sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Conto do Papai Noel

No tempo do jardim de infância, onde a guerra escolar começava, uma das primeiras discussões filosóficas que eu tive foi com um coleguinha bem “metido” “chato” “complicado” que afirmava que Papai Noel não existia. Eu achava essa afirmação absurda, já que ele aparecia todo ano na porta do apartamento que eu morava, trazendo lá o presente que eu pedira. Depois de um certo tempo ele não apareceu mais, só que o presente estava lá, na volta da casa da minha avó, onde comemorávamos o Natal. 

Com o passar dos anos, passei a não ser mais um menino tão bonzinho assim e ele parou de frequentar a porta de casa, mas sempre deixava alguma coisa que não necessariamente era um brinquedo ou algum presente físico. Como sempre acreditei nele e já até discuti isso com o Quati e o Tob (os dois pelúcias que moram aqui) que afirmaram ser um absurdo não acreditar, resolvi contar uma historinha a respeito, para quem tem alguma dúvida. 

Com o calor que anda fazendo, a despeito da ameaça dos vírus transmitidos pelos mosquitos de verão, há duas noites que o sujeito dormia com a janela aberta contemplando a lua cheia e aproveitando do frescor da brisa noturna. Em dado momento, naquela hora já conhecida que não sabemos se estamos dormindo ou acordados, um barulho de sinos preenchia o silêncio da noite. 

- Ho Ho … cof cof cof 
- Caralho, que porra é essa! Hein? Como? Quem está aí? 
- Sou eu né! Não reconhece pela roupa? 
- Olha só: das duas últimas vezes que você apareceu, numa você vestia uma capa de chuva e estava em “estado de greve”; na outra você parecia um entregador e veio de caminhão. Quer uma água? Parece adoentado. 
- Levei um jato de inseticida na cara, desses que ficam programados para cada meia hora. Aceito a água sim, obrigado. 

Enquanto descansava, o bom velhinho contava das suas desventuras. Reclamou da dificuldade nos presentes: 

- Porra, é foda! É muito difícil: a menina pede uma boneca, eu providencio e lá vem algum ativista dizer alguma merda besteira por conta desse brinquedo. Caralho! Foi o que ELA PEDIU! Aí outra pede uma bola e alguém diz que isso é presente pra menino. Se for um menino pedindo uma bicicleta rosa aí é que a coisa fica mais complicada ainda porque vai dar briga de qualquer jeito. Ainda bem que isso vai mudar,  mas ainda vai levar um bom tempo. 

O sujeito foi buscar umas bolachinhas (também chamadas de biscoitos) e um copo de leite. 

- Obrigado! Já deixaram achocolatado pra mim e um pacote de salgadinhos Aí vem a turma dizer que sou mau exemplo porque sou gordo. Tenta comer essas coisas direto pra ver o que acontece. 

Papai Noel gostou dos biscoitos e ainda perguntou se tinha uma rabanada, no que foi servido. De boca cheia, mas já recuperado, começou as despedidas, não sem antes mandar outra raquetada. 

- E ainda tem aquela turma que me sacaneia direto falando que eu não existo porque se existisse tinha que ser mulher, e ainda falam que “[...] dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias?” Ah! Meu amigo! Vai te fuder Vai carpir um lote, né? Depois quando não tiver nada na árvore não vai reclamar. 

Abismado com o que ouvia, mas muito agradecido pela visita, ajudou-o a subir no trenó que partiu na direção da lua. Pela manhã, o sujeito foi contar a novidade e ninguém acreditou, lógico. Todos muito preocupados com seus umbigos, também chamados de smartphones, que nem levantaram os olhos para notar que as rosas amarelas do jardim mudaram de cor para branco e vermelho. Pois é... 

 
Bom Dia e Feliz Natal! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

V.J.M.J.

” V.J.M.J” – Viva Jesus, Maria, José – Sigla que ficava à esquerda do cabeçalho de qualquer coisa escrita no caderno do colégio... daqui a pouco você vai entender isso melhor. 

Acabei de notar que os últimos dois textos começaram com “outro dia”. Essa repetição de ideias, associada a repetição de piadas, comentários e movimentos podem ter um significado patológico, mas eu prefiro pensar que é o crescer da idade que começa a aparecer de forma mais nítida. Uma amiga comentou que estávamos na “adolescência da terceira idade” e achei essa referência muito significativa. Considerando como certa essa possibilidade nem tão remota assim, alguns cuidados já devemos tomar, incluindo uma barra no box do chuveiro (antes que seja tarde). 

Aprendi com o Velho Pai que, em visita a algum local distante onde exista algum amigo, devemos avisar nossa presença sempre que possível. Fiz isso em Lisboa (deu trabalho, mas encontrei minha amiga que mora lá), em São Paulo e, agora, no Rio de Janeiro/Petrópolis, onde faço o circuito tradicional de final de ano, mas não pude avisar a todos que eu gostaria de encontrar. Representaram meus amigos, a Angelina e a Patrícia e, aos demais, deixo aqui um abraço. Essa coisa de avisar e visitar só eu que faço, mas gostaria que outras pessoas fizessem também. É uma forma de rever as pessoas importantes; aquelas que lá estarão; aquelas que fazem a diferença. 

Dessa vez houve outro acontecimento. Em 1971, um grupo de pré-adolescentes começou a transição para o mundo real: entraram para o cobiçado grupo de alunos do Colégio Marista São José que ficava na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca. Era o “São José de baixo” (havia outro na Usina, que era “o de cima”); um colégio de excelência, à época, só de meninos (alguns anos mais tarde entraram as meninas). Foram quatro anos de “ginásio” e três de “científico”, onde aprendemos as regras de sobrevivência na selva urbana (ninguém falava de bullying, ninguém morreu por causa disso, mas era a guerra adolescente no seu melhor significado). 

Comandado pelos Irmãos Maristas, uniforme tinha que ser impecável: calça de tergal, sapato “Vulcabrás”, camisa social de maga curta com o símbolo do colégio bordado no bolso; cabelos curtos também, senão aparecia o “Moita”, nosso querido diretor Irmão Roberto, apelido devido à sua habilidade de surgir no meio do “alunado” e puxar os cabelos que se rebelassem à ordem anti-piolho. 

O rigor na educação e no ensino não impedia o lazer e a diversão; muitas coisas boas aconteceram e as lembranças vieram à tona no último dia 21, quando fui visitar o velho colégio, que andara fechado, quase foi demolido, longa história que não interessa agora, com um grupo de ex-alunos daquele tempo. “Bola-ao-mastro” e “dedobol” foram os primeiros comentários que surgiram; muitas histórias foram contadas sobre as brigas (imagina um colégio só de meninos: a coisa não era muito fácil não, mas nada disso virava mágoa ou rancor depois), sobre as gincanas, olimpíadas e passeios, para o deleite dos nosso anfitriões, bem mais jovens, e que agora tentam resgatar essas lembranças. 

Meu caminho de final de ano ainda não terminou, daqui a pouco vou fazer outras visitas e no final da tarde estarei em casa, lá com o Velho Pai, pois casa não é onde a gente vive e sim, como dizia a velha canção: “...a house is not a home, when there's no one there to hold you tight, and no one there you can kiss good night” 

 
Bom Dia! Eu sou o Narrador.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Que a Força esteja com você!

Outro dia eu li um desabafo de uma mãe sobre a distorção milenar que existe a respeito do que é brinquedo de menino e o que é brinquedo de menina. Ela escreveu que, lamentavelmente, menino brinca com coisas de aventura e menina com coisas de casa e ela sugere a compra de um “sabre de luz”, para que as meninas também brinquem de coisas legais e mais interessantes do que lavar a louça. 

Uma coisa que eu tenho até certo orgulho de dizer é que, há bastante tempo, não acompanho mais as novelas da TV aberta. Sou do tempo onde o imaginário também aparecia nos folhetins das oito da noite e que pouco parecia com os dramas diários que vivemos, além de que, vamos combinar, haviam bem menos putaria baixaria cenas inadequadas para a televisão. 

Nessa época, também, começou uma tendência de “novelizar” o cinema e surgiram os chamados “blockbusters”, que são filmes que geram renda de tudo que é jeito através de brinquedos, videogames, roupas e acessórios. Claro que, como a grana é boa, o sucesso do primeiro filme leva a sequências intermináveis durante vários anos. 

O representante dessa tendência foi Guerra nas Estrelas (Star Wars), produção sensacional de 1977 que eu vi no cinema e que gerou duas continuações evolutivas e três retrospectivas (ficou esquisito, mas você entendeu). 

Agora veio mais uma referência à série, com um filme passando trinta anos depois sei lá de quando, para que a saga tivesse novo início e os fãs enlouquecessem. Só que agora ficou legal: começaram a dar uma “limpa” nos personagens antigos, que envelheceram, não sem antes mostrá-los no melhor estilo “que fim levou”; antes que alguém pergunte, não vi o Mickey Mouse por lá, mas a referência ao E.T. foi bem nítida; para manter a tendência atual, que comentei num outro texto, surgiu a figura da heroína que "pilotará" o sabre de luz, resolvendo o problema do brinquedo infantil (se a coisa fosse simples assim... bom... deixa isso quieto para comentários num outro dia). 

Por último, se você nunca viu nenhum desses filmes e deseja começar a acompanhar (porque isso não vai terminar nunca mais), temos as reprises na TV por assinatura e encontrei uma pérola que resolve o problema, em poucos minutos, de forma musical e, sem spoiler, vou deixar aqui o vídeo para quem quiser conferir.  

                          

Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Morando num Shopping

Outro dia alguém me perguntou o que era subúrbio, designação de determinada região do Rio de Janeiro que contempla o entorno da via férrea, inicialmente da Central do Brasil e posteriormente e melhor caracterizada pela Leopoldina. Como disse Vilma Homero, no artigo “Subúrbios: 150 anos de história carioca”: “as áreas ocupadas por uma população operária ao longo da via férrea, que vão de Santa Cruz até São Cristóvão, começam a ser identificadas pejorativamente como subúrbio – a sub urbis. Subúrbio, portanto, eram as áreas distantes do Centro, que não contavam com a infraestrutura e os símbolos de poder econômico...” Quem entende bem dessas coisas é minha prima, também citada nesse artigo, mas acho que não falei muita bobagem. 

Longe dessa história toda, o que se sabe é que o subúrbio cresceu e conta, já há alguns anos, com uma ótima infraestrutura, faltando somente a praia e a definição do que é o “lado de cá” e o “lado de lá” do Méier. O comércio é excelente, existe o Metrô, a Linha Amarela e as ruas com vilas, onde as famílias crescem desde a época das fábricas de tecidos. Justamente no que sobrou de uma delas, a Nova América, cuja sede foi transferida para Duque de Caxias, foi construído um shopping, que manteve o nome, e que hoje é um complexo logístico inacreditável. 

O Rio de Janeiro é uma cidade que se reinventa: há a dengue, a problemática dos serviços públicos de saúde, a confusão das “obras da Copa” que ainda não acabaram e emendaram nas “obras das Olimpíadas”, o calor insuportável, mas nada disso consegue tirar o título de melhor cidade do mundo e o visitante é quem diz isso. Chegar de avião no Aeroporto Santos Dumont (se não aparecer o Godzilla) proporciona a paisagem mais bonita que eu já vi em pousos. 

Por motivos técnicos, que não vêm ao caso, nessa minha passagem pelo Rio resolvi ficar no subúrbio, perto de onde já morei. Escolhi um hotel, claro, mas onde ele fica? Por incrível que pareça, no Shopping Nova América

Uma característica muito legal dos shoppings do Rio de Janeiro é a descontração das pessoas que não se incomodam com o que vestem (não é desfile de modas) e vale a associação “bermuda + chinelo de dedo” sem problemas. A alegria e o colorido contagiam o visitante e as opções gastronômicas atingem todos os gostos e “bolsos”. É um lugar muito bom de passear; “morar” nele, então, melhor ainda, pois você pode olhar tudo e deixar para comprar no dia seguinte, antes do “check-out”; ainda pode tomar uma cerveja, pois você não via dirigir depois; ainda pode ir ao cinema e sair tarde sem problemas de assaltos e toda essa violência urbana; se precisar ir a outros bairros, o acesso ao Metrô é dentro do shopping. Por último, se você estiver acompanhado por alguém que não resiste a "lojinhas" e você não está com saco para isso, é só ir para o seu quarto e combinar algum horário de encontro mais tarde e isso não vai gerar qualquer crise (a menos que você "empreste" o seu cartão de crédito").

Enfim, mais uma invenção do carioca que vale a pena conferir.  


Boa Dia! Eu sou o Narrador.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Agora, só ano que vem!

Apesar do ano ainda ter mais doze dias, começamos um período anômalo ou atípico que foi chamado de recesso, férias coletivas ou lá o que seja sua denominação. 

No passado, a única diferença que eu observava era no trânsito porque, com as férias escolares, o fluxo de carros de transporte escolar (leia-se: carros particulares levando crianças) diminuía sensivelmente. Com o tempo e a mudança para o sul, notei o desabastecimento, o processo migratório para as praias e tudo aquilo que já descrevi outras vezes à exaustão (veja nos links em azul) e acabei acostumando com a coisa e adaptando minhas atividades à essa situação. Definitivamente não dá para trabalhar da mesma forma e sucumbi à procrastinação compulsória. 

Claro que tal anomalia não se aplica aos serviços ditos essenciais, como bombeiros, polícia, serviços de urgência médica e uma coisa ou outra, mas essencial é algo invisível aos olhos e se o coração pedir alguma coisa nessa época você deixa pra depois? 

Esse ano eu fiz coisas bem legais e não posso reclamar, pessoalmente, de "grandes coisas" (seria muito egoísmo da minha parte). Por outro lado, do ponto de vista da coletividade (coletividade é algo meio "borg", mas 'tá valendo), surgiu uma picuinha entre os nossos representantes no legislativo e no executivo (sim, cara-pálida: nós votamos nesses sujeitos em algum momento das nossas vidas como eleitores) movida a egos inflados somados à má administração pública e à conhecida corrupção baseada na “Lei de Gérson”. Apesar da mídia mostrar mais a esfera federal, encontramos problemas semelhantes nas esferas estadual e municipal também. Para facilitar o entendimento: a coisa virou zona (acho que nem na “zona” a zona é tão zoneada assim, como diria o amigo Klaus). 

Para consertar a confusão toda, contamos com o Poder Judiciário, muito bem representado pelo juiz paranaense que, auxiliado pelo chamado “japonês da Federal”, anda colocando muita gente pra ver o sol nascer quadrado. Ele vai entrar de férias também, mas a coisa não vai parar porque existe um substituto. 

Mais acima, contamos com outros ministros que nessa semana julgaram alguns recursos relacionados à bagunça política que faz com que o país não ande e fique mal falado no exterior. Fizeram parte do trabalho que ficará paralisado até acabar o recesso parlamentar (as “férias coletivas” dos deputados e senadores); a outra parte, já que entraram em recesso também, deixaram para depois. 

Aí fica a pergunta: vai dar tempo de consertar o problema que foi deixado pra depois? Isso não seria uma urgência? Será que não é o tal do “essencial invisível aos olhos”, mas que é o que o coração dos brasileiros gostaria de ver resolvido de uma vez? 

Como sucumbi à procrastinação, como já falei, também vou dar uma paradinha, para encontrar amigos e o Velho Pai. Alguns textos ainda vão aparecer porque isso é uma coisa que dá pra fazer sem problemas. Para ilustrar o que escrevi, deixo a brilhante tirinha do Porco Espírito (clique para ampliar).  

Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

As Crônicas da Grande Loba

”Entendo que os chefes devem reconduzir tudo a este princípio: aqueles que eles governam devem ser tão felizes quanto possível.” Marcus Tullius Cícero 

“Depois da última revolução na montanha, onde o mal apenas mudou de hálito, as coisas ficaram estranhas. Muitos que pensamos tinham vindo para ficar, simplesmente, se foram; outros, presos por grilhões virtuais, ou não, permaneceram. A Grande Loba foi uma delas. Com uma ninhada ainda mamando, não podia se dar ao luxo de caçar em outro território. Ficou. A coleira no pescoço, larga o suficiente para ser colocada quando necessário, já não machuca mais, pois aprendeu a usá-la com toda a dignidade possível. Há outras lobas na matilha; algumas com filhotes que a Grande Loba precisa cuidar também. 

Outro dia, explorando os limites de seu território, sentiu um cheiro familiar: cheiro de batalhas antigas, de grandes lutas e de risos no fim da tarde. Por entre sombras surgiu o Mago - o que sempre esteve aqui. Olharam-se e a Loba cumprimentou-o pela coragem e disse: 
- Um dia também saberei saltar rumo ao velho conhecido desconhecido e fazer o meu tempo!

Ele sorriu e respondeu:

-Eu sei. E vai ser ótimo!

 Grande Loba... a que anda no escuro, tudo vê e escuta, nada esquece...nem dos amigos leais.”

- Quem ela era, Guri? 
- Uma amiga que ele conheceu por lá mesmo. Guerreira das antigas. Houve um tempo que a força dos guerreiros era medida por sua sabedoria e não por seus armamentos. Ela gostava de contar histórias. 
- Por onde eles andam? 
- São raros como os jedis, mas às vezes aparecem por ai. Eles causam medo às pessoas, mas só enfrentam aqueles que são maus. 
- Você tem mais coisas sobre ela aí na mochila? 
- 'Tó, Melinda! 

“Então havia, não muito longe, aquele lugar... 

Seu destino era ser uma Casa de Guerra, onde guerreiros seriam treinados para lutar na “Maior de Todas as Guerras” que, por sinal, acontecia todos os dias. Eles seriam a elite, aprimorariam sua arte contra quaisquer inimigos e a paz estaria garantida. 

O que eles não contavam é que o Mal se tornasse o gerente de tudo e o que aconteceu todos viram, inertes, pois era inevitável: os outrora orgulhosos guerreiros serem substituídos, aos poucos, por mercenários inexperientes e o que restou dos antigos transformados em gladiadores, combatendo num picadeiro, para deleite de imorais. 

A Grande Loba também rondava por lá, bom local de caça para quem tem uma alcateia a manter. Ela os via lutando com armas obsoletas e escudos de papel; mal nutridos, mal cuidados, sem descanso ou segurança nem em suas celas, onde, por vezes, eram atacados por alguém da plateia ou por alguma fera do próprio Circo, solta. Ela escuta seus lamentos, sente o cheiro de sangue e se pergunta:"Por que continuam?" Ela mesma se perguntava, às vezes, por que continuar, mas o instinto falava mais alto e ela prosseguia a caçada na noite. 

Às vezes, em volta das fogueiras onde tentavam, em vão, descansar ou se aquecer, os gladiadores contavam uma antiga lenda de antes sobre "Aquele que voltou dos mortos". Era a lenda de um Mago que, uma vez tomou conta da Casa. Foi o único que tentou fazer algo que desse dignidade àquele lugar, mas nem ele suportou o ego inflado da fúria do mal que superava a competência. 

Foi sábio e retirou-se na hora certa, antes que fosse consumido e, assim, tornou-se apto a lutar em outras batalhas e inspirar os que ficaram a lutar por si. Sabedoria, às vezes, consiste em não entrar de mãos nuas num incêndio, mas analisá-lo de longe para ver como apagá-lo de uma vez ou sobreviver na segurança, se nada mais pode ser feito, além de esperar o Tempo revelar a solução. Sua digna retirada, até hoje, é interpretada, pelos que ficaram, como coerência e não como fraqueza e isso a Loba ouviu. Agora a Loba escuta e uiva para a Lua e não à toa, como alguns pensam que é uivar para a Lua. Uiva para que a Lua conte ao Mago que ele faz falta, que seu ensinamento foi aprendido e que algo se mexe nas brumas, é perigoso... e é muito bom!" 

- E ele voltou? 
- Não. Ele seguiu para outros cantos, mas deixou um bom legado. 
- E qual o destino dos que ficaram? 

"Nos campos de caça sopra um vento diferente. Após uma rápida batalha, nessa guerra sem fim, um movimento em falso do Mal pôs tudo a perder e agora, os que sobraram, após ajoelharem-se ante o Grande Poder, terem suas cabeças raspadas e suas famílias amaldiçoadas, desfilam com grilhões no pescoço e olhos secos, certos de seu destino final. 

A Loba olha, fareja e continua a caça. Num momento de ócio, entre uma carcaça e outra presa, deitada ao sol de barriga para cima deixando os filhotes morderem sua orelha, a Loba divaga: Quem vencerá a guerra? Quem é, na verdade, o Mal? Poderia o Grande Poder ser o Mal? Ou, exatamente por ser o Grande Poder, ele seria o Bem? Um último pensamento a faz ficar mais alerta: será, então, que a dicotomia Bem/Mal existe? Não seria apenas fruto de sua mente instintiva, onde o que não é predador é presa? 

Após muito pensar, vê que eles são predadores... do Bem, mas predadores. Predadores de predadores... interessante... 

A Loba pensa em seus motivos egoístas: só quer um campo de caça para levar comida para os filhotes que ainda não caçam sozinhos. Aproxima-se do Mal, pois de suas presas sobram as carcaças, algumas com algo que ainda presta como alimento. Lembra-se que o Grande Poder sorri quando a vê e afaga suas orelhas (ou será que mostra as presas e demonstra que, com um golpe da mão, pode quebrar seu pescoço?) 

A Loba suspira, pois queria ser dragão e voar acima de tudo, livre para tomar o que deseja, temida sem ameaçar, mas seu destino é ser Loba, ser provedora, ser defesa e não ataque. Uiva para a lua do céu e já adianta que, no próximo Solstício, estarão sozinhos, sem voz, sem espada, sem esperança. Restam os sobreviventes cujos cabelos esvoaçam ao vento diferente que sopra por aqui. Um vento mais morno, mais seco. O que vai trazer só se saberá depois que chegar. Será que o Vento vai levar o Mal embora? Sobrará caça para a Loba ? Tantas perguntas ao vento e nenhuma resposta 

A Loba abre mais os olhos, espeta mais as orelhas, aguça mais o faro e observa os filhotes na grama. Mais do que nunca é preciso estar atenta aos sinais.” 

- Houve uma destruição em massa. A Casa de Guerra virou ruínas, mas os sobreviventes conseguiram sair e seguir suas vidas já libertos. - explicou, o Guri.

Nesse momento uma ambulância para no acostamento. Suas luzes lembraram o Natal que viria em duas semanas. No seu interior um bebê em estado grave e médico, enfermeiro e auxiliares totalmente perdidos, sem saber o que fazer. Do lado de fora, dois anjos discutem, sendo que um deles era o da Morte. Melinda e o Guri observam inertes, quando outro veículo estaciona, liga o “pisca alerta” e seu ocupante bate na porta traseira da ambulância, entrando a seguir. Alguns minutos depois ele sai e vai embora e até pareceu que o Anjo da Morte aproveitou a carona e também foi embora. Mais alguns instantes, a ambulância seguiu viagem. 

- O que foi isso, Guri? 
- Acho que vimos um daqueles guerreiros que falávamos, mas nunca saberemos ao certo. 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador. 

N.N.: A Grande Loba apareceu em 2007 e criou uma trilogia: “A Grande Loba”, “A Casa de Guerra” e “Ócio ao Sol” que compilei e agora divido com os leitores. Ainda houve um texto, falando da minha partida para o sul que se chamou "Perdas", mas não inclui nesta postagem. No momento que observamos uma crise política nacional e mais um desastre na administração dos serviços de saúde pública no Rio de Janeiro (Municipal, Estadual e Federal), suas histórias também homenageiam os bravos guerreiros que ainda resistem.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O Oceano no Fim do Caminho

E era uma vez, mais uma vez... 

Deitado sob o céu estrelado 
Quase sem nuvens, na noite quente de final de inverno, 
Naquele momento onde quase desanoitece, 
Pensando num alto de colina, onde talvez a encontrasse... 

Uma estrela sorridente e brilhante 
Viraria um ser de sonhos... 
Talvez a resposta, talvez a incerteza... 
Talvez somente o anseio do coração... 

Ele só queria estar refletido em seu coração, 
Segurar sua mão na escuridão 
E passear pela colina até o sonho acabar 
Nos primeiros raios do sol da manhã... 

Amanhece... 
Vê a areia, procura lá sua estrela 
Que caíra do céu em sua imaginação, 
Mas nada encontra... E ele seguiu seu caminho, até uma outra história...  

O primeiro contato que tive com a obra de Neil Gaiman foi através do filme "Stardust – O Mistério da Estrela", de 2007, e cheguei a estudar alguma coisa da sua biografia, à época, mas não procurei outros livros para acompanhar. O texto de abertura “Estrela de Areia (Hoshi no Suna)” foi escrito em 04/09/2007 numa referência ao filme; o mais interessante é que foi por conta desse poema que eu conheci Fênix (nem lembrava disso). 

Há dois meses renovei meu estoque de livros e depois do desastre do primeiro desses que eu li (confira aqui), não arrisquei e abri “O Oceano no Fim do Caminho” (Intrínseca, 2013 – Rio de Janeiro; tradução Renata Petengill) uma fábula para adultos sobre lembranças do tempo de criança. 

Falando assim parece um livro chato... lembranças... do que você lembra de seu tempo de criança... daquele tempo que você comia terra? Lembra do amigo imaginário? Lembra dos lugares que viravam qualquer coisa que sua imaginação quisesse? Diz a lenda (ou o livro) que “pessoas diferentes se lembram das coisas de jeitos diferentes, e você nunca vai ver duas pessoas se lembrando de uma coisa da mesma forma, estivessem elas juntas ou não." Será? Experimente falar disso com alguém que brincou com você, caso você tenha coragem para tal aventura, e depois conte o que achou. 

Independente do que achar, o livro vale a pena conferir, dar de presente, fazer o que quiser, viajando no oceano do conhecimento. Um último recado (que também veio do livro): 
" – Ninguém realmente se parece por fora com o que é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito mais complicadas que isso. É assim com todo mundo."  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Surpresas de Natal

Na pressa do dia a dia, as pessoas acabam não observando coisas que podem ser interessantes. Tive uma experiência dessas quando fui aos canyons e muita coisa, talvez, eu deixasse passar não fossem as brumas

Nos blogs, além dos textos, podemos encontrar botões para virarmos seguidores, propagandas, links para outros sites, lista de textos já publicados e, aqui no Coisas do Narrador, eu coloquei os “marcadores”, onde você encontra os textos que podem ter relação com algum tema como “Viagens do Narrador”, “Narrador também reclama”, “Bons Livros” e “Coisas de Natal e Ano Novo” que será o marcador deste texto. 

Surpresas... estão em todo lugar, chegam de repente e colhem sorrisos. 

Na semana passada eu tive essa oportunidade: uma mãe de duas crianças que eu acompanho, pediu licença, entrou no consultório e me deu uma guirlanda de presente, que agora compõe a decoração natalina aqui de casa; mais do que isso, ainda veio um enorme cartão com votos personalizados e a impressão da mão das crianças. 

Hoje (ontem, porque atrasei o horário da postagem) eu completo 31 anos de formado e coloco a referência dessa lembrança para comemorar o que realmente vale a pena: por mais que salvemos vidas ou aliviemos dores, nada é mais significativo do que o carinho daqueles que atendemos.

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 6 de dezembro de 2015

O Ursinho da Cor do Chocolate

Mais uma história que não foi tão bem contada no “Contos de Fada?” 

Um belo dia... alguns contos de fada começam assim também! 

Ela pensou nele e saiu por ai: destino incerto, dia ainda claro, sem chupar uma bala ou tomar uma cerveja, provavelmente a pé... Ah! Não era o início de um “encontro torto”. 

De repente... 

“Psiu”... Um ursinho, da cor do chocolate, piscou pra ela e fez uma sugestão:“Que tal me levar com você?” 

Achando tudo meio esquisito, já que ursinhos não falam (muito menos os de plástico), ela olhou para os demais objetos cuidadosamente dispostos numa estante, e acabou aceitando a sugestão. 

O ursinho, de tão contente, sugeriu também uma pequena cadeira de balanço, onde dois corações comporiam assento e encosto, permitindo pousar duas folhas de cristal. Gostando dessa ideia, agradeceu ao ursinho e resolveu utilizar as folhas para enfeitar com a mais bela imagem que simbolizasse o Natal. 

Embrulhado o presente, poderia ter entregado pessoalmente, mas preferiu um portador que chegou de surpresa. A doce lembrança natalina foi recebida com tanto carinho que ganhou lugar de destaque junto com outras coisas que importavam muito, já que era algo muito importante também. 

Só que uma pergunta ficou no ar: teria sido um ato falho ou uma travessura de Ana, a significativa inscrição quase escondida... “Life would be BETTER with you by my side”? 

- Eu já li várias histórias suas, Guri. Você tem o dom de sentir o que escreve e isso é bem diferente do que ser narrador. 
- Bom... – o menino enrubesceu ao ouvir o comentário de Melinda - só que a história continuou e essa parte eu somente assisti. 

Há tempos, houve uma ciranda que o Mago pedira à Ana, só que “o amor que era tão grande que nem vidro se quebrou.” Vários encantos vieram dai; muitas histórias, muitos momentos e o amor foi contado em prosa e verso, em cantos e cantorias, durante muito tempo. Também foi falado da falsidade, do egocentrismo e da crueldade que eventualmente o cerca quando, num simples falar sem tato, sem qualquer delicadeza, desfere-se um golpe mortal. 

No seu franzir da testa, Adrielle entendeu o recado da irmã e, juntas, sempre de mãos dadas, começaram a estalar os dedos causando tamanho alvoroço, que até o bravo Guardião baixinho ficou assustado. 

- Pronto! Isso aqui precisava de algumas mudanças! – disseram, em uníssono. 

Voou cadeira, explodiram vidros, desfolharam livros, desfeitos acordos, feitos embrulhos, uma confusão danada, e saíram Narrador, Guri e até Melinda, pela janela mesmo, antes que a coisa sobrasse em cima de suas cabeças. Do presente nada restou: o plástico foi destruído e queimado junto com a imagem (que já não parecia tão bela assim), mas o ursinho foi poupado e ele foi embora num outro dia qualquer.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

O Segredo do XPTO

Deu no Estadão: “O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), defendeu o recesso legislativo […]. Mobilizar a sociedade nessa época será uma tarefa um tanto quanto difícil: Temos Natal, Ano Novo, férias escolares, janeiro já emenda com Carnaval, é difícil.” 

Segundo a Wikipedia (Não! Eu não vou ganhar aquela grana que falei no texto anterior): “XPTO ou X.P.T.O. (pron. "xis pê tê ó"), simpl. de Xρ.τo, é uma abreviatura da palavra grega "Χριστός" ("Christós" = Cristo), composta das letras "X" (qui), "ρ" (ró), "τ" (tau) e "o" (ómicron), seleccionadas e, por vezes, capitalizadas para formar a abreviatura."

Dessa vez a enciclopédia não funcionou muito bem, da mesma forma que a desculpa do senador, que iniciou o texto, não convenceu e resolvi explicar de uma forma mais fácil. Em 1946, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, surgia o Bar do Oswaldo, parada obrigatória dos apreciadores das batidas, principalmente a de coco, onde o garçom, invariavelmente, perguntava se o cliente queria com XPTO ou não. Lógico que a preferência era com tal ingrediente que jamais foi revelado, surgindo, dessa forma, o significado da tal sigla misteriosa. 

Apesar do frio e do interminável inverno (que aqui dura nove meses, conforme já expliquei), amanhã é o último dia do Festival Gastronômico de Primavera, iniciado semana passada, com vários restaurantes participando. Infelizmente a maioria "errou na mão", os cardápios não foram muito satisfatórios, no meu gosto, e somente apreciei as iguarias de dois: Alecrim Planalto e Casa Luna

De qualidade indiscutível, o Alecrim Planalto acertou no quesito “quando menos é mais”: uma salada de folhas selecionadas e molho cesar, como entrada, um filé mignon à Rossini, acompanhado de tagliatelle ao molho de gorgonzola e nozes, como prato principal e, para finalizar, a torta Alecrim que é feita de... de... de... XPTO! Pensa numa torta que você olha e não identifica os ingredientes, prova e nem importa do que é porque a sensação é de sublime prazer na degustação... entendeu o que é XPTO? Diz a lenda que essa torta é uma reinvenção da banoffe, mas fico com a primeira hipótese. 

Por outro lado, na contramão da dieta restritiva, a Casa Luna manteve sua fama de servir bem e em porções gigantescas. Éramos quatro pessoas, mas só pedimos três pratos muito bem servidos. Baguette com roast beef rosado, queijo gruyère e outras iguarias (lógico que com muito XPTO), abertura com coração de palmito e tomate seco e a sobremesa com a tal situação de chocolate que, como cortesia, recebemos a quarta para que ninguém ficasse com água na boca. A limonada complementou a degustação (falei dela em outro texto). 

Enfim, considerando os últimos acontecimentos e o clima, acho que todos merecem uma boa programação e fica aí mais uma dica para o final de semana.


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sábado, 28 de novembro de 2015

Momentos

Depois de duas semanas recheadas de tragédias surgiu, finalmente, a piada do sujeito que ganhou 2,5 milhões copiando textos da Wikipédia e isso deu abertura para que eu voltasse aos escritos aleatórios. 

”Há dez mil anos atrás” (se bem que foram sete) eu começava o movimento para o auto exílio, numa aventura totalmente inacreditável para a época. Os dias foram muito chuvosos, como agora, o sol tentava aparecer sem sucesso e nuvens carregadas escureciam as manhãs e as tardes, fazendo os pensamentos girarem em torno do que iria acontecer. 

O início foi um pouco conturbado porque a casa ainda estava em obras e, no final do ano, quase nada funcionava e não havia possibilidade de instalação de telefone, TV a cabo e internet. O contato com o mundo exterior aconteceu, mesmo, dez dias depois da chegada, por coincidência, no Dia de Reis

Com o passar dos meses, na Primavera seguinte, uma companhia para as noites de quarta-feira surgiu com a série Glee que já foi tema de muitos textos. Ao todo seis temporadas, sendo que as três primeiras foram boas e as sequenciais não seguraram a onda, principalmente depois da morte do Cory (Finn Hudson) Monteith. A ideia era dar continuidade com novos personagens, mas o grupo inicial era insubstituível, mesmo com o surgimento de excelentes atores/cantores no decorrer da série. Piorou mais ainda com a irregularidade de horário e ninguém sabia que horas a série iria passar. A tentativa de ganhar a TV aberta foi horrível, pois as dublagens deixaram muito a desejar e a edição (leia-se censura da própria emissora) acabou totalmente com o conteúdo dos episódios. 

No final das contas eu vi quase tudo, mas a última temporada eu não consegui acompanhar. Eu dou sorte com últimos capítulos e até assisti o último do E.R. e, recentemente, do C.S.I., mas de Glee não rolou. Dessa forma, comprei a caixa de DVDs com os seis discos finais e, com um esforço muito grande do velho DVD player (preciso levar para o conserto, principalmente o controle remoto que não funcionou de jeito nenhum), terminei o último disco hoje. 

”Há dez mil anos atrás” (se bem que foram sete) e nessa época também, houve uma conversa que poderia descrever o que foi Glee para seus fãs. O Mago encontrou o amigo (K)Clown que observava uma imagem digital com o halo do sol e, mesmo entretido, começou a falação que foi, mais ou menos, assim: 

" - Velho Mago: tudo na vida são momentos e todos os momentos são parte da sequência da vida..."

Considerando que o amigo não costumava falar dessa forma, o Mago retrucou: 

" - Você normalmente não filosofa!"

Ambos riram!

" - Veja: de um momento para o outro a esperança pode virar desilusão e desilusão pode virar felicidade; cada momento é eterno quando o relógio está quebrado e o tempo só para quando o cronômetro, em contagem regressiva, chega a zero!"

O Mago preferiu deixá-lo falar... 

" - O momento seria único se a vida não fosse cíclica, pois a Natureza é sábia... Só que os momentos nem sempre são assim! Um feitiço do mal vai passar, assim como o tempo, mas o momento do antídoto é eterno e vai além, pois são dois momentos depois da eternidade..."

Por fim, ele terminou o discurso dizendo:

" - Quando o momento se torna uma forma infindável de frases entorpecidamente ininteligíveis, é hora de parar e voltar a pensar um momento..."

O (K)Clown, então, foi embora. 

E assim foi o final de Glee: um grande momento, repleto de emoções, recordações e com um bônus de quase uma hora com retrospectivas e depoimentos dos seus atores principais. Ficará na saudade.


  
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Em busca do arco-íris perfeito

”Naquele tempo, antes dos tempos, Íris insistia em manter o seu caminho aberto, mesmo que Nuwa tentasse fechá-lo com suas sete pedras de diferentes cores. Indra, por sua vez, impedia os raios e os trovões de se transformarem em chuva e formou dois arcos quase gêmeos. Lendas diversas... mas o que significou aquela visão do arco-íris duplo? Que não seja a parte boa de almas boas, enfeitiçadas pela bruxa, abandonando seus corpos, para serem guardadas no lar dos deuses, até que o feitiço do tempo resolva devolvê-las.” (“O Arco-Íris

Ontem foi um daqueles dias onde andar de bicicleta seria muito improvável: primeiro porque eu tive um compromisso e não sabia bem que horas chegaria em casa; segundo porque o tempo estava totalmente instável; terceiro porque, apesar de gostar muito, a preguiça é sempre uma grande inimiga do pedal (e de outras atividades também) e companheira fiel da procrastinação. De qualquer forma eu saí, só que as nuvens negras foram aumentando, eu insistindo, elas também, até que desabou um temporal, a roupa foi encharcando e voltei pra casa. Só que, ao chegar, a chuva estava diminuindo e fiz somente uma pausa, para torcer o casaco e, como já estava molhado mesmo, pensei: “Quer saber? Foda-se Dane-se! Vou sair de novo.” E assim fiz. 

Lá pelas tantas, já e novamente, no caminho de volta, surgiu um arco-íris. Bom... não era bem um arco, mas era muito intenso e muito bonito e resolvi fotografar. O detalhe é que eu não encontrava um bom ângulo, onde ele ficasse perfeitamente emoldurado, e tive medo de perder a oportunidade. Ao todos foram dez tentativas até que consegui uma foto que ilustrasse bem a aventura toda. O resultado é esse aí embaixo. 

 
 Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Revirando os Olhos

”Era necessário que a balança entre o bem e o mal estivesse equilibrada. E, para evitar que o nosso mundo fosse destruído pela ganância e sede de poder de Lucian, foi forjada uma arma capaz de decidir o destino da humanidade. Um corredor escuro, uma garota e uma voz misteriosa, sombras avançando em sua direção e, num piscar de olhos, uma multidão de pessoas mortas a observando pacientemente, como se esperassem algo. É assim que vive Samantha Lyterin, uma garota aparentemente normal, mas assombrada por vultos e visões do futuro. Ela se vê de uma hora para outra destinada a manter o equilíbrio em uma guerra onde de um lado estão os anjos, querendo proteger a humanidade, e do outro, sombras que buscam incansavelmente a arma que permitiria a ascensão de Lucian.”  

Em todas as artes existem os prodígios que descobrem seus dons logo cedo. É assim na música e, como exemplo, vou deixar aqui a Eduarda Henklein que é baterista e tem uns seis anos de idade ou quase isso; temos também essa criançada do “Masterchef Júnior” e do “Que Marravilha – Chefinhos”, esse último comandado pelo Claude Troigros e que tem um formato melhor, na minha opinião. Na literatura, falei bastante da Beatriz Peres que vence as dificuldades e segue em frente. 

Recentemente comprei um livro (“Sombra de Um Anjo”; Brandão, Ana Beatriz Azevedo; Novo Século Editora – 2015), já em segunda edição, que prometia 480 páginas de literatura infantojuvenil de qualidade, tamanha a força da propaganda em torno do fato da autora ter, à época do lançamento da primeira edição, 14 anos. As reportagens também diziam que ela, em pouco tempo, escreveu um sem número de livros e que iria lançá-los dentro do possível. A autora participou da Bienal do Livro no Rio de Janeiro, deu entrevistas em vários lugares e ganhou inúmeros fãs. A chamada do livro, que iniciou este texto, prometia algo muito interessante. 

Que legal isso! Acho que devemos estimular muito nossos jovens na sua criatividade dentro de seus interesses. O único detalhe é que devemos ser orientadores e muito realistas. Nesse último quesito, o Claude Troigros é ótimo e ele deixa bem claro o que tem que melhorar, apesar dos elogios que papai e mamãe deixam para os jovens chefs (realmente eu fico muito impressionado com essa garotada na cozinha). 

Só que esse detalhe faltou no primeiro livro da Ana Beatriz Brandão. Ficou claro que a segunda edição foi revisada e, mesmo assim, até a página 76, eu anotei vinte problemas variados entre ortografia/gramática, excesso de descrições de vestimentas, localização da ação, noção de tempo, dentre outros. No curso do livro alguma coisa até melhorou um pouco, já que ainda rolaram mais 400 páginas de leitura, mas não completamente ileso de críticas. Todos esses problemas eu relacionei e enviei à autora, que respondeu de forma simpática, disse que vai aproveitar as considerações nos próximos livros e coisa e tal. 

Em relação ao conteúdo, ela conseguiu uma protagonista mais chata do que a Bella Swan do filme Crepúsculo (a ponto do “senhor das trevas”, Lucian, desejar que “ela fosse um inseto pra poder pisar em cima e calar aquela vozinha irritantemente fina dela”) ; transformou “Céu” e “Inferno” em alegorias; caricaturou os anjos como adolescentes num shopping (isso ela mesma escreveu quase no final do livro) e se perdeu na narrativa inúmeras vezes, isso sem contar no uso de “revirei/revirou/revirando os olhos” à exaustão, quase como a única expressão facial descrita em todo o livro. Apesar de ser obra de ficção, nem assim algumas coisas aconteceriam, mas não vou fazer nenhum spoiler por aqui. 

Mesmo com todos esses “poréns”, o livro fez sucesso e a autora já está no seu segundo lançamento literário, o que me leva a crer que existe um problema também com os leitores que ficam satisfeitos com obras primárias e sem o menor conteúdo, mesmo em literatura fantástica e sobrenatural. 

De qualquer forma, desejo sucesso, bom senso da sua assessoria, uma revisão mais criteriosa do conteúdo e do português nos próximos livros. Quem sabe eu venha a ler um outro lançamento, num futuro incerto, e talvez mude minha opinião, não é mesmo? 

 Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 1 de novembro de 2015

Brumas

Encontraram uma caverna e por lá ficaram. A possibilidade de chuva era real e a neblina não deixara o dia amanhecer completamente. Conversaram um pouco, acenderam uma fogueirinha e comeram algumas maçãs que Adrielle levara. 

Eis que um urso apareceu: olhou para os dois, sorriu e sentou a seu lado, como se também quisesse conversar. Apesar de não parecer assustador, ganhou uma maçã do menino como gesto de amizade. Ele comeu e dirigiu-se à Adrielle. 

“ Pequenina, você ainda tem muito o que aprender e seu amigo também. Lá fora existem muitas coisas esperando por vocês, mas precisam acreditar e não mais se esconder.” 

Pasmos, o menino e Adrielle não sabiam o que pensar. 

“Pode ser que ainda encontrem muita escuridão, mas existe luz que cruzará o seu caminho, desde que vocês acreditem nisso e jamais parem de amar...” 

Uma névoa os encobriu e o urso acrescentou: 

“Olhem através dos meus olhos e vejam um lugar muito melhor. Viajem para ele num mundo de fantasias e seus sonhos se transformarão em realidade!”

Há alguns anos que escrevo alguma coisa no Dia das Bruxas, relacionado ao tema, mas este ano eu pulei essa etapa e fiz uma coisinha meio diferente: num passeio recente, onde o objetivo era ver belas paisagens nos Canyons do Itaimbezinho, fomos surpreendidos por dias chuvosos e neblina por todos os lados. Vi muita gente aborrecida porque “não viu nada”, mas acho que a coisa não foi bem assim. 

Num clima bucólico e meio sobrenatural, nosso passeio foi o “lado B” da coisa: a névoa “mostrou” uma paisagem diferente, onde, ao invés de vermos cachoeiras, ouvimos o som da água corrente das cachoeiras, o barulho do vento sibilando pelos canyons, observamos melhor a vegetação à nossa volta e, ao chegarmos à área de piquenique, ainda fomos recepcionados pela gralha azul. Como são momentos difíceis de descrever, fiz um vídeo com algumas fotos e com uma música do filme “Crepúsculo” (Bella's lullaby de Carter Burwell). O texto inicial conta uma historinha relacionada ao dia que Adrielle foi procurar o menino numa floresta e você pode ler o original clicando aqui.


  
Bom Dia! Eu sou o Narrador.

sábado, 31 de outubro de 2015

Feijoada nunca mais?

- Caramba! 
- Nossa! Como assim? 
- Esses caras estão de brincadeira né? 
- Pegadinha do Mallandro, só pode! 

Independente da forma como veio a expressão, na hora do anúncio sobre os embutidos e o bacon causarem câncer, a tradução mais simplista é, simplesmente, fudeu (com “u” mesmo)!

Todos já sabíamos que sobrevivemos ao Mate Leão servido na praia em bujões e copinhos de papel, mas acreditar que escapamos do cachorro quente do Geneal, servido de forma parecida, naqueles saquinhos de plástico, para concluir que a salsicha causa câncer? Como assim? E o botulismo? E a salmonelose? 

Bom... sustos e brincadeiras à parte, com o passar dos anos, a praticidade dos alimentos prontos, enlatados ou com embalagens diversas, virou presença nas despensas das pessoas. Particularmente existe um exagero, em diversos casos, nas restrições alimentares inúteis como nas dietas sem glúten para “não celíacos”, sem lactose para pessoas sem intolerância e outros modismos por ai, já que comida não faz mal para quem não tem nenhum problema. O difícil está em determinar o que é comida e o que não é. Vamos combinar que, realmente, embutidos, processados e embalados tem mais cara de papelaria do que de restaurante. 

Existe um método simples: se você descascar, é comida; se você desembalar, é processado. Simples, não é mesmo? Isso eu aprendi com a Gabriela Kapim que apresenta um programa (que também virou livro) que se chama “Socorro, meu filho come mal!”

O programa mostra famílias que pedem ajuda a Gabriela, para resolver o problema das crianças “chatas para comer” e ela apresenta cinco mandamentos simples e perfeitamente factíveis: 

"- Comer sentado a mesa 
- Comer sem distrações 
- Fazer o próprio prato e/ou comer sozinho 
- Ter cinco cores no prato 
- Experimentar novos alimentos."

Diferente de outros programas que apresentam receitas mirabolantes, esse é bem prático e é associado ao site da atração, onde existem as receitas e coisa e tal. O livro é muito legal também e foi um dos que comprei na última viagem à cidade grande. Fica aí a dica, em tempos de feijoada difícil. 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Que saudade da professorinha!

Segundo a Wikipédia, “Ataulfo Alves foi um compositor e cantor de samba brasileiro, um dos sete filhos de um violeiro, acordeonista e repentista da Zona da Mata Mineira chamado “Capitão Severino”. Nasceu em Miraí (pequena cidade mineiro de pouco mais de 13000 habitantes, atualmente) em 1909 e morreu no Rio de Janeiro em 1969. Aos oito anos de idade, já escrevia versos. Foi leiteiro, condutor de bois, carregador de malas, menino de recados, engraxate, marceneiro e lavrador, ao mesmo tempo em que frequentava a escola. Aos dez anos, perdeu o pai e, aos 18 anos, foi para o Rio de Janeiro trabalhar como ajudante de farmácia, aos 19 anos tocava violão, cavaquinho e bandolim e, aos 20, começou a compor, sendo sua musicografia composta de mais de 320 canções (incluindo “Meus tempos de criança”, de onde saiu o título do texto de hoje – nota minha) sendo uma das maiores da música popular brasileira.” 

Escrevi isso tudo, para usar um artifício de redação que aprendi com um professor: “nunca comece pelo tema”. A ideia original do texto era falar alguma coisa sobre educação para o blog “Educação Proibida”, onde ele foi publicado no dia 03/06/2015, mas aproveitei parte dele para também homenagear os professores no dia de hoje. 

No tempo do sambista, nem imagino como era o ensino, mas acho que ele aproveitou bastante. Nas escolas era ensinado o “Bê-A-Bá” e a garotada aprendia a ler e a escrever. Com certeza não era uma coisa muito fácil, mas as professoras tinham o dom para ensinar. Já mais adiante, no meu tempo, tudo era progressivo: antes do “Bê-A-Bá” você brincava! Sim! Brincava! Afinal das contas, isso é o que a criança tem que fazer, não é mesmo? Ao mesmo tempo, você aprendia as cores, fazendo “pintura a dedo” com uma tinta que era uma mistura de anilina a um mingau de maisena (dava para comer também, mas isso ninguém fazia). Com o tempo você aprendia a desenhar traços e as primeiras figuras geométricas surgiam: um retângulo dividido de forma perpendicular em dois outros; o menor seria uma porta em cima do qual viria um triângulo, representando, bidimensionalmente, a frente de uma casa; no outro, em cima, entrava um paralelogramo que encaixava no triângulo e representava o telhado (quase não “passei” para o pré-primário porque eu não conseguia fazer esse desenho, mas minha mãe ajudou e eu consegui). 

No “bolo", você ainda aprendia a “se virar”: havia lanche e tinha que escovar os dentes sozinho; na “bandinha” você aprendia a tocar instrumentos de percussão básicos e, alguns, artesanais como o “coco”, feito de casca de coco mesmo; nas festinhas sempre havia alguma representação e eu “casei” vários anos seguidos, na festa junina, com a mesma colega (e ela lembra disso até hoje dizendo que eu fui o melhor ex-marido dela) e, com isso, aprendíamos teatro. 

Na evolução, a coisa “apertava”: do “Bê-A-Bá” à construção das palavras, prefixos latinos, gregos, sinônimos e antônimos e surgiu a matemática, com as quatro operações, a tabuada, além de conhecimentos gerais (história e geografia) e ciências. Aquelas outras atividades lúdicas foram mantidas e ganhávamos também noções de civismo, incluindo decorar o Hino Nacional (e aprender que não se deve aplaudir o próprio hino), Hino da Bandeira e entender a Bandeira do Brasil. 

Ah! Que saudade da professorinha! 

E hoje em dia? Será que a coisa é parecida? Pelo que vejo por aí não é não. Claro que existe a tecnologia, mas como será que funciona a máquina de calcular? O que será uma “prova dos nove” e uma “regra de três”? Quantos “1” e “zeros” são necessários para escrever uma letra no computador? Por que as pessoas só leem o título e não querem saber do conteúdo de uma reportagem? E quem foi Ataulfo Alves? 

Enfim... educação é progressão, desenvolvimento de habilidades, paciência, determinação e, acima de tudo, imaginação e curiosidade. Nesses quesitos, a presença do professor é fundamental e temos que agradecer muito aos nossos, além de lutar para que tão nobre profissão receba o reconhecimento devido por parte das autoridades e também por parte dos alunos, pois tem que haver respeito. No momento que entendermos que podemos perder a base do necessário, talvez consigamos recuperar o que ficou no passado e que garantirá o presente e o futuro!  


 


Bom Dia! Eu sou o Narrador.

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Pedaladas ao Anoitecer

”De carona na onda das bicicletas, com o vento batendo em cheio no rosto e a vida deslizando ao lado nem tão lenta nem tão rápida..." (comentário feito no texto "Ciclovia", pela amiga mais antiga)

Bem-vindo ao “Coisas do Narrador”, spin-off do outro blog que se chama “Contos de Fada?”. Agradeço sua visita, mas se você veio por conta do título, esperando que o texto abaixo falasse de contas públicas, lamento informar que não é isso que você vai encontrar. De qualquer forma, aproveite a visita conhecendo meu trabalho. 

Acrescentar novos hábitos à nossa vida é quase tão difícil quanto fazer uma criança experimentar alimentos novos, mas sabemos que é importante e sempre bem interessante. Só que sair da tal de “zona de conforto” dá muita preguiça e a gente acaba procrastinando e nunca resolvendo. 

Dessa vez (e finalmente) comprei luzes de segurança para a bicicleta e comecei a praticar o pedal noturno. Aparentemente é simples, mas tem que criar algum hábito, já que os olhos estranham, os buracos não são tão nítidos, você desfila como se fosse uma árvore de Natal e tem que ligar o botão do foda-se ignorar os passantes zoadores. Outra coisa que acontece, também, é que o horário do seu banho de final de dia vai mudar, assim como o horário do jantar e qualquer outra atividade que você faça à noite; se você for muito metódico, é um bom momento para levar a vida menos a sério, já que você não vai sair vivo dela, não é mesmo? 

Passado o período de adaptação, o melhor da história ficou por conta do Pedala Planalto, grupo de ciclistas aqui da região, que promove um passeio noturno de bike na primeira terça-feira de cada mês e, na última terça, lá estava eu, junto com mais vinte ciclistas, de principiantes a muito experientes, num agradável tour pelos trajetos urbanos. Para quem tem perfil no Facebook, vale a pena curtir a fanpage do grupo, clicando aqui

E você? Já pensou em experimentar alguma coisa nova? (coisa sadia, vamos entender isso direito). Por acaso come sentado à mesa e sem distrações? Tem pelo menos cinco cores no seu prato na hora das refeições? Bom... como dizia o velho Mago: “Isso é história para outro dia”! 


Boa Noite! Eu sou o Narrador.