domingo, 6 de outubro de 2013

Cartas para Julieta

"Querida Claire. ‘E’ e ‘se’ são palavras que, por si, não apresentam nenhuma ameaça. Mas, se colocadas juntas, lado a lado, elas têm o poder de nos assombrar a vida toda. E se… E se… E se… Eu não sei como a sua história terminou, mas se o que você sentia naquela época era verdadeiro amor, então nunca é tarde demais. Se era verdadeiro então, por que não seria agora? Você só precisa de coragem para seguir seu coração. É difícil imaginar um amor como o de Julieta, um amor que nos faça abandonar entes queridos, que nos faça cruzar oceanos. Mas eu gostaria de acreditar que se eu um dia sentir esse amor, terei coragem de persegui-lo. E, Claire, se não o fez naquela época, espero que ainda o faça um dia. Com todo amor, Julieta." (Cartas para Julieta – 2010) 

Julieta nasceu em Verona em 1930... 

- Narrador, você pirou de vez. Até eu sei que ela foi personagem de Shakespeare lá de “Romeu e Julieta”. 
- Fica quieto, quati, e para de ficar “secando” o banoffe de copinho que eu trouxe da confeitaria! 

… continuando... e veio para o Brasil, com sua família, fugindo da guerra. Era uma senhorinha muito simpática e, dizem, foi professora de italiano e pianista, o que não exerce mais atualmente devido a uma artrose na mão esquerda (mas ainda toca de vez em quando). Vários filhos, outros tantos netos e bisnetos, viúva, se divertia em alguns domingos naquelas reuniões familiares, onde a pasta era o prato principal que ela fazia questão de orientar na cozinha; em outros, apesar de italiana, frequentava o restaurante alemão local (e ia sempre muito bem arrumada, como outras senhoras também o fazem aos domingos). Além de cuidar da casa e do jardim, era frequentadora assídua da agência dos Correios daquela cidade interiorana. Apesar de alguns acharem ultrapassado, ela escrevia cartas para os parentes distantes que respondiam da mesma forma; computador nem pensar, e-mail era algo muito impessoal e vamos manter o método tradicional (mas ela tinha um smartphone, presente de sua neta, “temporona”, de onze anos, onde, além de telefonar, via alguns vídeos de música clássica postados no YouTube). 

Lá um belo dia, numa dessas visitas aos Correios, o gerente da agência perguntou se ela receberia uma carta que eles não sabiam o que fazer com ela. No destinatário estava escrito: “Para Julieta, Verona, Itália”, foi selada para envio local e não havia remetente no envelope. Como ele achou que isso era alguma coisa adolescente e ele conhecia uma “Julieta” de Verona, achou interessante o assunto. 

Já acostumada a pegar cartinhas para o Papai Noel, na época de Natal, ela aceitou. Aberto o envelope, era uma cartinha de uma menina de 11 anos que pedia conselhos à “Julieta”, na esperança de conquistar seu primeiro amor que nem sabia que ela era apaixonada; ela usava um codinome “Claire”, mas deixou o endereço no corpo da missiva. A senhorinha sorriu, aceitou o desafio e lembrou que lá na cidade dela existia um grupo de voluntárias que respondiam cartas semelhantes e que se chamava “Clube da Julieta”

Claro que adequou os conselhos para a idade da menina, algo do tipo “você é nova, tem muita vida pela frente”, essas coisas, e enviou pelo correio. A menina quando recebeu, ficou tão contente que contou a história para suas amigas que, aos poucos, foram contando para outras e, no primeiro mês, o Correio recebeu mais duas cartinhas endereçadas a “Julieta”. 

O tempo foi passando e o que começou como uma distração virou mega produção: no decorrer de 4 anos, a média mensal de cartas chegava a vinte e era a hora de pedir ajuda, onde entrou aquela neta do “smartphone”. Dona Julieta contou a história, causando um grande espanto na netinha além de um enrubescimento inesperado. 

- Ai, vó! É você que respondia as cartas nesse tempo todo? 
- Sim! Você já ouviu falar disso? 
- Claro, né, vó! A primeira carta foi minha! 

Bom... segundo a bola de cristal, pesquisando o futuro, uns vinte anos e milhares de cartinhas respondidas, com auxílio da neta e de uma bisneta, depois, Dona Julieta recebeu a visita da Hebe Camargo e foi para uma festa lá no Céu!



                      
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Nenhum comentário:

Postar um comentário