quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O Enigma

Por via das dúvidas ela resolveu dar uma “faxinada” na casa. Aquela amiga bonitona, que passou a sair com seu ex-pretendente (aquele que desdenhara), viria mais tarde para se arrumar, já que teria uma festa a fantasia e o modelo “bruxinha” era o ideal para a ocasião (“essa cobra ainda vai contar vantagem das saídas com ele” - ela pensou). 

Um ano se passou e ela não mais o viu. Bem que tentou uma dessas “mensagens do além”, naquele dia da nevasca, mas nem isso adiantou. Acabou ficando empregada em casa mesmo, esquentando no fogão, esfriando no tanque e pintar unhas, comprar vestidos e arrumar cabelo virou raridade, já que seu marido nunca ligou pra isso, além do fato que dormir, para ele, era mais importante do que fazer outra coisa mais interessante. 

Colocou os gatos pra fora, bem trancados no galinheiro vazio, certificou-se que não haveria qualquer peça de lego perdida pelo chão, deixou uma dúzia de toalhas no banheiro e ficou torcendo para não chover (ocasião que sempre acaba a luz). Tudo pronto, chega a “amiga”, feito o make up e a produção completa ficou inacreditável de tão bonita. Ela se foi, mas antes falou: 

- Ei! Se acabar cedo lá, de repente ainda dou uma passadinha por aqui pra te contar, viu! Tem certeza que não quer ir? 

Respondeu que não com a cabeça, para não desabar uma penca de palavrões, e sentou no sofá, para assistir televisão, o que gerou sono e acabou dormindo. Acordou às três horas da manhã com um som ensurdecedor desses carros “tunados” tocando “Thriller” do Michael Jackson. Na sequência, toca a campainha e ela logo achou que era a amiga “cobra”. Abriu e deu de cara com uma girafa.

- Posso dormir aqui essa noite? 

Achando que estava num pesadelo, fechou a porta, mas a girafa fora mais rápida e sentara no sofá. 

- Pra fora já! Você é fruto de um pesadelo! Chega! Não aguento essas meninas que todo ano vem me atormentar! 
- Que meninas? Quem me mandou aqui foi um quati. Ele disse que você poderia me ajudar. Senta que te explico. 

Já que não havia mais jeito, resolveu ouvir a girafa que explicou a situação. Umas bruxas, as mesmas que um dia deram uma dica para uma esfinge de Tebas, criaram uma charada, onde a pessoa que errasse seria transformada em girafa. Como muita gente errou, a coisa saiu do controle e os paparazzi passaram a perseguir a girafa original; o Datena e o Marcelo Rezende queriam entrevistas e até a “Playbicho” ofereceu uma grana para ela ser a capa do mês. Com tanto assédio, ela procurou o quati e ai o restante já foi explicado. 

Já comovida com o drama, a guria aceitou a missão, mas só por uma noite, já que o marido chegaria no dia seguinte. 

- Ah! Você é uma boa moça! Tive certeza disso, logo que entrei! Ei, tem comidinha ai? Eu gosto de geleia de morangos, mel, vinho, pão e queijos, você tem? 

Ela, então, preparou um lanche, no melhor estilo café da manhã. Comeram e ela perguntou: 

- E como era a tal charada? 
- Muito fácil! Era só dizer a primeira coisa que a pessoa abriu depois de receber uma visita inesperada no meio da noite. 
- Como assim? 
- Tipo: eu cheguei e fui inesperada, não foi? 
- Muito inesperada, por sinal! 
- Então, o que você abriu primeiro, já que também vim para o café? 
- Essa é fácil! Eu abri a geleia de morangos! 

Bummmm! 

Pela manhã, o marido chegou, 

- Você está meio diferente! Pera que vou descobrir o que é... hum... já sei! Essa roupa amarela e marrom e o salto alto não é isso?  


 Boa Tarde! Eu sou o Narrador.

domingo, 13 de outubro de 2013

A História do Agapanto

E num dia de profunda inspiração, as flores foram criadas, com suas cores, seus perfumes e suas antenas repletas de pólen que seria transferido para outras flores com o poder dos pequenos insetos. Para comemorar tão importante criação, uma estação do ano foi destacada para o evento: nesse dia foi criada a Primavera! 

Num outro dia, já na mão dos estagiários (que sempre levam a culpa), sem grandes inspirações, foram criados os dias secos e a poeira, que também levaria o pólen, na falta dos insetos: nesse dia foi criado a rinite. 

Agapanto é um lírio, também chamada de “flor do amor” e foi a primeira planta primaveril interessante que consegui achar por aqui. Primeiro vi uns galhos (eu achava que eram galhos, mas depois entendi que eram hastes) e mais adiante surgiram coisas azuis que deveriam ser as flores; fotografei e guardei um tempinho para pesquisar o nome. Aí começou o problema: ainda não inventaram um mecanismo de pesquisa onde você coloca uma foto e aí surge a informação; tive que usar muita criatividade e a ajuda de amigas, especializadas em botânica, para não falar besteira.

Bom... eis que, de repente, entra pela janela uma gigantesca curucaca trazendo uma carta dos estagiários revoltados com o que consideram “perseguição”. Na carta esclareceram que a “rinite” de Primavera foi criação de umas bruxas que, atualmente, moram no Museu do Mar lá de São Francisco do Sul. Diz a lenda que uma guria desejava saber quem era o amor da vida dela e, assim, elas criaram uma poção com hastes de agapanto que, jogada ao vento, faria todo mundo espirrar, à exceção do escolhido. A coisa deu tão certo que, obviamente, saiu do controle e o que tem de guria que aprendeu a tal poção e sai jogando por ai é algo impressionante. No final da carta, eles ameaçam uma paralisação com pessoas mascaradas, mídia alternativa, xingamentos ao governador, mas prometem não depredar nada. 

Pode uma coisa dessas?  


 

 Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 6 de outubro de 2013

Cartas para Julieta

"Querida Claire. ‘E’ e ‘se’ são palavras que, por si, não apresentam nenhuma ameaça. Mas, se colocadas juntas, lado a lado, elas têm o poder de nos assombrar a vida toda. E se… E se… E se… Eu não sei como a sua história terminou, mas se o que você sentia naquela época era verdadeiro amor, então nunca é tarde demais. Se era verdadeiro então, por que não seria agora? Você só precisa de coragem para seguir seu coração. É difícil imaginar um amor como o de Julieta, um amor que nos faça abandonar entes queridos, que nos faça cruzar oceanos. Mas eu gostaria de acreditar que se eu um dia sentir esse amor, terei coragem de persegui-lo. E, Claire, se não o fez naquela época, espero que ainda o faça um dia. Com todo amor, Julieta." (Cartas para Julieta – 2010) 

Julieta nasceu em Verona em 1930... 

- Narrador, você pirou de vez. Até eu sei que ela foi personagem de Shakespeare lá de “Romeu e Julieta”. 
- Fica quieto, quati, e para de ficar “secando” o banoffe de copinho que eu trouxe da confeitaria! 

… continuando... e veio para o Brasil, com sua família, fugindo da guerra. Era uma senhorinha muito simpática e, dizem, foi professora de italiano e pianista, o que não exerce mais atualmente devido a uma artrose na mão esquerda (mas ainda toca de vez em quando). Vários filhos, outros tantos netos e bisnetos, viúva, se divertia em alguns domingos naquelas reuniões familiares, onde a pasta era o prato principal que ela fazia questão de orientar na cozinha; em outros, apesar de italiana, frequentava o restaurante alemão local (e ia sempre muito bem arrumada, como outras senhoras também o fazem aos domingos). Além de cuidar da casa e do jardim, era frequentadora assídua da agência dos Correios daquela cidade interiorana. Apesar de alguns acharem ultrapassado, ela escrevia cartas para os parentes distantes que respondiam da mesma forma; computador nem pensar, e-mail era algo muito impessoal e vamos manter o método tradicional (mas ela tinha um smartphone, presente de sua neta, “temporona”, de onze anos, onde, além de telefonar, via alguns vídeos de música clássica postados no YouTube). 

Lá um belo dia, numa dessas visitas aos Correios, o gerente da agência perguntou se ela receberia uma carta que eles não sabiam o que fazer com ela. No destinatário estava escrito: “Para Julieta, Verona, Itália”, foi selada para envio local e não havia remetente no envelope. Como ele achou que isso era alguma coisa adolescente e ele conhecia uma “Julieta” de Verona, achou interessante o assunto. 

Já acostumada a pegar cartinhas para o Papai Noel, na época de Natal, ela aceitou. Aberto o envelope, era uma cartinha de uma menina de 11 anos que pedia conselhos à “Julieta”, na esperança de conquistar seu primeiro amor que nem sabia que ela era apaixonada; ela usava um codinome “Claire”, mas deixou o endereço no corpo da missiva. A senhorinha sorriu, aceitou o desafio e lembrou que lá na cidade dela existia um grupo de voluntárias que respondiam cartas semelhantes e que se chamava “Clube da Julieta”

Claro que adequou os conselhos para a idade da menina, algo do tipo “você é nova, tem muita vida pela frente”, essas coisas, e enviou pelo correio. A menina quando recebeu, ficou tão contente que contou a história para suas amigas que, aos poucos, foram contando para outras e, no primeiro mês, o Correio recebeu mais duas cartinhas endereçadas a “Julieta”. 

O tempo foi passando e o que começou como uma distração virou mega produção: no decorrer de 4 anos, a média mensal de cartas chegava a vinte e era a hora de pedir ajuda, onde entrou aquela neta do “smartphone”. Dona Julieta contou a história, causando um grande espanto na netinha além de um enrubescimento inesperado. 

- Ai, vó! É você que respondia as cartas nesse tempo todo? 
- Sim! Você já ouviu falar disso? 
- Claro, né, vó! A primeira carta foi minha! 

Bom... segundo a bola de cristal, pesquisando o futuro, uns vinte anos e milhares de cartinhas respondidas, com auxílio da neta e de uma bisneta, depois, Dona Julieta recebeu a visita da Hebe Camargo e foi para uma festa lá no Céu!



                      
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sábado, 5 de outubro de 2013

Outubro Rosa

A versão Disney para o início da Primavera, principalmente no desenho “Bambi”, é algo do tipo gelo derretendo, flores desabrochando a olhos vistos e passarinhos cantando sem parar, para desespero de corujas ranzinzas. Eu sei que o Shrek mora perto daqui (umas três curvas de vento antes), mas a floresta do desenho realmente eu ainda não encontrei. 

De qualquer maneira, teoricamente, a Primavera já chegou e sai de bicicleta para tentar encontrar umas flores para fotografar, já que o inverno foi implacável, deixou frio, chuva, muitas áreas inundadas por aqui e hoje fez um belo dia de sol. 

Bom... realmente ainda encontrei inundação (apesar do nível do rio ter baixado um pouco), mas as flores ainda não apareceram. O que realmente chamou a atenção foi um colorido diferente, bem bacana, nas praças, lojas e colégios, em alusão ao “Outubro Rosa” que é a época do ano onde se faz a campanha para a prevenção do câncer de mama. 

Resolvi, então, criar uma historinha: 

Diz a lenda que, no final do inverno, duas irmãs se reúnem com milhares de fadinhas e coordenam o plantio das flores. Primeiro criam um veranico, para animar, e depois uma chuvinha para regar. Nesse ano não foi diferente, mas elas não contavam com o Rock in Rio, onde classicamente chove e vira "rockinlama", que teria a participação de uma fada cantora que, providencialmente, deixou a chuvinha, prevista para o sul, ficar por lá, virou temporal, inundou tudo e carregou as sementes. 

Um pouco desoladas, as irmãs e as fadinhas começaram tudo de novo já sabendo que não daria tempo de coincidir com a Primavera. Nisso, apareceu a Emi (A Menina das Cores) que, por sinal, fez aniversário no dia quatro ("Nossa! Como está crescida!"). 

- Meninas! Já tive cabelo rosa e sobrou muita tinta! Pra coisa não ficar em preto e branco podem usar a vontade! 

E foi o que fizeram (do jeito fada, né) e o rosa espalhou-se por todos os cantos. Agora é só esperar um pouco que logos as flores aparecerão (elas garantem isso).

  
Boa Noite! Eu sou o Narrador.