sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

O Dia Que Mataram o Narrador

”Era uma vez uma linda donzela, que vivia na favela do Atirado. Ela sonhava em encontrar seu "Belo Encantado", mas não sabia muito bem para qual Bangu ele havia sido transferido. Até que um dia... Aaahhhhhhhh...
 - Ei, Narrador. Narrador acorda! Não faz isso comigo, Narrador! Ah, não acredito! Quando finalmente raiou o tão esperado “até que um dia...” o Narrador me bate as botas.” 

- Calma, Dona Natasha! 
- Ana Paula, por favor. 
- OK, Dona Ana Paula. O que o Narrador fazia na sua casa lá na favela do Atirado? 

Há alguns anos atrás, cansada de ser sacaneada pelo Narrador e seus textos, Ana Paula não resistiu e sequestrou o sujeito. Submetido à torturantes sessões de música sertaneja, ele finalmente resolveu quebrar o galho e tentou um texto mais bacaninha e essa história foi contada em outro blog, por outro escritor. O grande problema, que resultou na sequência dos eventos relatados, é que ela não gostou do nome do escolhido, já que o lance dela era sertanejo universitário e não pagode. Além disso, de donzela ela não tinha era nada. 

- Isso já é mais difícil de explicar, delegado. Dá pra pular essa parte? 
- Hum... por enquanto, talvez. Nesse momento entraram os policiais e aí o que aconteceu? 

Ana Paula seguiu seu relato, tentando resumir a situação.

- Foi uma confusão danada. Mandaram todo mundo para o chão, apesar que “todo mundo” era só eu mesma, já que o Narrador estava lá, jogado no assoalho (imundo) do barraco. Com muita discussão, resolveram colocar o corpo do pobre coitado na mala de um fusca, pois falaram que bastaria "usar uma chave sextavada e tirar o pedal que caberia sem problemas". O que realmente aconteceu, é que quem escreveu o texto original, ficou sem ideia e resolveu mudar o rumo da prosa. 
- Como assim, Dona Natas... digo... Ana Paula? Rumo da prosa? 
- Sim! Na versão original!
- ??????

“- Narrador! Você não morreu?! 
- Na verdade sim, mas esse escritorzinho mixuruca não estava encontrando um jeito de continuar a história sem mim! - disse o Narrador, em claro ato de insubordinação. 
- Que ótimo. Eu também não vivo sem você. Desde que eu nasci, você vive me dizendo o que fiz, faço ou farei! 
- É para isso que servem os narradores de contos de fadas!” 

- Mas a senhora não falou que ele vivia te fud... digo... escrevendo contos depreciando sua moral? (uma gargalhada enorme ecoou no salão, onde vários outros policiais conversavam). Cala a boca, piazada! - ele gritou - Pode continuar, Dona Ana Paula. - disse o delegado, pouco entendendo do que ela estava contando (da mesma forma que o leitor).

“Então, num súbito ato de bondade, o escritor (do outro blog) coloca um portal de outra dimensão nessa história, para o qual Ana Paula e o Narrador correram freneticamente, sob o olhar catatônico dos policiais, quando o improvável aconteceu: 

- Narrador, o que é isso? Que coisa esquisita é essa? Parece que eu estou surfando e... 

Então ela se deu conta. Esforçando-se para compreender aquela situação muito além da própria imaginação, viu-se diante do improvável.” 

- Dona Natasha! Para de enrolar! 
- ANA PAULA! MEU NOME É ANA PAULA, PORRA! (outra gargalhada ecoou, agora vindo das celas, onde vários presos observavam a movimentação). 

“ Ela percebeu que estava presa no Google! Que?! No Google, o portal de internet. 

- Não foi isso que eu pedi! Eu, o Narrador, queria um portal de outra dimensão, tipo daqueles que você entra no armário e vai parar em Nárnia! 
 - Narrador, Narrador... Olha só o que sua insubordinação nos causou, Narrador! 

No início, tudo era esquisito. Visitaram o Orkut (na época não existia o Facebook), pulando de perfil em perfil, machucando o rosto dos usuários. Depois foram parar no You Tube, copiaram e descolaram uma pipoquinha do Google Imagens e viajaram o mundo pelo Google Earth, quando, então, cansaram. 

- Ai, Narrador. Estou cansada. Meus pés estão me matando. Minha cabeça está doendo. Essa história não poderia ter sido mais tradicional? 
- A culpa não é minha. Reclama pro outro que está escrevendo essa sandice! 

Decidiram voltar. Clicaram em “sair” no Orkut, deslogaram do You Tube, abriram o Google Earth, digitaram Rio de Janeiro e pularam sobre a favela do Atirado.” 

Só que caíram mesmo foi em Guarapuava, justo na delegacia 

“- Que palavreado indigno para uma donzela. Vai pro Rio de Janeiro, lá para Bangu! 

O Narrador foi poupado, pela sua idade avançada. 

- Deixa esse velhinho gagá aí. 

A linda donzela passou 15 anos presa por desacato à autoridade, tentativa de fuga ultradimensional e um homicídio. 

- Homicídio? - perguntou o Narrador, insubordinando-se novamente. – Mas eu não morri. 

Em Bangu ela encontrou seu Belo Encantado, que morreu de amores por ela – eis o real homicídio. Houve outro crime, como uma música dele para ela, que fala algo sobre “mel, sua boca tem um céu, e com esse hálito não dá, mas eu queria te beijar”

- Narrador estúpido, “sua boca tem um mel e melhor sabor não há, que loucura te beijar”. 
- Foi o outro que escreveu isso, Natasha! 
- ANA PAULA, CARALHO! 

Por fim, segundo o escritor do texto original, Narrador agradeceu-a por gravar esta música-chiclete em sua memória e, lamentando-se por isso, informou que ela e seu Belo Encantado viveram felizes para sempre.

Achou o texto esquisito? Sem dúvida o original é muito mais divertido e você pode conferir em “Klaustrofobias”, clicando aqui. Há muito tempo eu queria fazer essa versão e hoje saiu. Ah! Como isso é uma versão livre, parte copiada e colada (entre aspas) e não autorizada, Ana Paula não está presa e vai aparecer num outro texto, mais tradicional, por aqui mesmo! Isso se eu não for processado pelo dono do original!  

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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