sábado, 30 de julho de 2016

Refúgio

A grande dificuldade de quem produz conteúdo para algum tipo de público é conseguir agradar a todos ou a uma parcela significativa de fãs ou seguidores, principalmente se há interesse financeiro no meio disso tudo. O conteúdo que eu produzo é para consumo próprio, sem remuneração, e o retorno é o prazer que tenho ao escrever. Claro que alguns textos possuem um apelo maior, quando surgem aqueles contos com alguma aventura ou história de amor, mas gosto do dia a dia e de falar algumas coisas da realidade também. 

Desde 2011, eu falo do que leio e foram vinte e nove textos até agora, o que dá uma média bem razoável de seis livros por ano (ou até mais, pois algumas séries eu falei de todos os livros num único texto e tem aqueles que eu não escrevi nada). No geral, a origem deles é variável: muitos eu ganho, alguns peguei por empréstimo e outros eu compro quando eles “piscam” pra mim nas livrarias. Só que, dessa vez, o livro de hoje “piscou” na fila do caixa da Lojas Americanas, numa promoção por menos de dez reais. Depois dessa, sempre que quero um livro dou uma olhada lá primeiro, para ver se dou alguma sorte do gênero (“O Doador de Memórias” eu comprei numa situação dessas... se bem que, depois, comprei de novo no aeroporto, um claro sinal de demência senil a caminho, mas isso é assunto para discutir com os pelúcias aqui de casa). 

“Refúgio”: Harlan Coben (tradução de Fabiano Morais); São Paulo; Arqueiro, 2012. Típico livro adolescente que eu não daria para nenhum, pois as referências a temas como tráfico de mulheres e Auschwitz talvez não sejam de conhecimento dessa faixa etária. Por outro lado, pode não agradar muito ao público adulto por conta da mentirada que rola na saga (ahahaha... só rindo mesmo). 

Senão, vejamos: imagina um piá de 15 anos, com quase dois metros de altura, dirigindo um carro roubado do tio e que consegue entrar numa boate pornô e ainda bate num monte de caras feios e malvados, armados com facas e revolveres... vamos combinar que o autor "viajou na maionese", o que não deixou o livro menos interessante, mas não é todo mundo que gosta de coisas assim. 

Eu gostei: foi animado, divertido, previsível mas nem tanto só que tem o problema de ser o primeiro de uma série e o protagonista é um “spin-off” de outra (justamente a que fala do tal tio que teve o carro roubado). De qualquer forma é um autor de livros de mistério, não tão conhecido assim (já que não escreve autoajuda e nem chororô), mas muito premiado no exterior e que possui leitores brasileiros também. 

Hoje é sábado, o tempo está nublado, as atenções voltadas para as Olimpíadas e para algumas coisas relevantes jurídico-políticas; dia ótimo para desligar a televisão, ouvir a JBFM e ler um bom livro (preciso escolher qual será o próximo). 

 
Bom Dia! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Dia do Pediatra

A cada dia que passa eu filtro mais o uso do telefone celular: o famoso Whatsapp eu não uso (o que gera uma grande tranquilidade na minha vida); receber chamadas só dos contatos (às vezes eu atendo alguma outra ligação, mas é raro); mantenho o telefone no silencioso e sem vibrador (ou seja: só vejo de vez em quando). Aí alguém pergunta: “tem celular pra que?” A boa resposta seria alguma ótima grosseria, mas é meu jeito de usar e não interessa a ninguém. 

Hoje, entretanto, no intervalo do almoço, eu usei o celular para ver meus e-mails e o Facebook, e estranhei o grande número de notificações na rede social; dei uma fuçada e eram homenagens pelo Dia do Pediatra que eu nem lembrava que era hoje. Foi interessante porque tenho amigos de todas as especialidades que também tem dia próprio, mas o movimento da Pediatria foi infinitamente maior que o dos outros com muitas fotos, poemas, textos e tudo que é possível imaginar. Sem dúvida é uma especialidade (nem sempre considerada como tal), alegre, colorida, sofredora das mais diversas formas de bullying (superior até o dos sofridos pelos chamados “especialistas da letra O”) e que apresenta um processo de extinção (semelhante ao dos dinossauros) por conta do desinteresse dos mais jovens. 

Nos últimos trinta anos (ou mais), a Pediatria foi massacrada das maneiras mais diversas e criativas possíveis: a remuneração do plantão de pediatria era (talvez ainda seja) menor que a equivalente de clínica médica; em alguns locais, a chamada "produtividade" do neonatologista é menor que a do obstetra (não deveria ser tudo igual?); ao importarem a fórmula do “saúde da família”, excluíram o pediatra das equipes e a Puericultura virou pronto atendimento (quando muito); recentemente tentaram retirar o pediatra da sala de parto... enfim... é muito difícil  foda!

Só que existem aqueles abnegados que insistem no atendimento infantil, mesmo sabendo que a barra é a mais pesada que existe na medicina, pois a criança não fala (mas, no geral, também não mente) e os pais da geração atual são cada vez mais despreparados para cuidar das crianças e, ainda por cima, preferem o atendimento das urgências pediátricas às orientações do seu médico de escolha (antigamente não era assim). Continuando no raciocínio, ainda bem que existem a garotada preocupada em trabalhar direito desenvolvendo uma boa medicina (principalmente meus ex-alunos) e os mais antigos (como os dinossauros) que são os amigos de profissão. 

Vale a pena? Com certeza! Tive grandes alegrias, algumas homenagens de pacientes e de amigos, algumas frustrações, mas tudo isso faz parte. 

Uma dica? Se for fazer para enriquecer, esqueça e mude de profissão: PEDIATRA, com todas as maiúsculas, e rico são coisas que não combinam, a menos que sua riqueza seja um sorriso.

Das homenagens recebidas, uma das que mais gosto é o texto da Luisa e, para marcar o dia, vou deixar um desenho que ela fez pra mim em 2010, junto com um grande abraço a todos os PEDIATRAS pelo nosso dia.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Perfume de Laranja

Durante os nove meses de inverno o período atual é o mais frio, onde as temperaturas lunares predominam, os pinguins se unem ao boneco de neve e vão para a Bahia e, de vez em quando, até neva. O ruim da época é que a bicicleta fica guardada (bom... tem a turma que pedala assim mesmo, mas não é meu caso), os resfriados (dos outros) são mais constantes e as roupas são mais pesadas (o que não chega a ser um problema, pois são roupas estilosas e coisa e tal). 

A gastronomia marca presença e por aqui, como já falei na semana passada, sete restaurantes escolheram participar do Festival Gastronômico de Inverno, sendo que escolhi quatro para experimentar as delícias (às vezes nem tanto), levando em conta o menu e as referências do local; ontem terminei a minha lista e vou falar a respeito (ATENÇÃO: Se você está de dieta, sugiro parar por aqui, pois as cenas descritas são fortes.)

Certo do atendimento diferenciado e da qualidade indiscutível, fui apreciar o menu do restaurante Alecrim que oferecia uma entrada com creme de cenoura e croutons, seguida de escalope de lombo suíno ao barbecue, cebolas caramelizadas e espaguete ao molho de gorgonzola como prato principal e, de sobremesa, panna cotta de baunilha com compota de frutas vermelhas. A escolha não poderia ser melhor e o destaque ficou para criatividade da entrada, onde o “empratamento” contava com raspas de laranja distribuídas na pequena bandeja onde também havia a fruta natural em versão “mini”, mantendo um perfume constante que contrastou inclusive no prato principal. Para não perder o bom hábito, a presença do XPTO no creme de cenoura foi o toque à parte. Ah! Ainda foi servido um cafezinho tradicional (iguaria raríssima hoje em dia) 

Seguindo a rota gastronômica, fui ao restaurante Doces e Fricotes cuja proposta era o bom e velho fondue. O diferencial viria logo no menu, que contemplava entrada com fondue de queijo, só que servido, além de agradáveis pães de alho e de ervas finas, com batatas cozidas e legumes no vapor, particularmente cenoura e brócolis (Alice adoraria essa entrada “natureba”); como prato principal veio uma variante do fondue de carne com almôndegas de carne, frango e austríacas (essa última era puro XPTO) substituindo a iguaria habitual e evitando, na hora de fritar, aquela fumaceira comum quando usamos os filés fatiados. Para terminar tivemos o fondue de chocolate, acompanhado de frutas e brownie. 

Dois restaurantes e dois estilos distintos, mas ambos de excelência, com ótimo atendimento e menu criativo que vale a pena conferir. O Festival Gastronômico termina amanhã, mas ainda dá tempo e hoje eu vou até repetir a dose lá no Alecrim. 'Bora comer bem e ser feliz! 

  
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Por que não tem café?

”O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial" (O valioso tempo dos maduros - Mário de Andrade). 

Antigamente o cafezinho era agrado comum e indispensável nos restaurantes, após almoço e jantar. Com o tempo o agrado acabou, surgiram os caríssimos “espressos” e o hábito ficou perdido por aí. Ainda é possível conseguir, claro, mas nem sempre os garçons entendem o que você está pedindo. Para o leitor ter uma ideia, já pedi um cafezinho e fui servido com uma térmica de meio litro e um bule com leite, além de uns pãezinhos; noutra ocasião, ao pedir um espresso numa cafeteria, recebi uns vinte mililitros de algo sem gosto e frio. No exterior fica mais difícil ainda: dessa vez conheci o “café americano”, onde é feito um café normal que fica na cafeteira e, quando é servido, é diluído com água quente. 

A falta de critério é uma grande realidade nos tempos do “copy/paste”, onde substituímos a formação técnica pelo Google, e damos palpites em tudo sem a devida formação. Falei tudo isso porque também virei um palpiteiro no quesito gastronomia e acompanho os programas do gênero. Essa semana começou o Festival Gastronômico de Inverno, já na sua terceira edição, e escolhi dois restaurantes para começar os trabalhos. 

A primeira escolha foi um restaurante tradicional, de bom padrão, sempre vou lá nos festivais, mas dessa vez foi um desastre tamanho que vou pular o assunto e o nome do local. Da descrição à execução quase tudo deu errado à exceção da entrada, que veio boa porém em quantidade mínima. 

Minha segunda opção da semana foi um restaurante pequeno, perto de onde eu moro. A grande vantagem que vi, logo de cara, é que eu iria a pé e poderia tomar um vinho ou uma cerveja já que não estaria dirigindo. O cardápio agradou, mas não coloquei muita expectativa já que algumas pessoas não deram boas referências. 

O local é muito simpático: improviso bem feito e criativo num quintal com garagem, a acolhida não poderia ser melhor já que parece que estamos num churrasco da casa do vizinho. Além de ter ficado bem bonito, logo na entrada vemos a horta à direita de onde sai parte do que consumimos. Outra coisa bem legal é que foi o primeiro restaurante que alguém veio explicar o menu gastronômico ao invés de somente mostrar o folder (alguns, de outras vezes, nem isso fizeram). 

Como bom crítico que sou, formado em séries gastronômicas televisivas, aprendi que uma das exigências é servir o que ofereceu: se falou que é peito de frango grelhado não pode ser coxa a milanesa, e o grande erro dos restaurantes começa por aí. Confirmado meu pedido, surgiu o pão que era a base do caldo servido; longe de ser a proposta (sopa cremosa de legumes no mini pão italiano) essa entrada estava agradável e combinou bem com o vinho que pedi. Mais adiante veio o prato principal, onde fiquei na dúvida qual seria o destaque, pois a ideia era “entrecôte ao molho casa, massa talharim ao pesto e buquê de folhas para acompanhar” só que havia uma desproporção entre a quantidade de massa (muito boa por sinal) e a carne (bem temperada, ponto adequado, bom molho, mas ficou para segundo plano pela pequena quantidade). A sobremesa estava boa, mesmo que também não cumprisse com a proposta “crumble”. 

No “frigir dos ovos”, foi uma boa refeição e fiquei satisfeito. Acredito que a tendência é melhorar, evoluir e, quem sabe numa próxima, servir um bom café não é mesmo? 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Entendeu ou quer que eu desenhe?

”O homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim é o senhor de todos os animais. Põe-nos a mourejar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante.” 

A expressão que dá título ao texto de hoje é considerada, na pior das hipóteses, uma grosseria, caso o objetivo seja chamar alguém de “burro” quando isso recebe a conotação pejorativa de pessoa sem inteligência, idiota, ignorante ou qualquer outra coisa do gênero. Longe das ofensas, mesmo podendo causar tal efeito – o que não é muito difícil nos tempos atuais, onde tudo pode e vai ofender alguém – diria que é uma expressão utilizada por alguém que perdeu a paciência no ato de explicar o que lhe pareceu óbvio, e acaba sendo algo engraçado de observar. 

Mudar o significado das palavras é um artifício chamado "figura de linguagem" e a metáfora é a mais conhecida, sendo usada quando o objetivo é contar uma história de outra maneira, mantendo o contexto desejado. Dessa forma, George Orwell “sentou a pua” na Revolução Russa e nos deixou uma obra adaptável, perfeitamente, aos tempos políticos atuais em diversas regiões do mundo incluindo a nossa. Leitura que deixei para trás por absoluta falta de interesse no tema, já que fui criado durante a ditadura militar e a opressão fazia parte da dinâmica de sobrevivência diária. Informações censuradas, modificadas de acordo com os interesses dos dominadores, manipulação de ideias, autoritarismo e outras coisas que todos já ouviram falar também participaram do processo de alienação. Com o tempo, ficamos velhos, como o burro do livro, e passamos a entender melhor a informação que nos foi negada no colégio. 

“A Revolução dos Bichos” deveria ser leitura obrigatória nos colégios; uma fábula onde a metáfora é objetiva, criativa e educativa. Infelizmente a juventude não tem muita paciência para a leitura e aí entra o desenho! Em 1954 o livro foi adaptado para o cinema como desenho animado que deixo para meus leitores. Há outra versão, de 1999, que fica só o link em azul. 

Como última lembrança, deixo aqui um trecho da apresentação da versão digital do livro, escrito por Nelson Jahr Garcia, assim como um link para download: “Apesar de tudo o que alguns poucos homens já fizeram e lutaram, ainda estamos e vivemos sob os que insistem em dominar aquém da ética e além da lei.”



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Love songs are back again

- Oi! Tudo bom? 

Uma série de músicas foi escolhida, 
De forma totalmente aleatória, 
Para preencher algumas noites muito frias, 
Onde havia muita saudade e solidão. 

- Desculpe os trovões, mas foi uma forma de disfarçar minha chegada. 

Lembranças de um tempo muito antigo,
Onde havia um programa de rádio
Com aquelas suaves melodias preenchendo vários espaços,
E que acompanhavam os momentos de dúvida, de paixão e também de desilusão. 

- Vim trazer o bilhete, conforme disse que faria. 

Às vezes ela as escuta de novo. 
Entram por seus ouvidos como se fossem perfumes doces, 
Que trazem de volta aquilo que nunca foi esquecido 
E que ainda causam inúmeras emoções. 

- Preferi não confiar num portador... assim foi mais seguro.

Tristes canções de amor, histórias não resolvidas, 
Corações despedaçados, lágrimas que correram, 
Eventualmente algumas alegrias, 
Mas essas foram as mais raras. 

- Enfim... aqui está! Faça o que desejar com ele.

Hora de dormir... mais um dia se vai,assim como a visitante misteriosa.
Momento de sonhar mais um pouco, 
Lembrando-se das coisas boas, 
Aquelas que ainda não aconteceram. 

- Ah! - ela retornou - Um último detalhe! Escreva pra ele... ele vai gostar!

Outro trovão... apagão... cai a chuva fina... novamente sozinha... no bilhete somente um trecho de letra de música...

“That's it
There's no way
It's over, good luck

I've nothing left to say
It's only words
And what l feel
Won’t change”


E naquele lugar que nunca aconteceu...

- Onde você foi, Beatriz? 
- Como se você não soubesse...




Boa Noite! Eu sou o Narrador.