sexta-feira, 31 de julho de 2015

Em noite de Luna Azul

Noite de lua cheia sempre é estimulante, principalmente numa lua azul. Melinda nasceu num desses dias, mas essa história eu contei no texto “Labirintos” e não é dela que vou falar não. 

Aqui, por essas bandas, acontece, novamente, o Festival Gastronômico de Inverno e escolhi três restaurantes de hotéis e um estabelecimento que é misto de sanduicheria, delicatéssen, hambúrgueres gigantes e muita simpatia. Já foi o tempo que eu encarava dois “Big Bob's” de uma vez só e a ideia de sanduíches gigantescos não me animou no ano passado, mas agora eles apostaram num Fondue sur baguete, que estava sensacional como prato principal, tendo de entrada um Puff de presunto parma italiano com cerejas e, de sobremesa, uma situação de chocolate servido numa taça com cerejas ao maraschino. 

Já escrevi dois textos sobre esses festivais que você pode conferir aqui e aqui e pretendia fazer o mesmo, mas fiquei tão impressionado com as iguarias de hoje que adiantei a avaliação. Ambiente simples, simpático e atendimento personalizado. Pedi, além do prato, uma limonada que, para manter a tradição local, veio numa jarra imensa. Deliciosa, além do limão, também tinha XPTO, ingrediente secreto que ninguém sabe muito bem o que é. No fechamento, o tal do cafezinho. Ah! Quase esqueci: Casa Luna foi o local. Para noite de “luna” azul, melhor opção não seria. Fica a dica, pois o festival continua na semana que vem. 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Plantão Médico

Naquele tempo, o teto de gesso desabar em cima das nossas cabeças e não haver climatização em funcionamento nas salas não eram eventos incomuns (em dias de chuva os problemas eram outros). De qualquer forma, a grande escola médica era mais parecida com um campo de guerra do que com salas repletas de cadeiras e se chamava Pronto Socorro. 

Minha primeira experiência nesse cenário foi no interior, onde havia um médico boa gente que trabalhava num pequeno hospital e onde nada acontecia a menos que ocorresse uma briga de foice e um grande acidente automobilístico. 

- Você sabe suturar? Não? Fica, então, com a cabeça do foiçado que é mais fácil de fazer. (não vou contar os demais detalhes mórbidos do dia que aprendi essa técnica milenar). 

Os tempos mudaram, surgiram novas tecnologias, problemas antigos continuaram insolúveis (como pacientes em corredores, falta de material básico e essas outras coisas que aparecem todo dia na TV), mas a gente aprendia na marra ou desistia. 

A televisão resolveu imitar a realidade: surgia então o "E.R.", (Plantão Médico), série que durou 15 anos e que mostrou como era a coisa lá nos lados ditos desenvolvidos. À exceção da tecnologia mais avançada que a nossa, a praça de guerra era muito semelhante e posso dizer que já fui um “Carter” da vida. 

O canal Warner, comemorando 20 anos de existência, resolveu ressuscitar a série, isso trouxe muitas lembranças e cada personagem representou algum momento da minha formação. Deixo aqui essa dica, boa para quem viveu naquela época, lamentando que a formação atual esteja muito aquém daquela que recebemos no nosso tempo. Hoje há muita teoria tecnológica, muita reclamação e pouco aprendizado real. Alguém achou que era fácil? Sabe de nada inocente... 



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Nas Terras Guarani

- Em sonhos, imaginei a igreja com dois campanários e, dentro dela, vários vitrais. 
- Sim, mas e se nada fosse destruído e o projeto seguisse em frente? 
- Tudo tem coisas boas e coisas ruins: o bom é que seria outro tipo de colonização; o ruim é que não estaríamos aqui. 
- Como assim? 
- Os Guarani não permitiam casamentos fora da comunidade. 

Nos mais de dois mil quilômetros percorridos (ida e volta), para mais uma vez entender que o que nos contaram no colégio não chegava nem perto da realidade, fiquei pensando como escrever este texto. Imaginei uma situação extraterrestre, algo com os Borgs assimilando tudo, mas resolvi começar com o diálogo que tive com a guia Romina, no final da visita à terceira Redução Jesuítica do nosso roteiro.

A emoção foi o ponto marcante de tudo que aprendemos, primeiramente com a Vera lá em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul (parada obrigatória para entender as demais), um pouco menos com o Julio em San Ignácio Mini (ele era mais politizado e fazia um show próprio à parte) e terminando com a Romina em La Santísima Trinidad del Paraná, no Paraguai. 

Pulando os interesses político-religiosos da época, a ideia era muito interessante: os jesuítas trouxeram um projeto arquitetônico/cultural, os Guarani (em maiúsculo e sem o “s” - explicação da Vera) aceitaram e houve uma troca de informações, sem maiores interesses na assimilação e/ou destruição das culturas (quase uma simbiose cultural). O que chamava a atenção era o dom da música e das artes que foi encontrado, pelos jesuítas, naquela população, teoricamente, sem qualquer instrução para os padrões da época. 

Como a coisa funcionou, chamou muito a atenção e aí vieram os políticos burocráticos junto com a ganância, tudo foi destruído e muitos foram mortos. Só que a Natureza foi sábia e as florestas cobriram o pouco que restou, para que, um belo dia, nossos contemporâneos descobrissem a história através dos monumentos arqueológicos. 

Eu poderia contar muita coisa, mas aí perderia a graça. Deixo algumas dicas: começar pelo Brasil com um bom guia, pois as explicações são indispensáveis quando você atravessa as fronteiras e o bom português é trocado pelo espanhol; ter muita paciência nas aduanas e não esquecer de levar a carteira de identidade da Secretaria de Segurança Pública do seu estado ou passaporte (carteira de motorista, OAB, CRM e outros não são aceitos); cuidado com o câmbio caso você use real ou dólar, principalmente na moeda paraguaia. 

No mais fica aqui meu agradecimento ao Raul e à Elise, da Race Turismo, e aos demais passageiros que tornaram a viagem muito agradável e divertida.

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Era só uma menina!

Antes das redes sociais, o convívio virtual limitava-se aos sites de bate-papo (evite-os) e ao IRC, que evoluiu para os mensageiros instantâneos, como o saudoso ICQ substituído pelo MSN. Hoje em dia isso é só saudosismo mesmo, mas foi uma época legal, onde muitas amizades começaram. Surgindo o ORKUT vieram as comunidades e a prática de “fuçar o ORKUT alheio”, onde também amizades começaram, e foi lá que eu conheci a Emi. 

Vou contar essa história, vou colocar um texto dela na sequência, mas o motivo de falar isso hoje é que ela lançou um canal no Youtube. Ela já fez diversos blogs e, atualmente, escreve o “Misturista”. Emi é uma fotógrafa de mão cheia e suas imagens multicoloridas fizeram com que ela ganhasse o apelido de “Menina das Cores”, lá no “Contos de Fada?” 

A história, então, começou lá em 2006 quando vi seus primeiros trabalhos e foi mais ou menos assim que eu escrevi: “Olhando por ai encontrei, talvez, um anjo que procurava alguém pra guardar. Talvez uma menina algo só, procurando, no tempo e nos sonhos, a cura para a solidão (seria ela verdadeiramente só?). Já não era tão criança, gostava de música (principalmente do EngHaw) e gostava de sonhar... Se bem que, dizia ela, “não há muito mais tempo para sonhar porque o tempo escorre dos dedos das nossas mãos”. E eu de longe observo... ainda tenho muito que aprender.” 

Num outro dia, veio a pérola “Procura-se minha esperança” que copiei de seu blog antigo e que transcrevo abaixo. 

"Começou como um conto de fadas. A brisa leve entrava pela janela, movia o cata-vento em cima da escrivaninha e acabou trazendo consigo um barulho de asas. A princípio achei ser a minha imaginação, mas repetiu-se e repetiu-se... Foi assim. Ela entrou pela janela numa noite em que eu não estava muito bem. Lá estava eu com minha fé machucada enquanto ela pulava agitadamente pelos espaços do meu quarto. Talvez quisesse chamar minha atenção. A minha descrença e a solidão já eram tamanhas que resolvi dar a atenção que pedia. 

Sorri por alguns segundos. Dizem que a esperança traz consigo soluções. Acreditei por alguns segundos até perceber o quanto ela era pequena, frágil e, de tão inquieta, deduzi que não estava bem. Lamentei comigo mesma. Era isso... Tudo estava tão errado que até a esperança que me havia sido enviada estava machucada. 

Podia ter tido qualquer reação. Ignorá-la, espantá-la, tentar incorporá-la completamente. E tudo que consegui fazer foi ficar olhando, olhando, até começarmos a conversar. Não que ela fosse de muitas palavras, pra ser sincera, não disse nada. Mas entendi que seu silêncio era diferente de muitos outros silêncios aos quais me habituei. Ela me ouviu atentamente até que eu entendi o que devia ser feito. Eu tinha que ajudá-la, tinha que fazer com que ao menos aquela esperança conseguisse sobreviver. Tarefa grande demais pra mim, talvez. 

Estudei um pouco sua espécie, sua raça, seu credo. Fui tão longe que até retirei da minha própria lembrança alguns nomes estranhos pra uma esperança tão fraca. Ofereci alimento, ela precisava ficar forte. Não aceitou. Continuamos a conversar até que ela, para o meu espanto, começou a deliciar-se com o banquete de forças. Chorei. Foi bonito, meio sublime. As lágrimas simplesmente despencaram. Não sei se chorava por mim ou pela mágica. Não faz muita diferença. 

Tive uma companheira pela noite. E no dia seguinte tiramos fotos, nos divertimos, rimos, compartilhamos alguns medos. 

Certo é que durante a noite tive uma força que não tinha há muito tempo. Depois de fitar o céu por horas a fio, escrevi tudo que vinha a minha cabeça, esvaziei muitos e muitos pensamentos. Deixei alguns guardados, mas sei que, quando fui dormir, lá estava ela do lado da minha cama... Lá estava minha esperança... 

Adormeci. Sonhei muitas coisas das quais não me lembro e acordei com um som diferente de tudo que eu já ouvi. Era baixo, triste, melancólico. Por alguns segundos eu pensei comigo que aquele era o som que definia exatamente todo o meu ânimo nos últimos dias. Se existissem Fênix acredito que seu canto seria como aquele. Mas só me dei conta de que tudo aquilo era real alguns segundos depois e, no choque de realidade, levantei-me assustada pensando se minha esperança estava bem, se era ela que estava cantando, se eu não estava machucando-a. Mas o som cessou exatamente na hora em que levantei. Sumiu. 

Minha esperança havia desaparecido. 

O quarto estava fechado, sem nenhum espaço pelo qual alguém daquele tamanho poderia fugir. E ela não estava em lugar algum. Não adiantou procurar, não adiantou chamá-la. Ela simplesmente sumiu. Sumiu como seu canto. Seu nome foi Elyan" 

Dito tudo isso, agora é hora de conhecer essa nova fase da “Menina das Cores”. Parabéns, Emi! Espero muito sucesso nessa nova aventura.  



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Falando de Alice

O beijo (original em alemão: Der Kuss) é um quadro do pintor austríaco Gustav Klimt. Executada em óleo sobre tela, medindo 180x180 centímetros, entre 1907 e 1908, é uma das obras mais conhecidas do Klimt, graças a um elevado número de reproduções.” (Fonte: Wikipédia) 

Escolhi essa imagem para ilustrar o texto, pois hoje vou falar de Alice e ela gosta dessa pintura. Também gosta de Frida Kahlo, do Rio de Janeiro, de pizzas naturebas e outro dia falou que “tinha um lado doce”, mas ela o teria comido (isso foi uma piada). Alice é aquela que mora no final da estrada de flores amarelas. Alice também gosta de girassóis. 

Quando a conheci, ela gostava de gatos e se transformava em uma, às vezes. Continua gostando dos gatos e até tem um em casa que convive harmoniosamente com um pequeno periquito (isso foi redundante?). Já falei dela várias vezes e resolvi tornar isso um “marcador” aqui no blog. Tentarei condensar dois textos que escrevi no “Contos de Fada?”. Será que consigo? Vamos tentar, então: 

Doce Alice que cuida de duas fadas. Sempre cuidou tão bem que hoje elas já ganharam suas asas e voam atrás de seus destinos. Acho que nunca encontrei figuras tão gentis, tão inteligentes e tão decididas como as duas. Frutos de Alice! 

Nunca tive medo de suas ideias, talvez um pouco diferentes da grande maioria (outra redundância), mas ela sempre foi muito sincera. Quando estudou bordados, contou que loucura vem da cabeça dos outros. Por conta disso ela cuida, até hoje, da caixa de costura da minha velha mãe. 

Alice é artista: gosta de imagens e as faz muito bem. Outro dia ela resolveu usar a parede de sua casa como tela e desenhou passarinhos e uma árvore e eu ainda tenho que ver isso de perto (editado: já fui lá ver!); teve aquela vez que fotografou andorinhas fazendo música nos fios da rede elétrica e isso virou música mesmo que eu também ainda tenho que ouvir. 

Doce Alice que aproveita as horas de silêncio e preguiça, para ouvir o barulho do vento e o brilho das sombras; da sua janela fotografa arco íris e também a lua quando está cheia (se bem que lá também ela encontra o gato, em outras fases). 

Um dia, Alice olhava a lua em crescente, deitada num dos galhos de uma árvore encantada. Encontrou o gato que sorria através da lua e, nesse olhar, invocou seu feitiço, parecendo não se importar que os outros a escutassem. 

“Estranho você chegar assim sem avisos; 
 Até senti as tais borboletas que você bem sabe defender. 

Como pequenas luzes, saltitando entre os galhos, 
Equilibra-se sobre o próprio rabo,
Ronrona ideias e, lentamente, passa entre minhas pernas encostando seus pelos... 
Deixando no ar o que realmente pretende. 

Para te conhecer é preciso cuidado: 
Gatos não possuem donos e fazem seu próprio caminho... 
Sem licença para entrar ou sair do país de Alice. 
Costuma fazer pedidos estranhos... 
Nunca os aceitei ou entendi 
Talvez por saírem da mente 
De um ser misterioso." 

Então, Alice olha para o céu e vê, novamente, a lua em crescente e termina como se fosse a última gota do último segundo do por do sol... 

"Lua, quebre o encanto e devolva o gato, porque ele é risonho, mas sorri apenas para mim" 

Assim é Alice: aquele que é doce, que cuida de suas fadas e mora depois da estrada de flores amarelas.  


Boa Noite, Alice! Eu sou o Narrador.