sábado, 6 de junho de 2015

A Mágica do Anel

Uma coisa que raramente acontece comigo é perder alguma coisa (inclusive a paciência). Acho que minha boa relação com aqueles gnomos e duendes brincalhões que escondem as chaves, celulares, carteira e outros objetos, associado a algum espectro obsessivo-compulsivo, deixam minha vida mais sossegada nesse aspecto. Claro que nem sempre isso acontece e levo sustos. 

Há alguns anos ganhei um anel de Alice que só tiro por exigência do trabalho, deixando em algum local seguro. Quarta-feira ele sumiu, mas antes que eu ficasse muito chateado com isso ele foi encontrado por uma colega de trabalho e voltou para o meu dedo. Claro que isso aconteceria: é um Anel Atlante e foi presente, daí ele possui muita energia mágica que teria efeitos adversos se outra pessoa ficasse com ele. 

Para quem não sabe, o Anel Atlante foi um presente deixado pelo Sacerdote Jua no seu próprio túmulo (bom... isso ele pediu para alguém fazer com certeza... talvez tenha deixado um testamento... vamos em frente) achando que alguém encontraria o local no futuro. Lá havia também uma placa de boas vindas e o anel original fora esculpido em arenito. Quem encontrou isso tudo foi o Marques de Angrain e o anel acabou nas mãos do seu assistente (estagiário às vezes se dá bem) Howard Carter. A história é meio longa, mas o que se sabe é que o Howard foi o único sobrevivente da maldição da Tumba do Tutankhamon e ele usava o anel original. 

Por conta dessa “quase perda”, meu pensamento viajou para Santiago de Compostela. A primeira vez que ouvi falar do assunto foi quando li “O Diário de um Mago” do Paulo Coelho, que fala sobre a peregrinação e o Caminho de Santiago. Quando cheguei lá, vinha de um dia anterior bem movimentado e cansativo e de uma viagem (de ônibus, vamos entender bem a coisa) de uns duzentos quilômetros a partir da cidade do Porto. Uns dez minutos de caminhada e o grupo chegou na Catedral e a entrada foi por trás, a partir da Praza das Praterias, pois haviam obras de conservação na entrada principal. A sensação é impressionante, pois vão pessoas de todos os cantos do mundo, alguns peregrinos que fizeram o caminho e o cansaço ajudou a criar o clima (os peregrinos estavam mais cansados). 

De repente vi um sujeito de uns dois metros de altura com roupa de bombeiro. A roupa não chamou tanta atenção, mas um ursinho de pelúcia, preso nela por um velcro, fez minha curiosidade extrapolar a cara de pau e fui lá conversar com o sujeito. Era um peregrino alemão que, obviamente, não falava português, mas falava bem inglês (que também não é bem meu forte) e ele contou que o ursinho era do filho dele, Nicolas (isso é uma coincidência, mas só para os fortes), mostrou retrato, contou da viagem e por incrível que pareça, ambos entenderam o que o outro falava. Lá é assim: independente da nacionalidade e do idioma, peregrinos e curiosos se entendem. 

Antes de partir para o almoço e degustar os "tapas" espanhóis e o “puelo”, tudo isso regado ao sensacional vinho Albariño, que foi oferecido pelo garçom baiano que nos atendeu, dei uma fuçada nas lojas de pratarias e souvenires do local, na busca de alguma coisa para a Bandeja Mágica aqui de casa e vi um anel muito interessante com a palavra “Ultreia” gravada. Claro que não comprei porque existem coisas (e os anéis estão incluídos nisso) que você precisa merecer ou ganhar, mas que você pode comprar se alguém disser pra você que é legal, já que essa pessoa te quer bem. Perguntei o significado e não entendi bem até ontem, quando fui pesquisar. Isso foi uma saga, já que eu não lembrava a palavra, mas vou pular os detalhes da pesquisa e contar o que descobri. 

Essa palavra era uma saudação entre os peregrinos. Na Wikipédia Espanhola (que preferi não traduzir) encontrei uma boa explicação: “ Parece ser que antiguamente los peregrinos se saludaban diciendo "Ultreia, suseia, Santiago" [Ánimo, que más allá, más arriba, está Santiago]. También se ha sugerido que cuando un peregrino saludaba a otro diciéndole "Ultreia" ("Vamos más allá") el otro le respondía con "Et suseia" ("Y vamos más arriba").” 

Vários blogs falam do Caminho de Santiago e encontrei também uma música, uma referência ao Codex Calixtinus, mas são histórias muito longas e esse texto já deu o que tinha que dar. O que importa é que se você um dia encontrar um anel, procure seu dono e devolva (como aconteceu comigo), ou então deixe no mesmo lugar que você o achou para que o dono o encontre. Se um dia fizer o Caminho de Santiago, compre o anel com a inscrição “Ultreia”, pois, com certeza, você será merecedor dessa lembrança. Por último, se você perder o anel no mar, leia esse meu outro texto, onde existe uma solução para o problema. 

  
Boa Tarde! Eu sou o Narrador.

Um comentário:

  1. Boa tarde,
    Conseguiu descobrir o significado de cada um dos simbolos? Obrigada

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