segunda-feira, 29 de junho de 2015

Uma Orelha

Há três anos eu escrevi um texto falando da minha comemoração de aniversário que praticamente ninguém leu (foram somente cinco os acessos). Naquele ano eu mudei o esquema e fui assistir o espetáculo “Varekai” do Cirque du Soleil, que era apresentado em Curitiba e foi uma das experiências mais fantásticas que eu já tive e o texto serviu para contar alguma coisa a respeito (ficou curioso? clique aqui). 

Esse ano eu repeti a dose do ano passado e fui pra Joinville. Aproveitei que acabei de pagar as prestações das duas últimas viagens grandes que fiz e fui comemorar meu aniversário num “tour” pelos shoppings, onde também buscava alguma coisa cultural que incluía cinema e livraria. 

Eu fui do tempo das bibliotecas reais, onde a gente pesquisava e muito (não havia Medline, Google, Lilacs, mas já havia computador na biblioteca, o que facilitava um pouco a coisa). Procurando qualquer assunto, você conversava com a bibliotecária, escolhia umas palavras inerentes à pesquisa e ela fazia a busca no computador (sem acesso à Internet). Umas duas semanas depois ela entregava um calhamaço com resumo de artigos e aí você é que filtrava o que interessava. Alguns dias depois, já com os títulos na mão, você retornava à biblioteca e pedia as revistas, onde encontraria os artigos. Como nem todas estavam lá, a bibliotecária te guiava até um aparelho parecido com um microscópio e você procurava tudo em micro-fichas, para localizar, em outras bibliotecas, os artigos. Dessa forma eu conheci a Biblioteca Central do Centro de Ciências da Saúde – CCS da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, depois, a Biblioteca da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Era legal? Sim! Só que dava muito trabalho. 

Aí, voltando à história anterior, no cinema não tinha nada que acrescentasse alguma coisa e nem que não acrescentasse, mas que ao menos fosse interessante; na livraria dei de cara com uma mesa onde havia uma montanha de livros para colorir, onde, outrora, eu encontraria aqueles livros que “piscam” pra gente de vez em quando; parti para as compras nas lojas de departamentos mesmo. 

Eis que, como ano passado, encontrei Alice (tenho que falar mais dela... vou fazer uma compilação de textos que escrevi e depois eu coloco aqui) que me presenteou com um livro de um autor que eu nunca ouvira falar. Eu respeito muito quando recebo esses presentes, pois é um carinho absoluto quando alguém te enche de cultura também. Foi o suficiente para refletir um pouco: que tal, ao invés de perder um bom tempo lendo baboseiras na Internet e assistindo séries da TV paga, ligar o computador na JB FM, ouvir Cássia Eller, Nando Reis, às vezes até os Mamonas, Michael Jackson, Christina Perri (ops...forcei a barra? vale a pena conferir no Google, então) e um monte de gente bacana e devorar o livro novo? Foi o que fiz; dele vou falar quando terminar de ler as 541 páginas (vai demorar um pouco), mas já acho que vai valer muito a pena, já pelo “pedacinho” que deixo na foto, junto com a Biblioteca da Fiocruz (clique na foto para ampliar). 

Uma vez me falaram para eu seguir as páginas do meu livro de vida e não a do livro dos outros. Meu livro não é de colorir, mas com certeza a cultura é o melhor estojo de canetinhas que a gente pode adquirir na vida. Ah! Mais uma coisa! Escrevi hoje no Twitter (sim... eu tenho isso... WhatsApp eu não tenho): "Se as pessoas amassem mais umas às outras e ouvissem melhor o que o outro tem a dizer, tudo seria bem melhor." Pois é...

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Resistir é inútil?

Existem coisas irresistíveis, principalmente no inverno: sair tarde da cama, um bom vinho, chocolate, aquelas roupas bonitas que a gente não usa no verão e, também, assistir muita coisa na televisão. O inverno também apresenta paisagens únicas, como a geada (eventualmente a neve) e o arco-íris que apareceu outro dia de manhã. 

“Resistir é inútil” é uma frase que ficou famosa nas sequências de Star Trek e era característica dos Borgs, seres alienígenas que assimilavam e destruíam as espécies que encontravam pela frente (os Vogons também falaram isso quando, inadvertidamente, destruíram o planeta Terra, mas quem quiser saber mais deve procurar no Google). O que nem os Borgs e nem os Vogons esperavam era a qualidade humana de resistir e sempre superar dificuldades; e eles nunca tiveram sucesso na conquista do nosso planeta (pelo menos nas séries televisivas). 

Outro dia, apresentando uma tirinha de quadrinhos que comparava as oportunidades que um rapaz rico teria em relação à uma moça pobre, eu li uma frase que me incomodou, pois falava "que ainda existem pessoas que acham que os menos favorecidos tem chances de conseguir crescer na vida". Por conta disso, resolvi contar uma historinha. 

Era uma vez uma menina que guardava carros. Vamos simplificar e chamá-la de “flanelinha” que é como as pessoas chamam os guardadores lá no Rio de Janeiro para receber algum trocado pelo serviço informal. Muito simpática e prestativa, entrou para o rol de pessoas ilustres e lendárias lá do Parque Municipal de Petrópolis, que fica em Itaipava, um desses lugares irresistíveis e de boas lembranças para seus frequentadores. Além da simpatia, que provavelmente herdou da sua mãe que também trabalhava no Parque, vendendo água de coco (ela ainda está por lá), sempre estava com um livro na mão que pegava na biblioteca do Parque (acho que ela leu todos os livros de lá) e conversava a respeito da sua leitura com quem quisesse ouvir. 

Um belo dia, ela estava triste e um sujeito, que deixava o carro aos seus cuidados e com quem conversava bastante, perguntou qual era o problema e ela falou: 

- Passei no Vestibular! - mas antes de receber os parabéns, ela continuou – Só que eu não tenho dinheiro para pagar a faculdade. 

O grande feito foi para uma das melhores e concorridas faculdades de Direito do Brasil. O sujeito achou que tal oportunidade não deveria ser desperdiçada e se propôs a “dar uma força”: patrocinou a matrícula, conversou com alguns amigos que se propuseram a ajudar também e foi com ela conhecer a instituição, quando ela deu entrada num pedido de bolsa de estudos. Quando ele olhou o formulário viu que era algo muito burocrático e que dificilmente ela conseguiria a bolsa. Mais tarde, em casa, ele teve a ideia de mandar um e-mail para o reitor da universidade, contando a história toda e pedindo que ele avaliasse o pedido de forma personalizada, principalmente considerando que, apesar de aluna de escola pública, ela conseguira nota muito maior do que vários outros candidatos que vinham da rede privada. A atitude deu certo e ela conseguiu bolsa integral durante todo o curso. Após a formatura, muito comemorada, ela passou a exercer a atividade e a última notícia que eu tive é que ela estava na Europa, de férias. 

“Ah! Ela teve sorte” - diriam alguns invejosos. Só que ela não teve sorte não: ela mereceu, ela estudou, ela leu todos os livros da biblioteca pública, ela trabalhou muito durante e depois da faculdade; ela “correu atrás” e resistiu aos problemas e os superou. Ela é exemplo, assim como tantos outros que vemos por aí. O que sinceramente espero é que se um dia os Borgs vierem assimilar nosso planeta que eles encontrem vários seres humanos como a menina flanelinha e, dessa forma e como nos filmes, nossa humanidade será preservada. Resistir não é inútil.  



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sábado, 6 de junho de 2015

A Mágica do Anel

Uma coisa que raramente acontece comigo é perder alguma coisa (inclusive a paciência). Acho que minha boa relação com aqueles gnomos e duendes brincalhões que escondem as chaves, celulares, carteira e outros objetos, associado a algum espectro obsessivo-compulsivo, deixam minha vida mais sossegada nesse aspecto. Claro que nem sempre isso acontece e levo sustos. 

Há alguns anos ganhei um anel de Alice que só tiro por exigência do trabalho, deixando em algum local seguro. Quarta-feira ele sumiu, mas antes que eu ficasse muito chateado com isso ele foi encontrado por uma colega de trabalho e voltou para o meu dedo. Claro que isso aconteceria: é um Anel Atlante e foi presente, daí ele possui muita energia mágica que teria efeitos adversos se outra pessoa ficasse com ele. 

Para quem não sabe, o Anel Atlante foi um presente deixado pelo Sacerdote Jua no seu próprio túmulo (bom... isso ele pediu para alguém fazer com certeza... talvez tenha deixado um testamento... vamos em frente) achando que alguém encontraria o local no futuro. Lá havia também uma placa de boas vindas e o anel original fora esculpido em arenito. Quem encontrou isso tudo foi o Marques de Angrain e o anel acabou nas mãos do seu assistente (estagiário às vezes se dá bem) Howard Carter. A história é meio longa, mas o que se sabe é que o Howard foi o único sobrevivente da maldição da Tumba do Tutankhamon e ele usava o anel original. 

Por conta dessa “quase perda”, meu pensamento viajou para Santiago de Compostela. A primeira vez que ouvi falar do assunto foi quando li “O Diário de um Mago” do Paulo Coelho, que fala sobre a peregrinação e o Caminho de Santiago. Quando cheguei lá, vinha de um dia anterior bem movimentado e cansativo e de uma viagem (de ônibus, vamos entender bem a coisa) de uns duzentos quilômetros a partir da cidade do Porto. Uns dez minutos de caminhada e o grupo chegou na Catedral e a entrada foi por trás, a partir da Praza das Praterias, pois haviam obras de conservação na entrada principal. A sensação é impressionante, pois vão pessoas de todos os cantos do mundo, alguns peregrinos que fizeram o caminho e o cansaço ajudou a criar o clima (os peregrinos estavam mais cansados). 

De repente vi um sujeito de uns dois metros de altura com roupa de bombeiro. A roupa não chamou tanta atenção, mas um ursinho de pelúcia, preso nela por um velcro, fez minha curiosidade extrapolar a cara de pau e fui lá conversar com o sujeito. Era um peregrino alemão que, obviamente, não falava português, mas falava bem inglês (que também não é bem meu forte) e ele contou que o ursinho era do filho dele, Nicolas (isso é uma coincidência, mas só para os fortes), mostrou retrato, contou da viagem e por incrível que pareça, ambos entenderam o que o outro falava. Lá é assim: independente da nacionalidade e do idioma, peregrinos e curiosos se entendem. 

Antes de partir para o almoço e degustar os "tapas" espanhóis e o “puelo”, tudo isso regado ao sensacional vinho Albariño, que foi oferecido pelo garçom baiano que nos atendeu, dei uma fuçada nas lojas de pratarias e souvenires do local, na busca de alguma coisa para a Bandeja Mágica aqui de casa e vi um anel muito interessante com a palavra “Ultreia” gravada. Claro que não comprei porque existem coisas (e os anéis estão incluídos nisso) que você precisa merecer ou ganhar, mas que você pode comprar se alguém disser pra você que é legal, já que essa pessoa te quer bem. Perguntei o significado e não entendi bem até ontem, quando fui pesquisar. Isso foi uma saga, já que eu não lembrava a palavra, mas vou pular os detalhes da pesquisa e contar o que descobri. 

Essa palavra era uma saudação entre os peregrinos. Na Wikipédia Espanhola (que preferi não traduzir) encontrei uma boa explicação: “ Parece ser que antiguamente los peregrinos se saludaban diciendo "Ultreia, suseia, Santiago" [Ánimo, que más allá, más arriba, está Santiago]. También se ha sugerido que cuando un peregrino saludaba a otro diciéndole "Ultreia" ("Vamos más allá") el otro le respondía con "Et suseia" ("Y vamos más arriba").” 

Vários blogs falam do Caminho de Santiago e encontrei também uma música, uma referência ao Codex Calixtinus, mas são histórias muito longas e esse texto já deu o que tinha que dar. O que importa é que se você um dia encontrar um anel, procure seu dono e devolva (como aconteceu comigo), ou então deixe no mesmo lugar que você o achou para que o dono o encontre. Se um dia fizer o Caminho de Santiago, compre o anel com a inscrição “Ultreia”, pois, com certeza, você será merecedor dessa lembrança. Por último, se você perder o anel no mar, leia esse meu outro texto, onde existe uma solução para o problema. 

  
Boa Tarde! Eu sou o Narrador.