domingo, 28 de dezembro de 2014

O Velho, O Preto e a Sabiá

Naquele período, onde você aprende com seus pais o que é certo e o que é errado, eu aprendi que não era socialmente correto chamar um senhor de idade avançada de “velho”. Aprendi isso quando entrei num ônibus, com minha mãe, fiz exatamente isso e levei um “pito”, pedindo desculpas a seguir (bons tempos em que as crianças recebiam boa educação). Hoje em dia esses “senhores de idade mais avançada” são chamados de “pessoas da melhor idade”. Tudo vai mudando, para não ofender ninguém. Só que, na poesia, nem sempre isso é possível. Imagine os tradutores da obra de Ernest Hemingway colocando o título como “O senhor, na melhor idade, e a vasta extensão de água salgada que cobre grande parte da superfície terrestre”. 

O velho era muito velho. Já vivia sozinho há muitos anos, desde que sua velha partiu para lugares melhores, onde todos iremos um dia. Passava parte do mês na cidade e parte do mês na casinha interiorana, onde recebia visitas e cuidava das suas galinhas. Durante o dia, nos vários momentos de folga, ficava sentado na varanda ou, então, cochilando no sofá, quando não andava pela cidade. Gosta de doces e se você for visitá-lo, leve de figo ou de pêssego, mas ele não rejeita pudim de leite. Um belo dia, ele ficou doente (velho fica doente, não é mesmo) e não apareceu na sua varanda durante um bom tempo. 

Chamar alguém de preto pode ter um tom pejorativo. Aí, o socialmente correto virou “pessoa afrodescendente”, até que descobriram que 67,1% dos genes de Luiz Antônio Feliciano Marcondes, o Neguinho da Beija-Flor, têm origem na Europa e apenas 31,5%, na África (clique aqui para conferir). Ele é branco? E eu? Por que eu não sou “afrodescendente”? 

Enfim, lá na casa do velho tinha um preto que cuidava das galinhas, na sua ausência. Era velho, mas não era tão velho e também não era um preto velho, se bem que era umbandista, mas disso eu não sei nada direito. Muito conversador, uma barriga invejável e, até agora, não sei como ele conseguiu passar pelo alçapão que dá acesso ao forro da casa, onde ele lavou a caixa d'água. Quando ele chegava perto das galinhas, elas já sabiam que era o horário da comida e iam na sua direção (com o velho era a mesma coisa). Eu também cheguei perto do galinheiro, mas as galinhas não vieram na minha direção. Ficaram imóveis, como se alguém tivesse gritado “estátua”, que nem naquela brincadeira infantil, lá do meu tempo. 

Sabiá é um pássaro, mas também é personagem da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. Além disso, é nome da música vencedora do III Festival Internacional da Canção em 1968. Recebeu uma vaia enorme porque o público queria (queria?) “Caminhando” do Geraldo Vandré. Várias outras músicas falam do pássaro que é bem interessante. 

Lá na casa do velho, onde também tinha o preto, uma sabiá (para concordar com o Chico Buarque) chegava na janela da copa e ficava batendo, com o bico, no vidro da janela. Servia para me acordar, pois mantinha o mesmo horário, logo com os primeiros raios do sol. De tarde voltava e até em outros momentos. Disseram que ela fazia isso porque via seu próprio reflexo e pensava que era outro da mesma espécie. Ah! Que falta de poesia! Tenho certeza que a sabiá só fazia isso para ver se o velho aparecia, quando ela voava de novo. Se as galinhas reconhecem aqueles que as alimentam, claro que a sabiá também reconhece seus vizinhos. 

Aí o velho ficou bom da doença (foi coisa rápida), mas andou debilitado e passou mais tempo na casinha do interior. As galinhas ficaram contentes, o preto teve com quem conversar e a sabiá voltou a chamar na janela. 

Bons momentos de cidade do interior...  

"Não permita Deus que eu morra 
Sem que eu volte para lá 
Sem que desfrute dos primores 
Que não encontro eu cá 
Sem que ainda aviste as palmeiras 
Onde canta o sabiá"  





Boa Tarde! Eu sou o Narrador.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Entre Tartarugas, Golfinhos, Pássaros e Tubarões

”Os passageiros sentados à esquerda do avião estarão vendo Noronha, durante nosso voo panorâmico, antes do pouso; os passageiros sentados à direita estarão vendo os passageiros da esquerda vendo Noronha.” 

Chegar ao arquipélago é uma sensação indescritível e a “zuera” já começou no voo com as informações do comandante. É interessante ver as pessoas desembarcando, muito animadas e sem ter a menor ideia do que vão encontrar pela frente, enquanto os que vão embora estão francamente exaustos, mas certamente satisfeitos. Particularmente eu pensava que encontraria algo mais rústico, tipo Ilha da Fantasia, com o Tattoo e o Sr. Roarke nos esperando, mas encontrei um receptivo muito organizado, com ônibus com ar condicionado, e cumpridor de todos os horários. Só que antes de encontrar nossos recepcionistas, preenchemos nossa ficha, no melhor estilo “Big Brother”, e passamos à categoria de monitorados durante toda a estadia; nossa individualidade fica entregue aos roteiros e mesmo aqueles que seguirão por conta própria terão suas fotografias aparecendo nos computadores presentes nos acessos às praias. O contato com o mundo exterior é bem restrito, já que não há WiFi com facilidade, o 3G ainda é projeto e o celular só pega em alguns locais. Considerando tudo isso, o que importará é a felicidade de interagir com a natureza sem a menor possibilidade de resolver alguma coisa que surja lá de onde você veio.

Fiquei no Sueste, uma linda praia de águas calmas e cristalinas, onde existe um ponto de apoio para o turista comprar o cartão de acesso ao parque (necessário para quase tudo e é complementar à taxa de preservação ambiental que você paga no aeroporto ou, antecipadamente, pela Internet). Nesse ponto de apoio você também encontra água potável, mais em conta, se você tiver um squeeze para abastecer (pode comprar um lá também). Vale muito a pena e essa iniciativa reduziu em mais de 60% o lixo gerado pelas garrafas pets. Na praia do Sueste você pode fazer um passeio no mar, naturalmente com equipamento de mergulho e colete, onde você é rebocado por um guia e observará, com segurança, muitas tartarugas, muitos peixes e até um ou outro tubarão. Diz a lenda que não há qualquer registro de ataque de tubarão a seres humanos na ilha, se bem que nem todo mundo que é atacado por um tubarão volta pra contar a história (segundo um dos diversos pesquisadores que ministram palestras, interessantíssimas e imperdíveis, na sede do Projeto Tamar – a “zuera” continua até nas palestras). 

Noronha possui diversos atrativos que modificam dependendo da época do ano e é importante o turista pegar essas informações; efetivamente não é um roteiro estável e se a pessoa não programar muito bem, corre o risco de não gostar (principalmente se for um chato!). Fiz passeios básicos, com caminhadas leves (mas descobri mais alguns músculos desconhecidos mesmo assim), e bem completos por conta do guia que nos levou no chamado “Ilhatur” (não vou dar muitos detalhes porque tudo é “encontrável” na Internet – pesquise antes, pois lá a internet rápida é mais lenta que um modem de 28kbps); na sequência veio o passeio de barco que é acompanhado, em parte, pelos golfinhos rotadores e essa é a melhor parte do passeio. Existe um mirante para observar o descanso dos golfinhos também, mas, infelizmente, não os avisaram que iríamos lá e só valeu pela vista mesmo. Por último, veio um passeio pelo centro histórico, onde fica um grande reparo, pois não há qualquer conservação razoável do pouco que sobrou das construções. 

Apesar de paisagens fascinantes, a impressão que tive é que tudo vai acabar por conta da degradação ambiental. Por mais que os pesquisadores se esforcem, a destruição começou no passado com a introdução de espécies exóticas como o “mocó” (uma espécie de preá que era usado para “tiro ao alvo”, porém eles reproduzem muito rápido e se alimentam de cascas de árvores, contribuindo para o desmatamento), assim como um lagarto de hábitos diurnos que foi introduzido para comer ratos e sapos (que possuem hábitos noturnos) e encontrou alimentos nos ovos das tartarugas, e outras espécies da flora e fauna. Uma coisa é boa: não existem cobras na ilha (mas existem mosquitos e o repelente faz parte do arsenal do turista, assim como o filtro solar). 

Em muito pouco tempo você vira “morador”: rapidamente descobre o trajeto do ônibus, descobre onde comer gastando menos (mas tudo é caríssimo, não se iluda), conhece vários estagiários voluntários (que passam lá de dois a seis meses – se o leitor é estudante de biologia, turismo e afins, vale a pena conferir o site do ICMBio), além de outras coisinhas que tornam a visita mais interessante. 

Algumas dicas: 
- O lance do squeeze é bem legal. 
- Geralmente às segundas e quintas, na praia do Sueste, os biólogos do ICMBio fazem a “captura intencional da tartaruga”, para marcação e estudos, e isso é aberto ao público. 
- As palestras na sede do ICMBio são diárias e é um ótimo programa para iniciar a noite. Ao lado existem dois restaurantes que buscam você na pousada e depois levam de volta (desde que você jante por lá). 
- Se você for à praia da Atalaia, pesquise antes, pois é necessário agendar e você deve usar uma vestimenta com fator de proteção solar, além de outros equipamentos de mergulho (se for o caso). As blusas com FPS 50 são fáceis de achar em Noronha e não são caras. 
- A melhor “lojinha de lembrancinhas” (se é que vai sobrar dinheiro pra isso) fica na única farmácia local que é próxima do Restaurante Flamboyant, onde há buffet a quilo (100g custam o mesmo que 1 litro de gasolina – preço Noronha). 
- À exceção do passeio de barco tradicional, use tênis em todos os outros e leve o chinelo na mochila. 
- Para quem vai sozinho, contratar um pacote e um receptivo pode sair mais em conta do que fazer tudo “na unha” 
- A “zuera” faz parte do passeio.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

When You Wish Upon a Star

Passei vários dias sem acesso à Internet, com telefone limitado a alguns locais e isso foi ótimo. É aquela sensação de que nada disso faz falta, que são somente instrumentos facilitadores e que você vive sem eles sem grandes dificuldades. O único problema é que programei um texto para o dia quinze, falando do Walt Disney, que morreu em 15/12/1966, mas ai não teve jeito, pedi mais uma cerveja, e vou mandar o texto hoje mesmo. 

Esse ano, que já vai terminando (e que já vai tarde), foi marcado pela morte do Roberto Bolaños, criador do Chaves e do Chapolin, e houve uma comoção muito grande nas redes sociais, citando que ele fora o ídolo da infância de muitos o que me fez lembrar dos meus ídolos infantis. Além do tradicional “Sítio do Pica Pau Amarelo”, meu primeiro contato com a fantasia veio justamente dos chamados “filmes da Disney”, como Branca de Neve, Cinderela, Pinóquio e o grande clássico Mary Poppins, que outro dia é que eu fui saber (vendo um filme também da Disney) que era baseado em livros infantis e que deu muito trabalho para virar filme (sua autora, P.L. Travers, não gostava das coisas do Walt Disney, achava algo mercantilista demais para o gosto dela). Um detalhe interessante é que descobri que o Disney era um homem quando ele morreu; eu achava que era outra coisa, sei lá bem o que, mas recebi a explicação quando, nas revistinhas do Pato Donald, Mickey, Tio Patinhas, apareceu o desenho dele, com seus personagens chorando, e um texto do Victor Civita, dono da Editora Abril, que distribuía as revistinhas, lamentando a perda. 

Aprendi a ler muito cedo e tenho certeza que os quadrinhos ajudaram no meu gosto pela leitura. Adorava o Tio Patinhas e aquela piscina de dinheiro; o Manual do Escoteiro Mirim era sonho de consumo até que, um dia, ele foi editado e vendido nos jornaleiros. Junto com essa fantasia toda, claro que havia a Disneylândia e a viagem até lá, com a “Vovó Stella” ou, mais adiante, com a “Titia Augusta”, era o desejo de toda criança daquela época. No meu caso não rolou e troquei essa ideia pelo Parque do Beto Carrero, mas também só fui lá na idade adulta. 

Hoje a antiga Disneylândia mudou muito, tem outros parques associados, mas a fantasia continua por lá. Mercantilismos à parte, o que interessa é que tudo começou na cabeça do Walt Disney e a inesquecível música do filme Pinóquio é a minha contribuição para marcar o aniversário da morte de um grande sonhador. Se eu ainda vou “na Disney” algum dia? Nem imagino, mas quando eu for eu conto aqui, afinal... “Se você pode sonhar você pode fazer”!



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Pedal e o Descobrimento

Escrever dois textos no mesmo dia seria arriscado se o objetivo do blog fosse outro que não o meu prazer na escrita. Claro que meus quinze leitores fixos são importantíssimos e hoje terão um pouco mais de trabalho, assim como os leitores eventuais. 

Quando a gente entra de férias geralmente temos alguma programação, além de acordar mais tarde e não ter muita hora para nada. Eu continuo acordando cedo e evito o ócio de alguma forma. Verificando o tempo livre, aceitei a proposta de Alice e parti pra Joinville no último final de semana. Geralmente minhas visitas incluem umas comprinhas, um cineminha, uma saída à noite e volta no dia seguinte, mas, dessa vez, resolvi procurar alternativas e a amiga acompanhou minhas ideias. 

A primeira foi um passeio de bicicleta pela cidade. Sim! Bem legal, né? Só que eu não coloquei a bicicleta no transbike e percorri os cento e noventa quilômetros equilibrando a magrela. Há alguns meses eu descobri que tem um passeio promovido pelo Dr. Bike (apelido do Daniel Rodrigues) através da Pedaltur, que aluga as bicicletas. Preferi o período da tarde e, por sorte, não havia muito sol, mas o dia estava agradável. Conhecemos o Instituto Internacional Juarez Machado, o Museu Nacional de Imigração e Colonização, além de outros pontos turísticos que sempre estiveram lá, mas, as vezes, a gente esquece disso e não faz a visita. 

No dia seguinte, visitamos o Memorial do Descobrimento que fica no posto Sinuelo na BR 101, caminho para Florianópolis. Sempre tive curiosidade de conhecer, até porque essa paradinha no posto é bem típica dos viajantes, principalmente para a turma das excursões ao Beto Carrero. O local é sensacional e a réplica da caravela é muito boa, fazendo a imaginação voltar aos tempos do Cabral (o Pedro Álvares e não o outro). 

Claro que também fui aos shoppings, fotografei a decoração de Natal e ainda comprei minha agenda 2015. Para encerrar os trabalhos, jantar num restaurante árabe, com direito a danças típicas e a presença adorável da Laura. 

Para tratar o passeio de bike, o telefone de contato é (47) 99013141. O Memorial fica aberto todos os dias, desde que não chova, mas vale a pena telefonar para lá e confirmar os horários através do telefone (47) 3447.7100.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Idiocracia - O filme

No dia que completo trinta anos de formado (hoje), optei pelo descanso, mas a leitura de algumas notícias na internet coincidiram com um filme passado no canal "FX" de forma muito interessante. Na Folha de São Paulo, a notícia era que a “Prefeitura de SP aprova aluno com nota vermelha”; no blog Maternar lemos que “Na contramão, parques de SP proíbem até bicicletas de crianças”; no Diário Catarinense, “Vídeo de bebê que não deixa a mãe dormir viraliza nas redes sociais”; ainda na Folha, “Juiz perde voo e dá voz de prisão a funcionários da TAM no Maranhão”

Considerando que essas notícias já fizeram a segunda-feira meio difícil, preferi ver/assistir um besteirol na televisão mesmo, como já falei antes. Calhou de ser o filme “Idiocracia” ("Idiocracy"), produção de 2005/2006, onde seu produtor/diretor Mike Judge (criador de Beavis and Butt-Head), segundo a Wikipedia, “escreveu Idiocracy como um meio para cumprir o seu contrato de dois filmes na "20th Century Fox" e encontrar um local para expressar seu ponto de vista sobre a trajetória da sociedade estadunidense. Imaginado como um "2001 que deu errado", onde a sociedade piorou em vez de melhorar.” O filme nem foi lançado, ficou escondido e, nos poucos lugares que apareceu, nem houve promoção (foi algo do tipo “cumprir tabela”), sendo uma das piores bilheterias de todos os tempos. 

Realmente, como filme, ele é péssimo e a única coisa que presta é a narração que explica toda a evolução durante os anos. Imagine o tema clichê da experiência de congelamento, que duraria pouco tempo, mas, por motivos diversos, ela é esquecida, o sujeito fica congelado quinhentos anos e surge numa terra destruída, não pela hecatombe nuclear e sim pela ignorância dos seus habitantes. Nesse futuro, ele faz um teste de QI, onde a pergunta é ridiculamente fácil e ele é considerado o humano mais inteligente do mundo. 

Algumas pérolas como “os cientistas ficaram mais preocupados na produção de produtos para alisar o cabelo e produtos para melhorar a ereção”, a água potável substituída por um isotônico/energético (usado, inclusive, para irrigar as plantações que, naturalmente, não produziam nada), a mudança na linguagem para o uso excessivo de gírias e merchandising, além de uma baixaria sem tamanho, deram o tom de “humor negro” ao filme (a hecatombe nuclear seria um destino melhor para a humanidade). 

Durante toda minha carreira, eu tive que estudar muito. Antes, ainda no colégio, os professores eram rigorosos, a média era alta e se não houvesse esforço, o resultado era reprovação mesmo. Fui educado no tempo em que "passar de ano" não era motivo de comemoração e sim de “não fez mais do que a obrigação”. Obrigação? Claro! Estudar é a obrigação infanto juvenil, antes de virar força de trabalho, quando outras vão surgir. Aprendendo, desde cedo, o jovem chega na faculdade com esse bom hábito e, depois, continuará estudando, para passar nos concursos e conseguir encarar o tão difícil mercado de trabalho. Quando tiramos essa obrigação das crianças, já que "passarão de ano" mesmo sem a nota necessária, não podemos acreditar que elas chegarão na idade adulta capazes de sobreviver sozinhas e viverão às custas do assistencialismo. Claro que criança deve brincar também e chega a ser surpreendente isso não acontecer nos parques públicos. Melhor o vídeo game? Vamos combinar né! 

Ah! Uma coisa interessante também (que hoje é uma queixa frequente por ai): dormir é um privilégio dos solteiros sem filhos. Já diziam os meus mais antigos, que devemos aproveitar para dormir tudo que temos direito antes deles nascerem, porque depois eles serão pequenos e levantaremos várias vezes durante a noite; quando crescerem, a coisa piora muito, pois estarão nas festas dos amigos, terão carros e, um dia, nos darão netos, onde o ciclo recomeçará. 

A reportagem sobre o a prisão dos pobres funcionários da empresa aérea dispensa outros comentários, mas vale a pena conferir a tirinha do Porco Espírito a respeito. Os links para as matérias, assim como para a tirinha, estão “coloridos” como expliquei em outro texto. Quanto ao filme, vale a dica... é interessante pensar nessa possibilidade, pois não estaremos lá, mas nossos descendentes estarão. Que tal evitarmos isso (a hecatombe nuclear também deve ser evitada)?


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O Dia Que Mataram o Narrador

”Era uma vez uma linda donzela, que vivia na favela do Atirado. Ela sonhava em encontrar seu "Belo Encantado", mas não sabia muito bem para qual Bangu ele havia sido transferido. Até que um dia... Aaahhhhhhhh...
 - Ei, Narrador. Narrador acorda! Não faz isso comigo, Narrador! Ah, não acredito! Quando finalmente raiou o tão esperado “até que um dia...” o Narrador me bate as botas.” 

- Calma, Dona Natasha! 
- Ana Paula, por favor. 
- OK, Dona Ana Paula. O que o Narrador fazia na sua casa lá na favela do Atirado? 

Há alguns anos atrás, cansada de ser sacaneada pelo Narrador e seus textos, Ana Paula não resistiu e sequestrou o sujeito. Submetido à torturantes sessões de música sertaneja, ele finalmente resolveu quebrar o galho e tentou um texto mais bacaninha e essa história foi contada em outro blog, por outro escritor. O grande problema, que resultou na sequência dos eventos relatados, é que ela não gostou do nome do escolhido, já que o lance dela era sertanejo universitário e não pagode. Além disso, de donzela ela não tinha era nada. 

- Isso já é mais difícil de explicar, delegado. Dá pra pular essa parte? 
- Hum... por enquanto, talvez. Nesse momento entraram os policiais e aí o que aconteceu? 

Ana Paula seguiu seu relato, tentando resumir a situação.

- Foi uma confusão danada. Mandaram todo mundo para o chão, apesar que “todo mundo” era só eu mesma, já que o Narrador estava lá, jogado no assoalho (imundo) do barraco. Com muita discussão, resolveram colocar o corpo do pobre coitado na mala de um fusca, pois falaram que bastaria "usar uma chave sextavada e tirar o pedal que caberia sem problemas". O que realmente aconteceu, é que quem escreveu o texto original, ficou sem ideia e resolveu mudar o rumo da prosa. 
- Como assim, Dona Natas... digo... Ana Paula? Rumo da prosa? 
- Sim! Na versão original!
- ??????

“- Narrador! Você não morreu?! 
- Na verdade sim, mas esse escritorzinho mixuruca não estava encontrando um jeito de continuar a história sem mim! - disse o Narrador, em claro ato de insubordinação. 
- Que ótimo. Eu também não vivo sem você. Desde que eu nasci, você vive me dizendo o que fiz, faço ou farei! 
- É para isso que servem os narradores de contos de fadas!” 

- Mas a senhora não falou que ele vivia te fud... digo... escrevendo contos depreciando sua moral? (uma gargalhada enorme ecoou no salão, onde vários outros policiais conversavam). Cala a boca, piazada! - ele gritou - Pode continuar, Dona Ana Paula. - disse o delegado, pouco entendendo do que ela estava contando (da mesma forma que o leitor).

“Então, num súbito ato de bondade, o escritor (do outro blog) coloca um portal de outra dimensão nessa história, para o qual Ana Paula e o Narrador correram freneticamente, sob o olhar catatônico dos policiais, quando o improvável aconteceu: 

- Narrador, o que é isso? Que coisa esquisita é essa? Parece que eu estou surfando e... 

Então ela se deu conta. Esforçando-se para compreender aquela situação muito além da própria imaginação, viu-se diante do improvável.” 

- Dona Natasha! Para de enrolar! 
- ANA PAULA! MEU NOME É ANA PAULA, PORRA! (outra gargalhada ecoou, agora vindo das celas, onde vários presos observavam a movimentação). 

“ Ela percebeu que estava presa no Google! Que?! No Google, o portal de internet. 

- Não foi isso que eu pedi! Eu, o Narrador, queria um portal de outra dimensão, tipo daqueles que você entra no armário e vai parar em Nárnia! 
 - Narrador, Narrador... Olha só o que sua insubordinação nos causou, Narrador! 

No início, tudo era esquisito. Visitaram o Orkut (na época não existia o Facebook), pulando de perfil em perfil, machucando o rosto dos usuários. Depois foram parar no You Tube, copiaram e descolaram uma pipoquinha do Google Imagens e viajaram o mundo pelo Google Earth, quando, então, cansaram. 

- Ai, Narrador. Estou cansada. Meus pés estão me matando. Minha cabeça está doendo. Essa história não poderia ter sido mais tradicional? 
- A culpa não é minha. Reclama pro outro que está escrevendo essa sandice! 

Decidiram voltar. Clicaram em “sair” no Orkut, deslogaram do You Tube, abriram o Google Earth, digitaram Rio de Janeiro e pularam sobre a favela do Atirado.” 

Só que caíram mesmo foi em Guarapuava, justo na delegacia 

“- Que palavreado indigno para uma donzela. Vai pro Rio de Janeiro, lá para Bangu! 

O Narrador foi poupado, pela sua idade avançada. 

- Deixa esse velhinho gagá aí. 

A linda donzela passou 15 anos presa por desacato à autoridade, tentativa de fuga ultradimensional e um homicídio. 

- Homicídio? - perguntou o Narrador, insubordinando-se novamente. – Mas eu não morri. 

Em Bangu ela encontrou seu Belo Encantado, que morreu de amores por ela – eis o real homicídio. Houve outro crime, como uma música dele para ela, que fala algo sobre “mel, sua boca tem um céu, e com esse hálito não dá, mas eu queria te beijar”

- Narrador estúpido, “sua boca tem um mel e melhor sabor não há, que loucura te beijar”. 
- Foi o outro que escreveu isso, Natasha! 
- ANA PAULA, CARALHO! 

Por fim, segundo o escritor do texto original, Narrador agradeceu-a por gravar esta música-chiclete em sua memória e, lamentando-se por isso, informou que ela e seu Belo Encantado viveram felizes para sempre.

Achou o texto esquisito? Sem dúvida o original é muito mais divertido e você pode conferir em “Klaustrofobias”, clicando aqui. Há muito tempo eu queria fazer essa versão e hoje saiu. Ah! Como isso é uma versão livre, parte copiada e colada (entre aspas) e não autorizada, Ana Paula não está presa e vai aparecer num outro texto, mais tradicional, por aqui mesmo! Isso se eu não for processado pelo dono do original!  

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 30 de novembro de 2014

Preparando o Natal

Já conhecia Alice há algum tempo, mas posso dizer que nos vimos, pela primeira vez, no final de 2005, quando fiz um roteiro a partir de Balneário Camboriú que incluiu o Parque Beto Carrero e, finalmente, Joinville. O encontro foi no Shopping Mueller e foi bem mágico porque era quase Natal, ela levou suas fadas (que hoje já são crescidas, a mais velha passou no vestibular, a mais nova debutou numa festa de chocolate com direito ao Wonka e tudo o mais), a decoração do shopping estava muito bonita e até encontramos com o Papai Noel. 

Alguns anos depois, os encontros ficaram mais frequentes (digamos que demoram menos tempo para acontecer) e acabou que eu ganhei um certo gosto de fotografar decoração natalina por ai. Efetivamente não sei ao certo se as cidades é que se esmeraram nesse aspecto ou se eu fiquei mais observador. O que eu sei é que tirei muitas fotos e há três anos eu faço álbuns no Facebook com o tema. 

Como hoje é o dia de começar a montar a árvore de Natal, além de montar a minha, comecei o álbum novo e achei interessante fazer uma coletânea dos últimos anos no vídeo abaixo. Espero que curtam o trabalho e, aos poucos, outras novidades surgirão (inclusive verei Alice, novamente, só não sei exatamente o dia) 



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O que você vê quando fecha os olhos?

Tenho o costume de deixar uns links que (teoricamente) aparecem em palavras ou frases com alguma cor diferente (geralmente azul). O objetivo é dar ao leitor alguma coisa a mais do que o texto ou, então, referenciar para o local da ideia original. O texto de hoje tem alguns links, mas não é sobre isso que vou falar. 

Há alguns dias uma frase/pergunta sempre vem na minha cabeça: “O que você vê quando fecha os olhos?” 

Outro dia falei de robôs, no texto “O Homem Bicentenário" (apareceu colorido: é link, confira) e acho esse tema interessante. Lá o leitor conheceu as “Leis da Robótica” e, outro dia, conheci outras nuances sobre inteligência artificial (A.I.) vendo (assistindo) o filme “Eva”. Dei uma pesquisada e encontrei coisas legais no blog "Cinema Secreto: Cinegnose" que, conforme ele mesmo explica, “é um blog dedicado à divulgação e discussões sobre pesquisas e insights em torno das relações entre Gnosticismo, Sincromisticismo, Semiótica e Psicanálise com Cinema e cultura pop.” No final das contas, essa frase (dita no filme) é o que desliga/mata/faz entrar em colapso os seres dotados de A.I. e ocorre porque é uma pergunta meio irracional, já que para enxergar é necessário a abertura dos olhos. É algo do tipo “ver TV” ou “assistir TV”: o que será que é o correto? 

A mente humana permite "digerir" essas coisas meio paradoxais e que, na língua portuguesa, surgem a todo momento. Como explicar para o David (A.I. do filme do mesmo nome e que foi cover do Pinóquio) que a "Fada Azul" era coisa de outro filme? Alguém viu as dúvidas do Sr. Data, da série Star Trek – Next Generation (passa, atualmente, no canal pago SyFy) quando a rainha Borg quis resolver seu problema de ter sentimentos? Outro dia, em outra evolução de Star Trek para Star Trek Voyager, o “Doutor” (que é nada menos do que um holograma) teve parte de sua memória apagada por conta de uma “crise de consciência”, criando problemas para os demais tripulantes. Agora imagine: se isso já é complicado para os A.I. como será que funciona conosco? (se alguém souber, favor colocar nos comentários)

Voltando ao filme “Eva”, produção espanhola de 2011, a cena acontece no ano de 2041. Sem dar maiores detalhes, é bem interessante ver como seria a evolução robótica: gato que funciona como gato, mas não precisa de caixa de areia e nem de castração (pet shop nem pensar); funcionário do lar que pode mudar seu nível de comportamento a critério do dono (mais simpático, mais formal, coisas assim). Apesar disso tudo gerar algum tédio, bem que a ideia é interessante. Para os entediados, eles tentam criar um A.I. com “alma” e já viu que isso não dá certo mesmo. 

Ouvir a pergunta fatal não me causou problemas (além do fato de ter demorado um tempo para escrever esse texto). A resposta é lógica: não vejo nada. Fecho os olhos e durmo, apesar que algumas pessoas fecham os olhos para não ver as intempéries à sua volta e outros fecham os olhos e fixam os pensamentos nas cagadas que fizeram. 

Esse texto foi duro, né? Se eu fosse um A.I. muita gente iria querer mandar a frase nos meus ouvidos. De qualquer maneira, confiram que o filme é muito bom. Fica a dica. 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 16 de novembro de 2014

O Pedal da Floresta

Quando eu tinha uns dez anos eu ganhei a minha primeira bicicleta. Era uma Caloi dobrável, vermelha e que a propaganda garantia que, uma vez “dobrada”, caberia na mala dianteira do fusca do papai. A primeira parte dessa saga, foi descobrir o que era uma tal de “chave sextavada” que tiraria o pedal, para – aí sim – conseguir colocar na mala. Como não descobrimos, o papai saiu com a bicicleta (empurrando) até uma loja própria onde o pedal foi retirado. Ai vem a pergunta que não quer calar: sem o pedal a bicicleta coube na mala do fusca? Ah! Esqueceram de falar que teria que tirar o estepe! E onde iria o estepe? No espaço atrás do banco traseiro! E as malas? Porra Caralho Que foda isso E quem foi que falou que as malas estavam incluídas no raciocínio? 

Pra simplificar as coisas, aprendi a andar, curti muito na adolescência, usei os ensinamentos em Paquetá e aí a coisa parou durante uns trinta anos até que fui morar em Petrópolis e ganhei uma nova bicicleta da minha mãe. Isso já foi uma manobra do papai. Eu explico: infelizmente mamãe falecera meses antes, mas ela tinha uma grana escondida em algum lugar que eu não lembro mais e isso virou o presente póstumo dela. Essa bicicleta foi dica do meu sobrinho (uma Caloi Aspen 2000), mas eu ainda precisaria treinar muito até conseguir sair do entorno do prédio que eu morava (eu fiquei dando voltas ao redor do prédio por várias semanas). Na primeira tentativa, não rodei nem um quilometro e optei por um transbike e aí poderia ir até o Parque Municipal com a bicicleta no carro (do lado de fora). Até que, um dia, consegui pedalar na rua. Hoje eu sou o tal ciclista urbano e faço meus passeios pela cidade mesmo. 

Só que existem aqueles caras bem legais que gostam de pedalar em trilhas (de preferência com lama) e, por conta disso, hoje rolou um “pedal” de cicloturismo dentro de uma floresta protegida pelo IBAMA. Minha bicicleta não é nem perto uma mountain bike, mas tem várias marchas e a coisa rola. Estudei o que eu achava que seria o percurso: uns 10 km no asfalto, umas duas subidas mais difíceis (que achei que dava para encarar) e depois uns 5 km de estrada de chão. Quando eles falaram que entrariam na floresta antes, aí eu vi que a coisa era séria, mas já era tarde para desistir. No primeiro obstáculo de lama, amarelei e passei a pé carregando a bicicleta; no seguinte já fui mais ousado, aumentei a velocidade e vi que o segredo era encarar sem medo. Até que, em dado momento, vislumbro ao longe um sujeito sentado depois de outro lamaçal: ele é que dava as dicas de como atravessar. Enlameado, consegui fazer o trajeto (tudo na subida) até a sede do IBAMA, onde rolava um evento. Lá a turma ainda fez um trajeto de mais 10 km que eu pulei e fiquei curtindo as atividades. 

Fiquei impressionado com a fome que tudo isso deu. Nem sei quantas bananas comi, além de barrinhas de cereal, muita água, um energético/hidratante com base em erva-mate (muito bom por sinal) e algumas deliciosas amoras, oferecidas por produtores locais. Alguns mosquitos depois, a volta foi iniciada com uma parada para almoço e, finalmente, cheguei em casa. Um bom banho, uma cervejinha para rebater, algumas horas lavando o tênis (que até agora tem lama) e um descanso, tentando entender que músculos são esses que eu não conhecia e que estão doendo. De qualquer forma foi tudo muito bom. Se eu vou fazer outra trilha dessas? Realmente eu não sei, mas isso só o tempo poderá decidir.

Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sábado, 15 de novembro de 2014

Dois Domingos

Para quem trabalha sábado (tirando os plantonistas, pois para esses não faz muita diferença), um feriado realmente é um feriado; para quem não trabalha, o dia vira um domingo só que um pouco diferente. Sábado é dia de supermercado, de lavar o carro (bom... hoje em dia, dependendo de onde você mora, é socialmente incorreto), fazer tarefas domésticas, cortar o cabelo e uma série de coisas que as pessoas não tem muito tempo para fazer, durante a semana, e que não farão no domingo. 

Proclamação da República é feriado nacional, "caiu", este ano, num sábado e aí tudo que eu falei não aconteceu. Nem o cinema abriu (ele fica num supermercado) e a manhã primaveril, curta como as noites (durante o horário de verão), com alguma nebulosidade, temperatura amena e muito sonolenta, foi o que tivemos para hoje. Por um lado isso foi bom, pois as estações estão enlouquecidas e a primavera já não é mais como antigamente (se bem que hoje lembrou os bons tempos). 

A última vez que eu lembro dessa coincidência foi nos dois primeiros dias do ano de 2011. Naquele dia, Adrielle estava feliz, pois seu amigo (o menino) voltara de uma longa jornada, onde fora curar as feridas da desilusão. Por ele, ela faria qualquer coisa como já contei outro dia; uma paixão infantil – ele era seu ídolo!

- Cuidei da flor pra você. 
- Eu sei. - ele sorriu 
- Você vai ficar aqui? 

Ele não respondeu e Adrielle disfarçara sua frustração. Engasgada, no final da frase, saiu correndo até o jardim, onde encontrou o Mago. Escondeu seu rosto no seu peito, enquanto o abraçava com força, e chorava e chorava e chorava, como se fosse uma grande tempestade. 

- Do que vou cuidar agora? Ele vai embora outra vez. – soluçava. 
- Cuide do presente que ele te deu. 
- Como assim? – ela levantou a cabeça, lentamente, enxugando o rosto. 
- Fez você conhecer o amor, a dedicação, a paciência de esperar e a determinação de conseguir o que deseja. O menino representa tudo isso e precisa que você sempre cuide dele.

Vou te contar uma história - o Mago prosseguiu - era uma vez... a lenda de um lugar perdido no meio de um monte de neve gelada, cujo acesso era por uma caverna que ligava a neve a um mundo tropical. Nesse mundo existiam vales verdes, cachoeiras, serenidade e seus habitantes eram governados por um jovem casal que veio de outros tempos, para ensinar, aprender e amar incondicionalmente. Lá, ainda dizia a lenda, os casais eram predestinados: um encontro casual, somente um olhar, e o brilho do amor, como um halo, juntava o corpo e a alma dos amantes como se fosse uma ilusão de ótica. 

- O que você quer dizer com isso? - ela perguntou.
- Que tenho minhas dúvidas se isso é somente uma lenda... 
- Como assim? 
- Pense, pequenina: será que amar alguém seria, no final das contas, amar a versão de nós mesmos que se mostra no encontro com esse alguém? 

Bom... algum tempo depois, quando tudo se desfez (clique aqui para entender isso), eles foram atrás de sonhos... quem sabe, de repente, aparecem nos nossos também.



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Festival Gastronômico

Quando criança, eu era o tal do “garoto chato para comer”; arroz e feijão descia bem, mas os ditos “pratos principais” eram bem restritos e sujeitos à “catação de impurezas” verdes ou aceboladas (já entendeu que alface, tomate e cebola não faziam parte do meu cardápio infantil); das frutas, só banana; suco somente de uva (boas lembranças do tempo em que o Bob's servia misto quente e suco de uva, delícias, após uma tarde no cinema com minha mãe). Sempre ameaçado com o tal do “quando for servir o exército é que vai aprender a comer”, fui levando essa infância nem um pouco saudável, do ponto de vista nutricional. Quando me apresentei no “alistamento obrigatório”, fui reprovado por “incapacidade física temporária” (“Eba! Não vou precisar comer os alimentos militares”), mas aí entrei para a faculdade, já frequentava a casa dos amigos e se você for chato para comer você passa fome mesmo (fora a “pagação de mico”). 

Hoje em dia não dispenso mais a saladinha e encaro as novidades, mas algumas coisas não descem mesmo. Por conta disso, já que tivemos novo Festival Gastronômico por aqui (dessa vez “de Primavera”), dos cinco restaurantes que se apresentaram, para mostrar suas delícias, dois eu vetei de cara. Um deles - especialista em sanduíches gigantes e, provavelmente, deliciosos – servia pepino (que eu ainda “cato” do BigMac) e azeitona, no seu prato. e isso não ia dar para mim (sem contar que já evito os “sandubas” hipercalóricos das lanchonetes); o outro, de entrada, servia bruschetta com abobrinha e outra com berinjela e aí também não deu. 

Optei pelo certo: abri os trabalhos no Alecrim, restaurante anexo ao Planalto Hotel, onde almoço quase todos os dias. Atendimento personalizado, sou tratado pelo nome, já conhecem meus hábitos e me senti em casa. De entrada, uma salada de folhas e vegetais frescos com uma amostra do prato principal (truta) marinada em limão e regada com creme de wasabi, além de pedaços de abacate que, até então, eu não entendia bem o que ele fazia por lá. Apresentação impecável, mas houve um susto quando provei a truta, pois a marinada estava bem forte e descobri que o grande lance era comer junto com o abacate (a mistura ficou fantástica). Esqueci de comentar que, por cima da salada, ainda havia uma decoração de macarrão frito que era para comer com a mão mesmo. O prato principal foi o peixe com crosta de amêndoas (excelente), acompanhado de risoto à marguerite. Risoto é o prato de maior risco no “Top Chef” e esse ficou bom, se bem que poderia estar mais no ponto, mas não comprometeu a qualidade. Para a sobremesa, tive que abrir o coração, porque não gosto muito de cheese cake, encarei o desafio e não me arrependi. A massa do entorno era fina e firme (não esfarelou) e o recheio, regado de frutas vermelhas, tinha o contraste adequado e, desse, eu gostei. 

A etapa seguinte foi num bar/petiscaria cuja proposta era “comida de boteco”. Nem vou discorrer a respeito porque, efetivamente, não deu certo da entrada à sobremesa, fora que nem houve acolhida. Na próxima vez eu pulo. 

Por último, e acompanhado de amigos, fui ao Grenat, restaurante do Santa Catarina Plaza Hotel, que é um local muito agradável também. Estranhei o não oferecimento do menu “Festival”, mas, como já sabíamos, fizemos a opção. A entrada também foi uma salada, apresentada numa taça que ficou muito bonita e também saborosa, com croutons e molho golf. O prato principal foi salmão com castanhas, acompanhado de arroz de limão e manjericão e uns mini bolinhos de batata (“batata noisette”: eu achava que essa batata era outra coisa) que eram dispensáveis, mas não comprometeram. A sobremesa é que não deu muito certo (fatias de abacaxi marinados no rum, servidos com coco queimado e sorvete de coco, decoradas com pimenta rosa), pois o sorvete tinha massa muito consistente (achei que era de baunilha, mas revi a descrição e descobri que o gosto deveria ser de coco), o abacaxi também era firme demais e o paladar ficou monótono e extremamente gelado. 

Longe de ser crítico gastronômico, acho essas iniciativas formidáveis e os dois restaurantes citados merecem outras visitas, mesmo fora dos festivais. É uma maneira de experimentarmos delícias, com um preço justo, e que ainda tive a oportunidade de degustar acompanhado de pessoas muito legais. Fica a dica para as próximas oportunidades.


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Tradições de Final de Ano

"Então... Existem momentos que você pode ser o quiser: um peixe para adentrar nas águas mais distantes e penetrar bem no fundo do mar, só para resgatar aquilo que lhe interessa, ou ser um pássaro e voar tão alto, onde só possa sentir o vento, e nada mais; ou ser luz, para dissipar as sobras e destacar as cores.” (C_Faby) 

Apesar de não parecer, o ano está acabando e já não era sem tempo, pois foi um ano repleto de confusões, afinal, quem desconfiaria que a seleção brasileira iria dar tamanho vexame ou, como dizia a música, que o mar está virando sertão (mesmo não sendo bem o mar, mas esse lance das represas e rios secando já estava implícito na música “Sobradinho”)? Fim de ano é repleto de tradições: receber o décimo terceiro, pagar as contas atrasadas e fazer novas; ENEM – onde alguns descobrem que não basta somente ter aulas no colégio; formaturas e tantas coisas mais, incluindo Natal e Ano Novo, claro! 

Uma das tradições que incorporei foi virar “duende” (veja o texto de 2012 clicando aqui) e colaborar com o “Papai Noel dos Correios”. Por aqui eles escolhem algumas escolas e as professoras ficam encarregadas de estimular os alunos para escrever as cartinhas. O que mais chamou a atenção foi exatamente o trabalho delas, pois, em vários casos, o aluno não escreveu e era óbvio que a letra era da professora. Das turmas de jardim, vieram desenhos e a “tradução” foi carrinho para os meninos e boneca para as meninas. Vi também muitos pedidos de material escolar e, ao contrário do ano passado, conclui que deve ser instituição muito carente mesmo, daí a necessidade de virarmos “duendes” e amenizarmos as intempéries que algumas pesquisas insistem que diminuíram. Aí vem a tradicional pergunta: que tal cada um fazer a sua parte? 

“Mas se você acha isso tudo uma bobagem apenas viva, não se preocupe com o que falam de você, pois o único que te conhece como ninguém é você mesmo. Sabe a perfeição? Ah! Essa eu também não posso ter; eu sou como você, da espécie humana e, apesar de fugir da minha forma para buscar o que eu quero, eu erro, mas isso não é falta de caráter, é da natureza. E assim aprendo... Talvez das piores formas possíveis, acrescentando sempre novos desejos e sonhos a esse meu conhecimento que é incompleto... E a vida segue seu fluxo, e nesse fluxo aparecem pessoas que vão minando aos poucos sua defesa própria. Quer saber? Eu tenho a habilidade, sim, eu tenho a vontade de respirar você enquanto eu posso...” (C_Faby) 

Pois é...


Boa Noite! Eu sou o Narrador. 

N.N.: Acrescentei, em duas partes, um texto de uma amiga que, no “Contos de Fada?”, era a Estrelinha. Andou sumida e agora voltou (que bom!).

sábado, 1 de novembro de 2014

O Feitiço do Dia das Bruxas

Uma vez por ano, ao menos, elas se encontram em algum lugar desses que nunca aconteceram, mas sempre na mesma noite. 

“Dia das Bruxas e seu feitiço irá te tomar; não deveria ter deixado você me conquistar completamente, e agora não consigo acordar desse sonho que toda noite me persegue.”

Tempestade, raios e trovões... A última coisa que se lembrava é que fora à feira comprar uma moranga para o almoço de sábado, onde faria o camarão e, talvez, um doce com coco. Quando acordou, viu aquela sua amiga bonita, longos cabelos pretos, muito vistosa, dormindo seminua do seu lado. Já prevendo algum desastre ocorrido e esquecido, cutucou a garota que bocejou e comentou:

- Nossa! Noite boa! Aproveitamos né? Caramba... tenho que ir pra loja! “Xau” e beijo! 

A tal amiga pulou da cama, colocou um vestido preto curtíssimo, tomara que caia, estilizando uma veste de bruxa. O chapéu ela levou na mão ("A vassoura você guarda pra mim que eu pego depois, tá?"). Cada vez entendendo menos, Ana Paula levantou, não sem antes conferir se não havia nenhuma pecinha de lego (maligna) no chão, conferiu se havia luz para um bom banho e não esqueceu a toalha (agora ela anda bem prevenida, para evitar incidentes). Saiu do chuveiro, coçou o saco e, instintivamente foi fazer a barba. 

- Pera! Que porra é essa? Saco? Barba? 

Um grito ecoou pelo banheiro quando ela olhou no espelho e viu que virara homem; não um homem qualquer e sim aquele seu antigo amor, que desdenhara e que sua amiga ficara diversas vezes. 

- Pera (de novo)! Eu comi trepei transei dormi com a minha amiga! Não! Ele dormiu! Não... ai que merda foda confusão! Só que eu sou ele! 

Quando acalmou, concluiu que não estava em casa e sim na casa dele, no corpo dele, só que era ela que pensava. Por outro lado, ela sabia tudo sobre ele, principalmente a senha da rede social, onde não eram mais amigos e, portanto, muita coisa ela não conseguia fuçar. Imediatamente abriu o computador, foi lá para ver o que rolava e ficar atualizada. Havia uma mensagem e começou por ela: 

“Oie! passando pra dizer que sinto saudades de você e as vezes tenho vontade enorme de ligar pra contar coisas que me acontecem, porque só você me entendia; lembro de tudo de bom que você fez por mim e sinto falta dos nossos tempos. Eu sei também que você não vai querer responder, mas to escrevendo pra dizer que ainda gosto de você e nunca vou te esquecer porque você é muito especial para mim e que sinto de verdade muita saudade de você! Bjos de quem TE ADORA do tamanho do universo para todo sempre...." 

- Filha da puta Vadia Piranha Quem é essa sirigaita que escreveu essas coisas pra ele? Nossa! Eu que escrevi... não... ele que escreveu... pera... então ele está no meu corpo e aí ele escreveu... então ele quer se aproximar de novo e aproveitou que ele sou eu. Que confuso! Ah! Vou dizer que to muito afim e coisa e tal... quer dizer...ele vai dizer... Ah! Isso tudo tá muito foda doido; mas pera... ele não faria isso de cara não e eu sou ele. 

Ana Paula pensou, pensou e resolver mandar um vídeo do Youtube, com Sandy e Junior cantando “Desperdiçou” junto com a Ivete Sangalo. No que ele, melhor, ela... (essa narrativa é que está foda de fazer, mas o leitor que se esforce para entender), fingiu não entender e continuou puxando assunto. 

- O que ele faria agora? Seria educado? Talvez... 

Deu algumas respostas polidas, ele/ela (tá confuso, eu sei, mas vê aí se vocês entendem), insistiu na paquera. 

- Hum... acho que, como estou no corpo dele, vou mandar um vídeo de amor e aí resolvo esse meu problema de vez. 

Ana Paula, incorporada no seu antigo amor (às vezes ela vira Natasha também, daí já estar acostumada), procurou, procurou, mas o instinto masculino do cara falou mais alto e detonou um vídeo do Jorge Aragão , cantando "Você abusou", que ela pensou que ia dar boa coisa, mas quando viu o vídeo já tinha ido e aí não tinha jeito e aí caralho, fudeu tudo danou-se! 

Uma ventania tomou conta do escritório, diversas abóboras voaram em sua direção e bateram na sua cabeça. Quando acordou, tudo voltara ao normal e ela não tinha mais saco e nem barba. Do banheiro veio a voz do companheiro que escolhera:

- Amor! Onde está meu aparelho de barbear? 

E naquele lugar que falei mais cedo, duas irmãs e uma vampirinha comemoravam os efeitos do feitiço desse ano, enquanto uma abóbora gargalhava por ai...


Bom Dia! Eu sou o Narrador.

domingo, 5 de outubro de 2014

Garota Exemplar

”Suponho que essas indagações pairem como nuvens negras sobre todos os casamentos: No que você está pensando? Como está se sentindo? Quem é você? O que fizemos um ao outro? O que iremos fazer? (Nick Dunne)” 

Uma vez, há alguns anos, Adrielle ficou muito triste e revoltada. Era nítida sua admiração pelo Menino e arriscara sua vida, certa vez, para salvá-lo de lobos. Hoje andam por ai, bem pertinho do mar, acompanhando sonhos como se fossem as ondas batendo na praia.

Naquele dia, haveria uma festa e ela arrumara tudo para que ele fosse com uma “amiga especial”. Só que de amiga ela não tinha nada de especial e o traiu, dando “um cano”, não sem antes ganhar um belo vestido. Coisas que acontecem por aí... 

Claro que rolou uma tempestade com direito a apagão. Adrielle chegou em casa puta da vida furiosa e ficou um bom tempo trancada em seu quarto. Horas mais tarde ela aparece, senta ao lado do Mago e deita sua cabeça em seu colo. Ele afaga seu cabelo e assim fica durante um tempo, quando, então, ela quebra o silêncio. 

- O que eu fiz de errado? 
- Você só fez coisas bonitas e certas. 
- Mas por que não funcionou? 
- Claro que funcionou! A casa ficou toda arrumada, a dispensa está repleta de coisas que nunca tivemos e, com isso, o lanche de vários dias está garantido. Até escova de dentes para hóspedes esquecidos nós, agora, temos! 
- Não foi disso que eu falei. 
- Você teve muito carinho, delicadeza e cuidado ao fazer todas essas coisas e isso é o que importa, pequenina. As pessoas são muito complicadas e saber, antecipadamente. suas intenções e pensamentos é muito difícil.

Tentando resolver essa confusão, veio a tal da história. Senta lá! 

Um corre corre tomou conta da sala, almofadas voaram pra perto do fogo, o Narrador, com seus papéis na mão, pediu a atenção. Todos sentaram bem juntinho, para ficarem mais aquecidos, mas Adrielle preferiu continuar no colo do Mago. 

“Era uma vez... um conto não tão de fadas, mas que também começa assim! 

Um ser da lua que andava por ai: algo solitário e sempre pensativo, como é característico dos seres de lá, que brilham e iluminam junto com as estrelas. De tempos em tempos, o tal ser solitário lança um raiozinho de luz em algum outro ser que chama sua atenção, por também possuir uma luz própria, vinda da sua própria estrela ou planeta. 

Desses astros celestes, um deles fica bem perto do sol. Dividido em duas metades, numa existe um castelo e na outra existe um enorme jardim muito florido, onde moram também seres bastante distintos. Na rotação desse planetinha, cada vez um lado recebe a luz da lua e, a seu modo, seus habitante brilham intensamente, para serem dignos de atenção. 

Numa dessas ocasiões incomuns, um dos polos que guarda o limite, entre o castelo e o jardim, foi iluminado de uma só vez, numa noite de lua cheia. 

Então... 

No momento que os dois lados foram iluminados, duas irmãs bruxinhas seguiram com os raios de luz da lua, cada uma para cada ser distante e cada uma com uma missão! Do lado do castelo, havia indecisão e medo; do lado do jardim, havia incerteza e medo também. As duas irmãs bem que tentaram e tentaram, mas o planetinha se moveu, a luz se apagou e nada mais aconteceu.” (N.N.: Essa historinha foi outro "remake" de textos do "Contos de Fadas?". Confesso que até eu tenho lá minhas dúvidas sobre o que eu quis dizer com o que escrevi)

Em “Garota Exemplar” (Gillian Flynn; tradução de Alexandre Martins – Rio de Janeiro: Editora Intrínseca – 2013) muita coisa aconteceu: um ser brilhou, outro o viu; máscaras foram criadas, relacionamentos existiram, histórias incríveis (mas que passam muito próximo da realidade) são contadas e chega a ser impossível você não se identificar com algum personagem. Seria você o Nick? Quem sabe Amy Exemplar? De longe foi o melhor livro que li nos últimos tempos e aí fui ver o filme, aproveitando que fui votar fora de sede (fiz a minha parte). 

A história, em ambas as versões, é imprevisível e você só descobre o que acontece no final mesmo. Cheguei a confundir os agradecimentos da autora, no final do livro, a alguma cena que ainda não acabara. O grande problema aí fica no filme: se você assistir antes de ler o livro, já saberá o final, vai perder a graça toda e ainda ficará com a falsa impressão de que a história é ruim. O roteiro foi adaptado pela própria Gillian Flynn que é ótima escritora de livros, mas deixou a desejar como roteirista, pois é muito difícil condensar mais de quatrocentas páginas em pouco mais de duas horas de exibição na telona. Por outro lado, as interpretações são ruins, francamente mal dirigidas, e Ben Affleck consegue ter a mesma expressão que mostra em todos os seus filmes, detonando de vez a personalidade de Nick Dunne. Rosamund Pike, por sua vez, nem de longe incorporou a riqueza de detalhes e expressões que podemos imaginar de Amy Dunne quando lemos o livro. Os demais personagens, mesmo que coadjuvantes, são interessantíssimo, mas também foram mal representados.

A dica então é a seguinte: leia o livro, só veja o filme depois disso e aí tire suas conclusões. Por outro lado, se você é casado, ler o livro pode acender aquela luzinha vermelha que você gosta de esconder; se você está na fase do “quase casamento”, vale a pena conferir; se você já se separou, pode ser que tenha a impressão de que o livro chegou atrasado uns trinta anos. 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 28 de setembro de 2014

Inesquecível

Um programa que eu sempre via (assistia) na televisão era o “Programa Livre” com o Serginho Groisman. Naquele tempo a atração surgia, no SBT, lá pelas dezessete horas e aí ficava bem fácil. Infelizmente o Serginho não resistiu à "globalização da coisa" e agora ele apresenta um programa semelhante ("Altas Horas") em horário proibitivo (na madrugada de sábado para domingo). Só que continua um bom programa e há a reprise, aos domingos, no Multishow. 

Em setembro de 2007, lá no “Contos de Fadas?” eu escrevi um texto sobre o término da dupla Sandy e Junior que era mais ou menos assim (já que eu editei): 

“Quando a gente era bem pequeno, eles eram menores ainda (ou, quem sabe, do nosso tamanho). Cresceram cantando aquelas canções que dispararam nossos corações, durante quase duas décadas. 

Falaram de amores inesquecíveis, como o da Lua naquela lenda, que fez sorrir ou fez chorar, Ou do brilho da estrela naquele olhar. Já pularam e nos fizeram pular; já falaram da chuva e agora, no final, eles tem ciúme de quem pode ter pra sempre (queriam estar nos sonhos). 

Enfim, só nos resta escutar seus últimos momentos juntos, relembrando o quanto já suspiramos ao ouvir suas baladas e o "turu-turu" dos nossos corações...” 

Hoje, no programa do Serginho, dedicado aos “Anos 90”, um momento muito especial aconteceu: o Júnior estava presente, mas a Sandy só apareceu no telão. Aí chamaram uma menina (Malu Gavassi... sim... também não sabia quem era e meio que continuo sem saber, mas ela fez uma participação especial na série “Julie e os Fantasmas” que já falei aqui), para cantar uma música da dupla. Foi um lance bem emocionante, inclusive para ela e para boa parte da plateia que chorou junto com ela em dado momento. 

Sem dúvida, foram bons tempos. O momento mais marcante de um show deles que assisti, em Petrópolis, foi quando cantaram “Bring me to life” da banda “Evanescence”: a plateia quase não acreditou no que ouviu (confira aqui). Vou deixar uma colagem de fotos e, enquanto estiver disponível, o vídeo do programa (clique aqui). 

"Não dá pra não pensar em você... tá cada vez mais difícil não poder te ver... a nossa história só está começando..."

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Nas terras de Ribamar

Quando o astronauta Taylor, personagem de Charlton Heston no filme “O Planeta dos Macacos”, de 1968, finalmente fugiu com uma amiga que por lá encontrou, de nome Nova, ele foi parar num local algo desértico, mas banhado pelo mar. De repente ele deu de cara com as ruínas da Estátua da Liberdade e fez aquela cara de babaca espanto. Eu jamais poderia imaginar que, anos depois, eu fosse fazer uma cara muito parecida. 

A viagem ao Maranhão custou 3300 quilômetros, levou umas 12 horas na ida e 17 horas na volta e foi uma experiência cercada de emoções e aprendizados. Pulando os detalhes do trajeto, recheado de baldeações, chegamos famintos à São Luis, onde fomos recepcionados por um rápido almoço (digamos que comemos rápido, porque o almoço foi preparado na hora e aí demorou bastante), para depois (alguns) seguirmos para São José de Ribamar, não sem antes passar pela cidade de Raposa, onde conhecemos o artesanato das rendeiras (a Wikipedia fala que é artesanato cearense... enfim). Claro que rolou City Tour na capital maranhense, um tempinho na praia 'que ninguém é de ferro, até seguirmos para Barreirinhas, porta de entrada para os Lençóis. 

A aventura começa nos veículos 4x4, adaptados para transportar passageiros (lembram os “paus de arara”, no bom sentido é claro) e que atravessam o rio em balsas, para depois fazer a trilha até as dunas. A partir daí é caminhando mesmo, descalço (a areia não queima os pés), subindo e descendo (ou rolando, se for o caso), até as lagoas. Se os veículos sacodem? Claro que não sacodem (sacudir é para os fracos), pois eles pulam o tempo todo (convém não almoçar muito) e, eventualmente, um galho da vegetação faz uma visitinha aos passageiros que estão na ponta. Já lembrou da paisagem que eu falei no início? É muito mais bonita do que aquela e ainda dá pra ver o pôr do sol (visitar à tarde certamente é melhor). 

Barreirinhas ainda guarda outra surpresa que é o passeio pelo rio Preguiças, até a praia de Caburé, na foz do rio. No meio do caminho ainda para em Vassouras (também conhecida como “pequenos lençóis”), onde, além da paisagem, a brincadeira fica por conta dos macacos-prego que moram por lá. Inteligentes, eles observam a movimentação dos turistas e esperam a abertura de alguma bolsa para cair em cima, procurando presentes tipo celular, máquina fotográfica, carteira de dinheiro e qualquer coisa que eles consigam pegar. Acompanhei um deles que investiu num pacote de biscoitos de uma menininha que, infelizmente, dessa vez ficou sem lanche. Provavelmente esses macacos herdarão a terra depois da queda do cometa (ou lá o que seja) e aguardarão a chegada do Taylor, ou algum equivalente do futuro. Quase em Caburé, ainda conhecemos Mandacaru, onde fica o farol e o segundo maior cajueiro do mundo (e muitas lojinhas também). 

Coisas interessantes: 
- O Maranhão é um estado muito pobre, com o segundo pior IDH do país, e não entendemos direito como isso acontece, já que água existe, belezas naturais e culturais também, há todo o tipo de turismo (se bem que carece de maior profissionalismo e conservação, principalmente no Centro Histórico), existe o porto... bom... sei lá. 
- Lojinhas de artesanato não faltam, mas algumas coisas lá tem etiquetas “Made in China”. 
- As rendeiras de Raposa moram em palafitas sobre o manguezal. Além do lixo acumulado no mangue, de tempos em tempos eles tem que “subir a casa”, para o mar não invadir. 
- São José de Ribamar é o padroeiro do Maranhão. Por conta disso, Ribamar é sobrenome comum, em homenagem ao santo. Se você entrar num bar e procurar por Ribamar, vai aparecer o João, a Maria e até o José Ribamar (agora você entendeu, né?). 
- Segundo o guia da “Casa de Nhozinho”, o Maranhão parou de produzir farinha de mandioca e “importa” do Pará. Ele disse que as pessoas preferem ganhar a grana através de bolsas do que trabalhar para isso. 
- Agilidade não é característica local: quando for almoçar ou jantar, tudo será preparado na hora e vai demorar (na Bahia é mais rápido, para se ter uma ideia). 
- Para descer as dunas sem rolar, use os calcanhares; para subir, use o fôlego. 
- Idosos e gestantes conseguem passear nas dunas, mas havia uma lá que a gente acreditava que o parto ia ser numa das lagoas (ufa... escapamos... mas que isso seria uma história sensacional, lá isso seria). 
- Se você tiver algum problema com areia, vá para São Paulo e desista dos Lençóis! 
- Filtro solar realmente funciona; máquinas de cartão de débito/crédito, não. 
- Cuidado com a Tiquira (ninguém experimentou). 
- Carne de sol realmente fica exposta ao sol; existe uma variante que é o frango de sol. Na dúvida é melhor comer peixe. 
- Ter pessoas animadas, simpáticas e divertidas no grupo não tem preço. 
- Saber que as professoras do grupo vão ler seu texto aumenta a responsabilidade do Narrador. 

Será que eu esqueci alguma coisa? 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.