terça-feira, 26 de abril de 2016

Estação das Sopas

Eu considero “dia de folga” aquele dia onde você trabalharia, mas por motivos diversos você está em casa. Alguns acham que domingo é o dia de folga, mas eu diria que é o dia da pausa semanal, para quem não trabalha nesse dia. Enfim, ontem foi minha folga e isso complicou um pouco a coisa porque fiquei sem saber o que fazer para aproveitar tanto a véspera quanto o dia seguinte, que foi hoje. 

Acostumado à cultura “cidade grande” que antecedeu à dos shoppings centers, onde tudo fica aberto o tempo todo, ainda acho estranho o “lado B” de algumas cidades ou localidades. Explico: nas cidades menores, a área comercial é substituída, à noite, pelo movimento dos bares, restaurantes e equivalentes que se encarregam de manter a animação do lugar. O ideal mesmo, do meu ponto de vista, era associar tudo, prolongando o horário de funcionamento das lojas da mesma forma que os shoppings funcionam, só que a céu aberto. Como não é assim que a banda toca por essas bandas, o que conseguimos à noite é o circuito gastronômico, com ofertas variadas para todos os tipos de gostos e bolsos. 

Há algum tempo eu falei do meu gosto por sopas e hoje, aproveitando que tive a folga ontem e não fiquei de “ressaca” de trabalho, fui experimentar a “Estação das Sopas” do restaurante “Doces e Fricotes”, já que o tempo chuvoso atrapalha as pedaladas do final de tarde. 

O restaurante é excelente e, geralmente, eu almoço lá aos domingos. Possui menu personalizado à tarde/noite e a qualidade do que serve é indiscutível, já que lá é um misto de padaria/confeitaria/restaurante/lanchonete e boa parte das iguarias é produzida lá mesmo. O ambiente é agradável, a decoração é repleta de lembranças de viagens e de amigos e faz parte do roteiro gastronômico/turístico local. Apesar disso tudo, não vai muito bem nos festivais gastronômicos e seu buffet de almoço é meio irregular, mas nada que comprometa a performance do local de forma definitiva. 

O interessante dessa “Estação das Sopas” é que você fica meio sem jeito, inicialmente, de levantar várias vezes para provar de tudo e repetir quanto quiser, mas quando você vê que não é o único a fazer isso, aí a coisa sai completamente do controle. Como o restaurante é experiente, a temperatura das sopas estava perfeita e você não corria o risco de “queimar o bico”. Para acompanhar, pães de produção própria, queijo, salsinha, umas pastinhas e o fechamento foi com uma primorosa calda quente de amoras. 

Inverno... frio e gordices... bicicleta que é bom nada... melhor tirar as coisas de cima da “parada”, arrumar outros cabides e pedalar na sala mesmo.  

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sábado, 23 de abril de 2016

Um conto antes do frio

A tecnologia é uma coisa muito legal, mas tira a graça de certas coisas. Lá no “bota antigamente nisso”, a previsão do tempo era feita com observação da Natureza e com os ensinamentos da vovó: 
- Leva guarda-chuva!
- Ah! Vó! Nesse dia lindo? 
Chuva na certa 

O inverso também era verdade:
- Comprei um guarda-chuva! 
- Que bom! Agora não chove tão cedo! 

Enfim... diz a lenda que a "friaca" invernal está a caminho e que sentiremos um puta grande frio nos próximos dias. Por conta disso, vou contar uma historinha, não sem antes deixar pra vocês a visão da “pedra da previsão do tempo” (você pode fazer algo do gênero para sua casa também). 



Num lugar tão tão distante... alguns Contos de Fada começam assim... 

A neblina clara da manhã de sábado, prenúncio de dia de sol, rapidamente foi afastada com a chegada das meninas. 

- Oiiiii, Mago! - no seu clássico uníssono. 

Deborah espantou as últimas nuvens e o brilho do sol, através da janela, acordou o Guri que logo pulou da cama, trocou de roupa e saiu ao quintal para brincar também. Enquanto rolava a folia de folguedos, os yetis guardiões das meninas optaram por jogar cartas com o assustado guardião (“não sei como que eu aceitei tomar conta dessa fronteira transparente”); o dragão, não muito satisfeito com o barulho dos fogos de artifício em homenagem a São Jorge, preferiu ajudar o gnomo no jardim. 

O dia passou rápido, o sol se pôs lindamente e o frio agasalhou toda a casa, obrigando o uso de toucas, casacos e meias. Em dado momento, um trovão e o tal do apagão. 

- Ops... - com o rosto vermelhinho, Adrielle se desculpava... blecaute total! 
- Lumus! Vamos procurar velas! - Ana remexia nas gavetas. 
- Tiens! Étoiles et la lune! - Deborah providenciou a iluminação de outras fontes. 

Admirados com a beleza e com o poder da Natureza, e de um jeito bem aconchegante, reuniram-se em volta do fogo providencial da lareira para comer uma “pasta”. O Mago foi o primeiro a contar histórias de seus tempos de criança, onde apagões eram comuns e celebrados com passeios nos caminhos só iluminados pelas varinhas, pelas estrelas e pela lua.

- Ah! Bons tempos aqueles, onde alguns que já se foram nos davam as mãos para que não caíssemos e nos ensinavam a ser feliz! 

Após a sobremesa de doce de leite, o Narrador fez as vezes. 

Era uma vez... 

Alguém que procurava por seu bem querer que nem ao certo sabia onde estava, muito menos que estava procurando, pois talvez tivesse desistido de algumas coisas. Tinha medo da decepção, do sofrimento, da desilusão, dos momentos de dor e de, no final, experimentar de novo a solidão. 

Um belo dia, seu bem querer veio ao seu encontro, mas era muito diferente do que poderia imaginar: não era um cavaleiro errante e muito menos montava um cavalo baio; era somente alguém que a amava, que adorava suas histórias, que sentia sua falta quando ela partia e que morreria de dor quando a visse em outros braços... 

Mas seu bem querer também tinha seus medos: da perda, do desencanto, também dos momentos de dor e de, no final, experimentar de novo a solidão... 

A luz voltou, alguém sugeriu um café e um serelepe pulou a janela e saiu pelos campos... será que foi buscar pinhão? 

  
Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Compilação dos textos Blackout e Bem Querer em versão livre.

domingo, 17 de abril de 2016

Releituras

Foi lá na adolescência que eu descobri o poder de fazer algumas coisas sozinho. Por conta de alguma trapalhada típica da idade, comecei a frequentar as salas de cinema desacompanhado e daí para outros espetáculos de lazer foi um pulo. Com o passar dos anos a coisa foi “piorando”, corri o risco de receber a crítica de ser onipotente e individualista, mas essa liberdade tem lá seus méritos e hoje, se for algo de lazer que me agrade, vou sozinho em qualquer situação, apesar de não enjeitar companhia. 

Ainda lá na adolescência, certamente antes de ir ao cinema sozinho, fui apresentado a exemplos de individualismo, vindos da ficção, sendo o Batman e o Superman os maiores ícones. Ambos órfãos, poderosos, encontraram no heroísmo e no combate ao crime, a solução para a solidão. Bom... mais ou menos... o Batman tinha aquele lance lá com o Robin, sendo o Alfred o grande acobertador da situação; o Superman pegava a Lois Lane de vez em quando, era uma coisa mal contada, ai ele deu uma sumida, ela casou com outro e teve um filho que tinha superpoderes (donde se conclui que seu marido recebera um super-chifre enquanto ela recebia uma super... deixa pra lá). 

Outro dia eu comentei da Coleção Vaga-Lume e tive a oportunidade de ver o filme “O Escaravelho do Diabo”, baseado no livro do mesmo nome. Nessa releitura para a telona houve uma adaptação contemporânea, incluindo telefones celulares e computadores, além de temas como bullying e déficit de atenção, que não comprometeu o conteúdo. O filme é ótimo, mas ficará pouco tempo em cartaz por conta do público que não tem ideia da importância da literatura infantojuvenil ali representada; na sessão que fui eu era o único espectador (onipotência e individualismo no nível “hard”). Claro que isso também tem outras causas além da falta de cultura : maior que ela ainda existe a falta de dinheiro mesmo, fruto da situação atual do país (quem vai sozinho ao cinema gasta menos). 

Voltando aos heróis, resolveram fazer um filme complicado, onde o Batman está velho e carcomido (não menos poderoso) e que resolve brigar com o jovem Superman. Seguindo a tendência de ignorar os fatos históricos e criar ódio entre os iguais, a história muda tudo o que se sabia a respeito da Liga da Justiça e até inventaram uma Mulher Maravilha “modelo Victoria's Secret” que é lindíssima, mas de fortona e gostosona não tem nada (Ah! Bons tempos da Lynda Carter!). Pra quem chegou agora, aquela turma da Geração Y, Z ou lá o que seja isso, talvez não faça a menor diferença. Fica a crítica por conta da minha turma que via essas séries na televisão como coisas inocentes e engraçadas, assim como nos quadrinhos em preto e branco. 

História... cultura... educação... quando teremos isso de volta? O alfabeto acabou, mas os jovens estão por aí. Vamos torcer para um país melhor, com coesão, sem egocentrismos, onde os representantes eleitos pensem mais no futuro da nação do que nos seus interesses pessoais. Deixemos, por fim, o “circo” para os personagens fictícios que alegram nossos momentos, solitários ou não, de lazer. Para finalizar, uma frase perfeita (como sempre) da amiga Andréa Pachá: “Será que depois desse triste espetáculo, seremos capazes de votar melhor e exigir a reforma política?” 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sábado, 2 de abril de 2016

Cápsula do Tempo

Quando estive em Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, a cidade funcionou como pouso para visitas a outras cidades, mas fizemos um pequeno City Tour e conhecemos um santuário religioso. Estávamos cansados, o dia estava muito quente e a visita foi rápida até porque ameaçava chover. O local era bastante interessante, recomendo, mas foi lá que eu vi uma placa indicando o que seria uma “cápsula do tempo”. O assunto passou “batido” e tentei encontrar alguma coisa na Internet, mas não consegui e a imagem ficou somente na lembrança. 

Cápsulas do tempo são aquelas coisas que contém outras várias coisas de uma determinada época, cujo objetivo é ajudar aos E.T.s que pesquisarão o planeta após a hecatombe nuclear ou a colisão com o cometa ou o governo do... ops... aqui não tem política (ao menos dessa forma). Enfim: depois da destruição do planeta! No geral essas cápsulas não possuem valor tão significativo quanto as pirâmides ou as ruínas de Pompeia, mas existem várias espalhadas pelo mundo. 

Há algum tempo eu recebi um presente da amiga mais antiga que foi o livro que terminei de ler semana passada: “Os quatro amores” de C.S.Lewis. Opa! Reconhece o nome? Sim! Ele mesmo! O criador de Nárnia e suas crônicas; aquele que tomava cerveja com o Tolkien que criou a Terra Média. Que emoção! Esses sujeitos foram o máximo porque seu poder de criação vai muito além da imaginação. O mais interessante é que além do sucesso com a literatura infantojuvenil, Lewis também era filósofo, professor universitário e escreveu outros livros, onde a sua religiosidade era mais evidente e “Os quatro qmores” é um deles. Lançado em 1960, não é um livro para discutir conteúdo, pois é bastante filosófico e um pouco complexo para aqueles que somente “devoram” os livros sem perceber as entrelinhas. 

Minha querida amiga “resenhou” o livro da seguinte maneira: “ Amor necessidade, amor doação, amor afetivo por tudo que é nos é caro e familiar, amor erótico, amor amizade, amor parental, amor a Deus e amor de Deus - o maior de todos, o mais perfeito, o mais confiável, o único infalível. O autor aponta as belezas e as limitações de todos os tipos de amor para demonstrar a superioridade do amor divino. [...] como diz C.S. Lewis ao falar do amor necessidade X amor doação, Lewis se pergunta qual seria o mais elevado e conclui que amar por precisar do outro não é necessariamente um amor menor do que o amor doação, porque implica na humildade de se aceitar incompleto, carente e humildemente necessitado de outros eus, e, completa o autor, não precisar de nada nem de ninguém seria apenas o equivalente do máximo de individualismo e onipotência e não de altruísmo ou de abnegação ou de não "usar" ninguém em benefício próprio só para suprir carências ou por acomodação. Então, todas as formas de amor tem sua razão de ser e sua beleza. Amar a natureza, os animais de estimação - ele fala de tudo isso - é importante, mas não é suficiente. E se a vida só nos frustra e magoa, não desistamos do amor!"

Legal, né? Da mesma forma que uma cápsula do tempo, os livros nos remetem ao momento em que foram escritos. É importante lembrar que “Os quatro amores” foi lançado numa época que as mulheres ainda não tinham queimados os sutiãs e os animais domésticos não frequentavam pet shops; alguns trechos podem causar alguma estranheza sem prejudicar o contexto geral da obra (tem que ler sem ativismo); outra coisa importante é que a tradução deixa um pouco a desejar (lembrar que vem do inglês europeu e não do inglês americano). 

Três irmãs brincavam num jardim da montanha do Mago... 
A mais velha, Deborah (a abelha), cuidava das menores 
Ana (a Bia) e Adrielle (a Dri)... 
Elas faziam formas na areia, cobrindo com pétalas de rosa... 

O Mago aproximou-se... 
As mãozinhas ágeis das menores (Bia devia ter uns 8 anos e Dri uns 4) 
Criavam triângulos entre triângulos e formavam estrelas de um raro brilho 
Que a mais velha elevou-as a flocos de neve (ela tinha um grande e misterioso poder..). 

- Ah! - disse o Mago – Fractais! 
As pequenas riram e explicaram em uníssono: 
- Amor, velho Mago! 
- Incondicional! - retrucou a mais velha. 

Ele sentou e começou a observar. 
Formas semelhantes e de complexidade infinita eram criadas, 
Iluminando os sonhos que não seriam vistos 
Ou as flores, esquecidas, dos caminhos percorridos.

Perguntou quem eram. 
"- Somos o que nunca aconteceu... 
O que foi amado e que nunca pediu o amor... 
O que amou, infinitamente, no universo da imaginação."  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Céu de Outono

Passar um tempo fora e mudar algumas rotinas, substituindo a mesmice por lugares agradáveis numa mescla de mar e montanha, aguça os sentidos na revisão de conceitos e contemplação dos poderes da natureza. 

Tenho uma amiga, nascida sob o signo de Áries, que dizia que “o ariano não sabe o que quer, mas tem que ser agora”; isso funcionava bem com ela, não posso generalizar para todos os nascidos entre 20 de março e 20 de abril, mas é uma característica do Outono que começou outro dia (sei lá quando porque este ano foi bissexto e coisa e tal). 

Sendo a terceira parte (uma delas é a primavera e a outra é o verão) do tempo que resta depois do inverno que dura nove meses aqui por essas bandas (bom... ano passado teve o tal do El Niño e a coisa não foi bem assim... mas no geral é isso mesmo) ele reúne características próprias de insegurança, insatisfação, instabilidade e tudo que é “ins” que você quiser; ontem mesmo o dia foi quente e com céu azul; em dado momento, como diria o Eduardo Dusek, “o dia virou noite”, caiu um temporal, no meio dele o céu ficou totalmente amarelo e brilhante, mas não apareceu o arco-íris; e choveu a noite inteira, amanhecendo com neblina e virando um belo dia de sol. 

Com tudo isso, pensei nesse projeto de documentar os brilhos e cores da estação, mas a variedade é enorme e, às vezes, as mudança é tão rápida que não dá pra fotografar. Uma boa alternativa seria filmar com recursos tecnológicos, mas não os tenho e nem é meu objetivo. Acho que a melhor forma é cada um observar por si mesmo e guardar a imagem na memória. De qualquer maneira, consegui fotografar alguma coisa (ao vivo é infinitamente mais bonito) e montei o vídeo que coloquei também no Youtube. A música eu não sei de quem é e se alguém souber peço que coloque aí nos comentários. 

Primeiro de abril é o Dia da Mentira, mas a verdade da Natureza é indiscutível aos nossos olhos.



 

Boa Noite! Eu sou o Narrador.