida mudou. 

Nos aniversários eles se falam; eventualmente numa ou noutra ocasião. Talvez cinco minutos, que são eternos quando acontecem. 

Uma coisa eles não tem dúvida: sentem muito a falta um do outro e, numa noite de lua cheia, quem sabe um dia, eles sentarão mais uma vez, em algum sofá ou coisa do gênero, e conversarão... como era tão bom antigamente! 

Terminou, não passou a limpo, guardou tudo dentro do livro e as páginas viraram algo do tipo, “Escrevi mas não mandei”. 

O que resta agora é dormir.

Se Ana viu tudo isso, quem sabe ela não “passa a limpo” pra ele e entrega tudo, dentro de um envelope colorido?
 

Boa noite! Eu sou o Narrador.

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