quinta-feira, 31 de julho de 2014

Top Chef

Depois de quase cinco anos morando em Itaipava (Petrópolis) e frequentando o circuito gastronômico local (incluindo o centro da cidade também), é muito difícil encontrar algum lugar que reúna tamanha variedade de restaurantes e sabores para os mais diversos gostos. Quando recebia um convidado era bem fácil escolher um local para almoço/jantar que agradasse e quando a pessoa era bem eclética, a opção era o Maffagio, no Shopping Vilarejo (o ravioli de maçã de lá eu nunca comi em lugar nenhum). 

Sempre gostei de programa de culinária (mesmo que eu não faça nada do que eles apresentam) e, atualmente, uma distração que eu tenho é assistir ao “Top Chef” que passa no canal Sony. É divertido, os pratos são totalmente inacreditáveis e tenho certeza que nunca vou comer um deles, mas é legal ver uma forma diferente de apreciar um prato, incluindo a porção minúscula que é servida (mas que resolve). 

Essa semana resolvi incorporar o programa, vesti a capa de jurado (como se eu fosse lá um grande entendido na coisa) e participei do Festival Gastronômico daqui. Três restaurantes fizeram um menu especial que foi servido de terça a sexta-feira (não entendi por que não aos sábados) iniciando na semana passada e terminando amanhã. Imaginei uma coisa bem diferenciada que logo vi que era somente fantasia da minha parte, pois era somente um menu à parte.

Minha primeira investida foi num restaurante bem famoso, que frequento e que gosto muito, pois serve um buffet de primeira qualidade, no almoço, e ainda faz um misto de confeitaria e lanchonete, tudo num ambiente bem agradável com salões amplos e decoração de muito bom gosto (já viu que eu não quis arriscar mesmo). De cara estranhei o serviço, pois rolava também o “Dia do Sonho”, um buffet bem legal de sonhos variados, mas meu sonho era outro e fui para o último salão, onde aguardei alguns minutos até que alguém descobrisse que eu ainda não tinha sido atendido. Fiz o pedido (como se fosse qualquer outra coisa do menu) e logo veio um delicioso creme de batata com bacon, servido num pão alemão de ótima qualidade, moldado como se fosse uma pequena terrina (era pra comer a terrina também, mas como ninguém explicou isso, algumas pessoas devolveram depois de se deliciar com o creme). Já prevenido com as porções pequenas, que certamente iriam se complementar no quesito plenitude gástrica, aguardei o prato principal que era lombo a milanesa com molho de champignon e guarnição de batatas com cebolas e bacon. Nesse ponto eu entendi que o “chef” errou na mão: uma porção francamente para duas pessoas, servida numa bifiteira, inclinada em cima de um prato de louça, que fez escorrer todo o molho para a calha e que, no final, deixou transparecer o óleo onde o molho boiava. Acho que o objetivo era deixar o prato quente, mas isso esquentou muito as batatas e não vou descrever os artifícios que usei para essa degustação. O lombo estava bom, mas o gosto se perdeu no bacon. A guarnição ficou efetivamente sobrando no prato (mas eu comi tudo). Para salvar a situação, a sobremesa foi perfeita, tanto na montagem do prato como na quantidade, tanto de creme, quanto de torta alemã e de apfelstrudel, ainda decorados com um grade de chocolate fino. 

Deixei passar uns dias e fui encarar outro desafio, dessa vez num restaurante menos badalado, mais comercial, que também serve um buffet no almoço e também é pizzaria à noite. A entrada foi simples, sem maiores pretensões, mas bem feita, com torradinhas que não esfarelaram e que não estava moles (estavam no ponto certo) com tomate seco e queijo parmesão. O prato principal também serviria duas pessoas e ficou meio estranho porque molho bechamel normalmente não acompanha filé mignon e geralmente não leva queijo, mas a carne estava muito bem feita. O que sobrou foi a guarnição: não entendi os dois carboidratos (arroz e batata cozida) e a salada de alface, tomate e rodelas de palmito que simulava o delicioso pupunha, mas, infelizmente, estava duro. A sobremesa foi o famoso “Chico Balanceado” que estava muito doce, da mesma forma que a limonada suíça que pedi para acompanhar o jantar (tomei limonada nos três restaurantes e essa foi a que não agradou). 

O último restaurante eu fui hoje. A acolhida foi melhor, talvez por conta do ambiente mais restrito (é um restaurante de hotel), de decoração simples, mas de muito bom gosto. O garçom ofereceu o menu gastronômico e o primeiro prato foi um creme de mandioquinha com bacon que estava leve e agradável. De prato principal, escalope de mignon, com molho rotî, também muito bem feito, numa porção realmente individual, acompanhado de um risoto de parmesão que simulava o velho, bom e incomparável medalhão com arroz a piamontese que era o carro chefe do Restaurante Sereia de Ipanema, famoso nos anos 1980, que nem sei se ainda existe. Bem feliz com o andar da carruagem, aguardei ansiosamente o prometido brownie de chocolate com sorvete, de sobremesa, que foi um desastre completo, por ser uma porção gigante, de massa muito consistente e algo seca, servido frio, sem calda de chocolate quente por cima e ainda com algumas frutas que não imagino o que faziam lá. 

Apesar da minha crítica, valeu a iniciativa, principalmente para uma cidade pequena, onde as opções são restritas. Acho que os restaurantes são bons, mas os “chefs” necessitam aprimorar suas técnicas, caso queiram transformar seus estabelecimentos em referência gastronômica.


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 27 de julho de 2014

Se beber, não cruze gatos!

A enteada sabia que ela gostava de gatos e a ideia do cruzamento de sua gata, que estava no cio, com algum, dos diversos de sua da madrasta, era muito boa, mas isso talvez não fora uma boa pedida. 

Deixou o cestinho na sala, agradeceu e foi embora, quando então começou a saga. Inicialmente a felina parecia dócil e um “ninho de amor” foi montado num pequeno banheiro nos fundos da casa, onde foi colocado o casal. Foi o que bastou para começar o tal barulho infernal de miados, gritos e coisas caindo no chão. Ana Paula achou melhor verificar e encontrou o seu gato totalmente acuado num canto e a gata da enteada acomodada na janela do banheiro, que foi devidamente trancada, previamente, com um arame, para que ela não fugisse. Apavorado, o pobre gatinho rejeitado voou pela porta do banheiro e foi se esconder em algum lugar que até agora ninguém descobriu. 

- Puta que o pariu Vixe! Isso não é uma gata! É um monstro! 

Parecendo que entendera o comentário, a gata pulou na direção de Ana Paula, que imediatamente fechou a porta, para não ser atingida pelas garras da felina. Novamente o barulho começou, mas foi acrescido de outro, do lado de fora. Observando da janela, a cantoria de vários gatos, de todos os tipos e até alguns de desenho animado, atraídos pelo barulho inicial, tornou a situação insustentável. 

Resolveu ligar para o veterinário que sugeriu um sedativo, mas, como não tinha receita, isso não rolou. Pensou um pouco e lembrou que ainda tinha um pouco de absinto, o mesmo que tomara uma vez, lá no passado não tão distante assim, e que tinha uns efeitos sedativos. Colocou um pouco numa taça, chegou perto da gata, derramou numa tigela e, para convencê-la, tomou uns golinhos, para mostrar que era bom. 

Isso tudo foi a última coisa que ela lembrou quando acordou na sala, vestindo uma mini saia de borracha, um salto quinze e uma frente única dourada, enquanto a gata dormia desmaiada a seu lado. 

- Meu bem! Tem um rato falante, aqui na porta, dizendo que veio entregar umas fotos. - disse o marido que entrou e foi direto para o banheiro, por onde esteve a gata. 

(Rato? Que porra é isso essa? - ela pensou) 

Foi atender (que jeito).

- Dona Natasha! Tirei umas fotos da nossa festa de ontem! A senhora estava o máximo! 
- Natasha é o caralho Ana Paula, por favor! E ratos não falam! Some daqui antes que eu te transforme em café da manhã para meus gatos. 

Quando viu as fotos, a lembrança veio na hora. Novamente o absinto, como da outra vez, teve um efeito muito doido, tanto nela quanto na gata. 

- Ei amor! O que meu alicate está fazendo aqui perto da janela do banheiro? 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 20 de julho de 2014

O Pássaro Azul

Em 1940 houve um filme que se chamou “The Blue Bird”, estrelado pela pequena Shirley Temple, que foi um filme bem chatinho, mas uma cena eu gostei muito. Mytill era a personagem dela que viajava com seu irmão, sua gata e seu cão, a procura do tal pássaro azul. Orientados pela Fada Luz (deve ser irmã da Fada Azul, a mesma do Pinóquio e do robozinho do filme “AI”), chegaram no futuro, algo mágico, onde as crianças, que ainda não tinham nascido, ficavam. Era um lugar bem legal, parecia aquelas coisas meio gregas e coisa e tal e um momento ficou bem marcado, quando houve a separação de um casal de amigos, já que o menino nasceria primeiro e a menina ficaria para trás, por tempo indeterminado e, talvez, nunca mais se vissem. 

Amizades são dádivas que recebemos e nem sempre explicamos de onde vieram e como começaram, mas sabemos que elas existem e que devemos preservá-las a todo custo, mesmo que à distância. Felizmente consegui cultivar várias, mas uma em especial, se tornou a mais antiga, já que iniciou antes de nascermos (nossas mães eram amigas). Hoje é o Dia do Amigo e vou dedicar este texto a todos os meus amigos, contando essa história como a fiz uma vez lá no “Contos de Fada?” em “A Amiga Mais Antiga”. 

“Há muitos e muitos anos… os Contos de Fada às vezes começam assim também! 

Uma menina de nome Mytil 
Percorreu passado, presente e futuro, 
Junto de seu irmão, sua gata e seu cão, 
Guiados pela Fada Luz, à procura do Pássaro Azul. 

Chegando ao futuro, encontrou um lugar muito interessante, 
Onde conheceu um jovem casal de amigos 
Que foram separados pelo destino, 
Já que o menino embarcaria numa viagem e ela ficaria a chorar. 

Alguns anos depois, talvez uma cena semelhante tenha acontecido. 
Felizmente essa separação duraria somente vinte e três dias, 
Pois o destino os uniu novamente 
E assim permanecem juntos até hoje. 

Bom... juntos não é bem a palavra exata. 
Digamos que eles cresceram quase juntos, 
Compartilharam sonhos, livros de estorinhas, 
Trocaram confidências e sempre estiveram aqui. 

Com o tempo, ambos criaram fantasias isoladas 
E viveram seu conto de fadas, separadamente. 
Mesmo ela se dizendo “complicadinha e introspectiva” 
Sempre foi sonhadora, mas ele representou melhor o sonho. 

Criaturas da lua, “farinha do mesmo saco”, 
Conhecem mais um do outro do que qualquer pessoa existente, 
Pois suas almas foram unidas muito tempo antes de nascerem 
E isso ninguém poderá jamais mudar. 

Amiga mais antiga, amiga tão querida, 
Hoje ela descobriu o caminho da Fronteira Transparente, 
Conheceu o País dos Sonhos Verdes
E não é que ele estava lá à sua espera?” 


Feliz Dia do Amigo! Bom Dia! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

O Vinho e o Frio

Este ano, o inverno, com seu frio rigoroso e persistente, ainda não apresentou as belas manhãs ensolaradas, com a geada cobrindo os campos e os jardins e muito menos nevou, como há quase um ano atrás. Com a promessa de frio lunar polar para os próximos dias, ter em casa um bom vinho sempre é uma boa pedida, já que sair para jantar e degustar tal iguaria é uma coisa um pouco complicada. 

Lá nos “antigamentes”, quando não havia a Lei Seca (por sinal, uma excelente lei), eu gostava de frequentar a Pousada dos Eucaliptos, lá em Petrópolis, e tomar uma canja, acompanhada por uma taça de vinho, toda quinta-feira, durante o inverno. Era um local super agradável, administrado pela ONG Cruzada do Menor, sem fins lucrativos e que, infelizmente, virou outro investimento imobiliário, quando as contas foram maiores que a receita (o link que deixei é antigo, mas dá para ter uma ideia do charme do lugar). Depois, transferi minha degustação para uma padaria, perto de casa, que servia sopas variadas aos domingos, quando também apreciava um vinho. 

Lendo assim pode parecer que sou um “expert”, um enólogo ou mesmo outra coisa não tão chique; não é nada disso: eu pouco entendo do assunto, não imagino que vinho eu tomava nessa época (era “da casa”, servido em taça ou caneca), mas ajudava a enfrentar o frio que lá também não era moleza. 

Vindo para o sul, tive a oportunidade de conhecer algumas vinícolas, sendo, a mais recente, a Vinícola da Serra, em Pinheiro Preto. Um lugar muito legal de visitar e, na degustação, fiquei encantado pelo vinho artesanal, produzido com quase todas as mesmas técnicas vindas da Itália à exceção do “pisar nas uvas”, e trouxe pra casa algumas garrafas. A única coisa chata disso tudo é que, para conseguir renovação do estoque, só indo lá ou encomendando diretamente. Por um lado é uma vantagem, em relação à qualidade, mas complica um pouco com certeza. Fica a dica e 'bora tomar um vinho porque o frio já bate na porta (mas se beber, não dirija).  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 13 de julho de 2014

Edelweiss

♪”Edelweiss, edelweiss, every morning you greet me... small and white, clean and bright, you look happy to meet me... blossom of snow... may you bloom and grow, bloom and grow forever... edelweiss, edelweiss, bless my home-land forever”♬ (Richard Rogers - “Sound of Music” - 1965) 

Quando o capitão Von Trapp preparava sua fuga, através dos Alpes, com sua família, todos na plateia cantaram “Edelweis”, como se fosse um hino de amor à Áustria. Foi algo do tipo “torcida brasileira cantando o Hino Nacional à capela” e foi muito emocionante, para quem viu o filme “A Noviça Rebelde”. Nessa época, Julie Andrews ainda curtia o sucesso de “Mary Poppins”, mas o grande sucesso foi sua personagem Maria em “Sound of Music”. 

Se você não tem a menor ideia do que eu estou falando, sugiro procurar no Google antes de viajar para a cidade de Treze Tílias, onde tive o prazer de desfrutar uma atmosfera austríaca, numa cidade super acolhedora e polo da imigração austríaca no país. Da Áustria, a grande representação encontrada foi o Tirol austríaco, com suas danças típicas, bem semelhantes às que eu conhecia de Petrópolis e que via na Bauernfest, porém com uma grande diferença: são bem mais teatrais, contam mais histórias e são bem divertidas. Mais interessante ainda são os grupos que eu vi, compostos por garotos e garotas muito jovens, muito bonitos e que, efetivamente, estavam se divertindo muito com o que estavam fazendo. Distribuíram sorrisos e simpatia durante todo o tempo da apresentação, levando quase ao delírio a plateia. 

Outra coisa muito importante, para uma viagem dessas, é saber que edelweiss é uma flor que nasce nos Alpes, é a flor nacional da Áustria e da Suíça, e que dá um puta grande trabalho para colher, porque ela nasce em locais montanhosos e de difícil acesso, mas a moça que a recebe de presente tem direito ao amor eterno de quem, a flor, ofertou. Só acho que a coisa poderia ser mais simples, já que se a moça cobrar isso ao pretendente, ela também pode estar tentando se livrar dele porque, acredito, alguns que foram buscar a flor ficaram por lá mesmo (os detalhes mórbidos eu vou deixar pra lá). Você pode comprar uns exemplares lá em Treze Tílias, conservadas de alguma forma e que também duram um bom tempo, mas ai acho que fica sem graça (melhor uma rosa mesmo que é mais típica no Brasil). 

Tradições... coisas que passam de pai para filho durante gerações... algo que, às vezes, alguns mais jovens deixam escapar, mas não será o caso da garotada que eu encontrei pelo caminho. Muito menos, também, da pequena Ana Clara, de sete anos. De família italiana (aí já foi na viagem de volta, numa vinícola na cidade de Pinheiro Preto), ela participa da pequena apresentação da vinícola, esbanjando simpatia e inteligencia na hora de oferecer os produtos fabricados pela sua família. 

Enfim... nada como um final de semana de descanso, com boas companhias e um banho de cultura. Deixo, pra vocês a música tema, recomendando o filme. Como diria um amigo: “É velho, mas é clássico”.

  



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Os Três Anões e o Mundo de Zofia

Enquanto o Planalto Norte ficava inundado/ilhado pelas chuvas e a Copa começava, impedindo que o resto do mundo soubesse da tragédia, já que a mídia só conta o que interessa, a chegada de um pacote de livros, encomendados pela Internet, informava que eu já não estava mais tão isolado como antes, pois chegou via SEDEX e conclui que alguns acessos já estavam liberados. Normalmente eu escolho livros numa livraria física, mas acabei escolhendo na livraria virtual, baseado nas sinopses e críticas. 

O primeiro que li, e terminei ontem, foi “O Estranho Mundo de Zofia e outras histórias” (Kelly Link, 1969; tradução: Cassius Medauar; Editora Leya – 2010), aproveitando que na televisão só havia a Copa e reprises de séries, o que criou grandes intervalos para a leitura. A crítica do livro era ótima, chegando a receber uma opinião do Neil Gaiman (Sandman, Stardust) que dizia: “Kelly vai inserindo uma palavra de cada vez em seu texto, transformando todas em mágica. É uma autora singular e deveria ser considerada um tesouro nacional”. 

O livro até é interessante, mas lembrou alguns comentários que eu recebi, no tempo que escrevia no “Conto de Fadas?”, quando me perguntavam o que eu bebia no que eu me inspirava para escrever, já que muitos textos ninguém entendia. Garanto que, apesar de algumas coisas irem para o blog após algumas festas, onde havia uma gelatina meio “malhada” (a tal da “gelapinga”), em boa parte eu somente escrevia o que dava na cabeça e o que eu tinha vontade, mas de uma forma muito hermética. A mesma impressão eu tive do livro de Kelly, mas eu acho que ela tomou mais gelatina do que eu. 

Aí lembrei de um conto do Klaus, que se chama "Os Três Anões", publicado no “Contos de Fada?” em 2009, e que reproduzo a seguir. As histórias de Kelly seguem uma linha semelhante, mas achei esse conto contemporâneo, já que o Brasil perdeu a Copa do Mundo num vexame sete vezes pior do que em 1950. 

“Era uma vez... 

Três anões: Triste, Muito Triste e Mais Triste Ainda, que viviam num condado, no sul de Depreção City, local tão deprimente que nem o nome da cidade era escrito de forma certa. 

Triste, o mais velho, deserdou de um grupo de outros sete anões, quando seus coirmãos não quiseram mais dividir a brancura de Neve. Muito Triste é filho de Triste com Neve e Mais Triste Ainda é um amigo imaginário de Muito Triste, tão triste que é, jamais teve amigos reais. 

Um dia eles cresceram e desenvolveram muitas habilidades mentais, dentre elas, a capacidade de transformar tristeza em força interior, enquanto o pai, um anão pouco desenvolvido, via, na tristeza, a vontade de morrer. 

Os filhos, sim, porque ele adotou o amigo imaginário de Muito Triste, por sua vez faziam da tristeza motivação: um exemplo foi quando ambos se apaixonaram pela mesma guria, Nevinha... sobrinha de Neve. 

Quando finalmente Muito Triste conseguiu marcar um encontro com Nevinha, Mais Triste Ainda ficou o elevado ao quadrado de seu nome, contudo, no fundo, pela primeira vez na vida, sentiu uma ponta de felicidade. 

Muito Triste, por sua vez, sentiu muita tristeza pelo irmão imaginário, mas pela primeira vez, sentiu a parte submersa do iceberg de felicidade, quando, então, resolveram se unir... 

E o que os livros contam até hoje é o seguinte: quando o excesso de tristeza se une ao excesso de tristeza, tem-se excesso demais para não reagir... 

E por isso q eu te digo meu caro: - existem histórias com finais mais deprimentes do que a sua! E essa foi uma delas..." 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Klaus Pettinger é jornalista, escritor, fotógrafo (principalmente de raios e tempestades) e trabalha em alguma coisa que não me lembro, mas que não é em nada disso que já falei. Conheça seu blog “Klaustrofobias” em http://klaustrofobias.blogspot.com.br/