terça-feira, 3 de novembro de 2015

Revirando os Olhos

”Era necessário que a balança entre o bem e o mal estivesse equilibrada. E, para evitar que o nosso mundo fosse destruído pela ganância e sede de poder de Lucian, foi forjada uma arma capaz de decidir o destino da humanidade. Um corredor escuro, uma garota e uma voz misteriosa, sombras avançando em sua direção e, num piscar de olhos, uma multidão de pessoas mortas a observando pacientemente, como se esperassem algo. É assim que vive Samantha Lyterin, uma garota aparentemente normal, mas assombrada por vultos e visões do futuro. Ela se vê de uma hora para outra destinada a manter o equilíbrio em uma guerra onde de um lado estão os anjos, querendo proteger a humanidade, e do outro, sombras que buscam incansavelmente a arma que permitiria a ascensão de Lucian.”  

Em todas as artes existem os prodígios que descobrem seus dons logo cedo. É assim na música e, como exemplo, vou deixar aqui a Eduarda Henklein que é baterista e tem uns seis anos de idade ou quase isso; temos também essa criançada do “Masterchef Júnior” e do “Que Marravilha – Chefinhos”, esse último comandado pelo Claude Troigros e que tem um formato melhor, na minha opinião. Na literatura, falei bastante da Beatriz Peres que vence as dificuldades e segue em frente. 

Recentemente comprei um livro (“Sombra de Um Anjo”; Brandão, Ana Beatriz Azevedo; Novo Século Editora – 2015), já em segunda edição, que prometia 480 páginas de literatura infantojuvenil de qualidade, tamanha a força da propaganda em torno do fato da autora ter, à época do lançamento da primeira edição, 14 anos. As reportagens também diziam que ela, em pouco tempo, escreveu um sem número de livros e que iria lançá-los dentro do possível. A autora participou da Bienal do Livro no Rio de Janeiro, deu entrevistas em vários lugares e ganhou inúmeros fãs. A chamada do livro, que iniciou este texto, prometia algo muito interessante. 

Que legal isso! Acho que devemos estimular muito nossos jovens na sua criatividade dentro de seus interesses. O único detalhe é que devemos ser orientadores e muito realistas. Nesse último quesito, o Claude Troigros é ótimo e ele deixa bem claro o que tem que melhorar, apesar dos elogios que papai e mamãe deixam para os jovens chefs (realmente eu fico muito impressionado com essa garotada na cozinha). 

Só que esse detalhe faltou no primeiro livro da Ana Beatriz Brandão. Ficou claro que a segunda edição foi revisada e, mesmo assim, até a página 76, eu anotei vinte problemas variados entre ortografia/gramática, excesso de descrições de vestimentas, localização da ação, noção de tempo, dentre outros. No curso do livro alguma coisa até melhorou um pouco, já que ainda rolaram mais 400 páginas de leitura, mas não completamente ileso de críticas. Todos esses problemas eu relacionei e enviei à autora, que respondeu de forma simpática, disse que vai aproveitar as considerações nos próximos livros e coisa e tal. 

Em relação ao conteúdo, ela conseguiu uma protagonista mais chata do que a Bella Swan do filme Crepúsculo (a ponto do “senhor das trevas”, Lucian, desejar que “ela fosse um inseto pra poder pisar em cima e calar aquela vozinha irritantemente fina dela”) ; transformou “Céu” e “Inferno” em alegorias; caricaturou os anjos como adolescentes num shopping (isso ela mesma escreveu quase no final do livro) e se perdeu na narrativa inúmeras vezes, isso sem contar no uso de “revirei/revirou/revirando os olhos” à exaustão, quase como a única expressão facial descrita em todo o livro. Apesar de ser obra de ficção, nem assim algumas coisas aconteceriam, mas não vou fazer nenhum spoiler por aqui. 

Mesmo com todos esses “poréns”, o livro fez sucesso e a autora já está no seu segundo lançamento literário, o que me leva a crer que existe um problema também com os leitores que ficam satisfeitos com obras primárias e sem o menor conteúdo, mesmo em literatura fantástica e sobrenatural. 

De qualquer forma, desejo sucesso, bom senso da sua assessoria, uma revisão mais criteriosa do conteúdo e do português nos próximos livros. Quem sabe eu venha a ler um outro lançamento, num futuro incerto, e talvez mude minha opinião, não é mesmo? 

 Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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