quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Entre Tartarugas, Golfinhos, Pássaros e Tubarões

”Os passageiros sentados à esquerda do avião estarão vendo Noronha, durante nosso voo panorâmico, antes do pouso; os passageiros sentados à direita estarão vendo os passageiros da esquerda vendo Noronha.” 

Chegar ao arquipélago é uma sensação indescritível e a “zuera” já começou no voo com as informações do comandante. É interessante ver as pessoas desembarcando, muito animadas e sem ter a menor ideia do que vão encontrar pela frente, enquanto os que vão embora estão francamente exaustos, mas certamente satisfeitos. Particularmente eu pensava que encontraria algo mais rústico, tipo Ilha da Fantasia, com o Tattoo e o Sr. Roarke nos esperando, mas encontrei um receptivo muito organizado, com ônibus com ar condicionado, e cumpridor de todos os horários. Só que antes de encontrar nossos recepcionistas, preenchemos nossa ficha, no melhor estilo “Big Brother”, e passamos à categoria de monitorados durante toda a estadia; nossa individualidade fica entregue aos roteiros e mesmo aqueles que seguirão por conta própria terão suas fotografias aparecendo nos computadores presentes nos acessos às praias. O contato com o mundo exterior é bem restrito, já que não há WiFi com facilidade, o 3G ainda é projeto e o celular só pega em alguns locais. Considerando tudo isso, o que importará é a felicidade de interagir com a natureza sem a menor possibilidade de resolver alguma coisa que surja lá de onde você veio.

Fiquei no Sueste, uma linda praia de águas calmas e cristalinas, onde existe um ponto de apoio para o turista comprar o cartão de acesso ao parque (necessário para quase tudo e é complementar à taxa de preservação ambiental que você paga no aeroporto ou, antecipadamente, pela Internet). Nesse ponto de apoio você também encontra água potável, mais em conta, se você tiver um squeeze para abastecer (pode comprar um lá também). Vale muito a pena e essa iniciativa reduziu em mais de 60% o lixo gerado pelas garrafas pets. Na praia do Sueste você pode fazer um passeio no mar, naturalmente com equipamento de mergulho e colete, onde você é rebocado por um guia e observará, com segurança, muitas tartarugas, muitos peixes e até um ou outro tubarão. Diz a lenda que não há qualquer registro de ataque de tubarão a seres humanos na ilha, se bem que nem todo mundo que é atacado por um tubarão volta pra contar a história (segundo um dos diversos pesquisadores que ministram palestras, interessantíssimas e imperdíveis, na sede do Projeto Tamar – a “zuera” continua até nas palestras). 

Noronha possui diversos atrativos que modificam dependendo da época do ano e é importante o turista pegar essas informações; efetivamente não é um roteiro estável e se a pessoa não programar muito bem, corre o risco de não gostar (principalmente se for um chato!). Fiz passeios básicos, com caminhadas leves (mas descobri mais alguns músculos desconhecidos mesmo assim), e bem completos por conta do guia que nos levou no chamado “Ilhatur” (não vou dar muitos detalhes porque tudo é “encontrável” na Internet – pesquise antes, pois lá a internet rápida é mais lenta que um modem de 28kbps); na sequência veio o passeio de barco que é acompanhado, em parte, pelos golfinhos rotadores e essa é a melhor parte do passeio. Existe um mirante para observar o descanso dos golfinhos também, mas, infelizmente, não os avisaram que iríamos lá e só valeu pela vista mesmo. Por último, veio um passeio pelo centro histórico, onde fica um grande reparo, pois não há qualquer conservação razoável do pouco que sobrou das construções. 

Apesar de paisagens fascinantes, a impressão que tive é que tudo vai acabar por conta da degradação ambiental. Por mais que os pesquisadores se esforcem, a destruição começou no passado com a introdução de espécies exóticas como o “mocó” (uma espécie de preá que era usado para “tiro ao alvo”, porém eles reproduzem muito rápido e se alimentam de cascas de árvores, contribuindo para o desmatamento), assim como um lagarto de hábitos diurnos que foi introduzido para comer ratos e sapos (que possuem hábitos noturnos) e encontrou alimentos nos ovos das tartarugas, e outras espécies da flora e fauna. Uma coisa é boa: não existem cobras na ilha (mas existem mosquitos e o repelente faz parte do arsenal do turista, assim como o filtro solar). 

Em muito pouco tempo você vira “morador”: rapidamente descobre o trajeto do ônibus, descobre onde comer gastando menos (mas tudo é caríssimo, não se iluda), conhece vários estagiários voluntários (que passam lá de dois a seis meses – se o leitor é estudante de biologia, turismo e afins, vale a pena conferir o site do ICMBio), além de outras coisinhas que tornam a visita mais interessante. 

Algumas dicas: 
- O lance do squeeze é bem legal. 
- Geralmente às segundas e quintas, na praia do Sueste, os biólogos do ICMBio fazem a “captura intencional da tartaruga”, para marcação e estudos, e isso é aberto ao público. 
- As palestras na sede do ICMBio são diárias e é um ótimo programa para iniciar a noite. Ao lado existem dois restaurantes que buscam você na pousada e depois levam de volta (desde que você jante por lá). 
- Se você for à praia da Atalaia, pesquise antes, pois é necessário agendar e você deve usar uma vestimenta com fator de proteção solar, além de outros equipamentos de mergulho (se for o caso). As blusas com FPS 50 são fáceis de achar em Noronha e não são caras. 
- A melhor “lojinha de lembrancinhas” (se é que vai sobrar dinheiro pra isso) fica na única farmácia local que é próxima do Restaurante Flamboyant, onde há buffet a quilo (100g custam o mesmo que 1 litro de gasolina – preço Noronha). 
- À exceção do passeio de barco tradicional, use tênis em todos os outros e leve o chinelo na mochila. 
- Para quem vai sozinho, contratar um pacote e um receptivo pode sair mais em conta do que fazer tudo “na unha” 
- A “zuera” faz parte do passeio.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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