terça-feira, 30 de agosto de 2016

Casa no Campo

Há uns três anos eu falei que a versão Disney para o início da Primavera, principalmente no desenho “Bambi”, era algo do tipo gelo derretendo, flores desabrochando a olhos vistos e passarinhos cantando sem parar, para desespero de corujas ranzinzas. Por aqui praticamente nevou há duas semanas e os dias seguintes foram de sol, mas não podemos dizer que a “cena Disney” aconteceu. 

A grande diferença, neste ano, é que viajei, depois da “nevasca”, para comemorar o aniversário do Velho Pai lá no interior onde ele mora. Encontrei um clima ameno, sol brilhando, céu azul e os ares primaveris espalhados por todos os lados. Foi como a explosão que surge no desenho do Bambi: laranjeira em flor, jabuticabeira idem, orquídeas nos troncos das árvores, ipês floridos, pássaros cantando, tudo isso no mesmo quintal e em pleno inverno! 

Você já viu o desenho do Bambi? O filme completo eu não achei, mas aqui tem uma ótima amostra pra ver se você entende o que estou falando. 

Continuando: num buraco entre duas bananeiras, uma das galinhas (Ah! O Velho Pai cria galinhas: elas andam livremente pelo quintal e dormem no galinheiro) fez um ninho, onde, silenciosamente, botou dezessete ovos que viraram nove pintos e tive a grata oportunidade de presenciar esse momento. Foi uma raríssima oportunidade, principalmente para quem não vive diretamente no campo; na melhor das hipóteses você encontra os pintinhos num galinheiro e não na vida selvagem. Fotografei o que vi e montei um vídeo. A música é do Zé Rodrix, Elis Regina cantou também e acho que representa todo um sentimento relacionado ao tema, para “plantar e colher com a mão, a pimenta e o sal”. 


 
   

Boa Noite! Eu sou o Narrador.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Voilà mon Jardin

Philippe Ledoux tinha uma amigo que se chamava Jacques e que morava numa quitinete. Na primeira vez que foi visitá-lo em casa, achou que era outra coisa e seguiu-se o seguinte diálogo: 
Philippe : C'est ta chambre ? Elle est grande ! (Phillippe pensou que era o quarto e não o apartamento todo.) 
Jacques : Ma chambre? Non! C'est mon appartement. 
Philippe : Ton appartement ! 
Jacques : Mais oui, tu es dans mon bureau. (Havia uma mesinha, logo na entrada, que Jacques dizia ser o escritório) 
Philippe : Et là? Qu'est ce que c'est ? 
Jacques : C'est ma cuisine. (onde havia um fogareiro – não havia micro-ondas à época – e uma pequena pia). A gauche, voilà ma chambre. (do lado esquerdo havia um sofá-cama) 
Philippe : Et voilà ton jardin ! (pegando um vaso de planta) 

Essa história era a segunda lição do livro “La France en Direct” (na primeira, eles combinaram essa visita por telefone), base do método chamado de “Capelle” e utilizado na Aliança Francesa do Rio de Janeiro e também no Colégio Marista São José, onde o francês era ensinado no primeiro e no segundo ano do antigo curso “Ginasial” (isso foi lá no início dos anos 1970). 

Estudei na Aliança até o final do segundo grau, quando fiz a prova de conclusão e obtive o “Certificat d’Etudes Pratiques et Apprentissage de Langue” (CEPAL) e comecei o curso superior (NANCY), mas meu objetivo era outro e parei o curso após um semestre. Foi uma época muito interessante, pois uma das características da Aliança era acontecer em casas do tipo residenciais, onde os cômodos eram adaptados para salas de aula. Os primeiros dois anos foram na sede da Clóvis Bevilácqua, na Tijuca, e a minha sala era num “puxadinho” que deve ter servido como oficina, estufa ou área de serviço; depois a sede foi para a Andrade Neves e já era uma casa mais sofisticada para a época. Nessa segunda etapa, havia um pequeno teatro onde conheci o trabalho (e o próprio) do Oswaldo Montenegro que lá apresentou sua peça de estreia “João sem nome” em 1975. 

Nunca tive jeito com animais (salvo as aranhas, lagartixas e os pelúcias) e muito menos com plantas. A bandeja mágica começou com uma jardineira e depois evoluiu até uma cristaleira, sendo que a jardineira deixei com minha amiga Patrícia. Só que, há algumas semanas, recebi um belo presente da amiga Sarah: uma planta – Serissa – num esquema de hidrocultura que, no final das contas, é a melhor coisa para o jardineiro preguiçoso, pois não dá qualquer trabalho para a manutenção. 

Juntando tudo, lembrei do Philippe Ledoux zoando o Jaques, da Aliança Francesa e do Oswaldo Montenegro que conta a história do grupo que veio de Brasília para o Rio de Janeiro (citando a Aliança Francesa) no filme “Leo e Bia”, que eu já vi algumas vezes e que ele próprio disponibilizou no Youtube. 

“Saudade é um elogio ao passado” 



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Versão Brasileira

”De tempos em tempos, geralmente na lua cheia, o Mago procurava a cidade grande, onde readquiria algum poder, perdido no tempo, visitando alguns lugares e encontrando bons amigos. Geralmente voltava com víveres, não encontrados em “tão tão distante”, mas o que ele mais gostava era de ir ao cinema” 

“Cinema é a maior diversão”, já dizia Luiz Severiano Ribeiro, mas muita coisa mudou: o cinema de rua praticamente acabou (agora é nos shoppings e estabelecimentos semelhantes); o preço tornou-se proibitivo – minha mãe era professora estadual, levava os dois filhos e ainda sobrava uma grana para o lanche (imagina isso hoje em dia); a qualidade dos filmes tornou-se discutível. 

Minha primeira escolha para os dias de folga que, merecidamente, tive recentemente foi “Bom Gigante Amigo” uma associação da obra de Roald Dahl (conhecido principalmente por seus livros infantis, entre os quais figuram "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "Matilda"), Estúdios Disney e Steve Spielberg. Com essa coletânea de estrelas, fui na certeza de um ótimo espetáculo, mas não convenceu: história ótima, não explorada da forma correta; dublagem sofrível com erros de português inimagináveis num filme com a chancela Disney (era uma das características até das historinhas em quadrinhos: não falar ou escrever errado), pois o gigante falava atrapalhado mas a tradução poderia passar sem o “ouvo” numa referência ao verbo ouvir (“ouço”). 

- Ah! Você foi numa sessão dublada? 

Filmes dublados são comuns na televisão, até para garantir um acesso legal ao público em geral. No cinema eles ficavam restritos (ou quase) aos filmes destinados às crianças pequenas que ainda não sabem ler. Felicidade dos atores dos estúdios AIC e Herbert Richers que, agora, praticamente todos os filmes do cinema possuem versões dubladas num número maior de sessões que as legendadas (aliás, é interessantíssimo frequentar a sala de espera de um desses estúdios, porque você escuta todas as vozes dos desenhos animados e você não imagina quem esteja falando). Essa ideia é interessante, mas pode apontar para uma “preguiça” ou incompetência do expectador para ler as legendas, sem contar que prejudica os deficientes auditivos (que já andaram reclamando disso tudo). Por conta disso, a sessão que assisti era dublada mesmo (mas era em 3D e essa parte foi ótima). 

O outro filme abriu espaço para falar das Olimpíadas que é o assunto do momento (depois do Pokémon, dos julgamentos políticos, do preço do feijão, do leite, etc). Explico: fui assistir “A Lenda de Tarzan”.

- Mas o que isso tem a ver com as Olimpíadas? 

“Johnny Weissmuller, nascido János Weißmüller (Timişoara, Romênia, 2 de junho de 1904 — Acapulco, México, 20 de janeiro de 1984) foi um atleta e ator norte-americano, famoso por interpretar Tarzan, o personagem de ficção criado pelo escritor estadunidense Edgar Rice Burroughs. Antes de entrar para o cinema, Weissmuller teve uma carreira excepcional como desportista, tendo conquistado cinco medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de 1924 e 1928. Ele estabeleceu 67 recordes mundiais de natação e ganhou 52 campeonatos nacionais, sendo considerado um dos melhores nadadores de todos os tempos.” (Fonte:Wikipedia) 

- Ahhhhhhhh!

Depois da explicação, o filme foi bom: dublado, vi no último horário do dia e teve o famoso “grito do Tarzan” que também foi obra do Johnny Weissmuller, pelo menos até a revelação de que macaca Chita, fiel escudeira do Tarzan, era um macaco e que, segundo o site Porco Espírito, o grito também era uma dublagem... será? 


  
Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Agradeço o trabalho de nosso estagiário, o Quati do Narrador, que conseguiu a autorização da Sofia Leitão para o uso da tirinha do Porco Espírito.  

N.N.2: O que fazia o Samuel L. Jackson (vulgo “Nick Fury”) no filme do Tarzan? Seria o Tarzan, realmente, o primeiro Vingador, ao invés do Capitão América?

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Em busca do sanduíche perfeito

Em tempos de jogos olímpicos e caça ao Pokémon, este é um daqueles textos que fica bem fora de contexto, até porque é um assunto bem pontual. 

Quando eu era bem criança, férias escolares era sinônimo de cinema e lanche no Bob's depois (sim... naquela época o Bob's já existia). A lanchonete em nada parecia o que vemos hoje: comíamos em pé, tomávamos suco quase natural e os sanduíches preferidos eram o misto quente e suas derivações (queijo quente ou presunto quente); hambúrguer já existia mas ainda era uma coisa bem embrionária. Com o tempo tudo mudou, surgiu concorrência estrangeira, as coisas não ficaram mais artesanais e o alimento processado tomou conta de tudo. 

Nessa mesma época, na praia da Barra da Tijuca, tínhamos os trailers que vendiam água de coco, cachorro quente, refrigerantes e ainda guardavam carteiras, documentos, chaves de carro, para os clientes de sempre; um ônibus, na praça do Ó, ficou famoso pela iguaria que vendia: o “Churros del Uruguay” (acho que ele também tinha um mini museu de serpentes associado, mas já não lembro direito disso).

Hoje em dia, o saudosismo - associado à necessidade de oferecer comida de melhor qualidade - criou o “food truck” que é uma repaginada do que tínhamos antigamente só que mais “transportável”, por assim dizer, visto que a ideia é ser itinerante mesmo, participando de eventos diversos. 

Neste final de semana temos, por aqui, o Festival de Food Truck, com parte da arrecadação destinada à Associação Catarinense de Deficientes, e eu fui lá conferir. Optei por um hambúrguer artesanal de fraldinha com cebolas caramelizadas, queijo gruyère num pão com umas ervas e com toque bem natureba de alface e tomate: uma delícia! De sobremesa fui atrás do churros e encontrei um que agradou, mas eu bem que ficava com aquele “del Uruguay” que era o máximo (pelo que li, parece que ele anda pelos lados do Rio Grande do Sul, mas sem o ônibus, só com a qualidade). 

Enfim, programa para a família toda com direito a show ao vivo à noite, mas essa programação eu deixei para ano que vem. Se arrumar alguém que dirija, o que não foi meu caso, ainda há cerveja artesanal para acompanhar os quitutes. 'Bora lá pra ser feliz!  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Tempo Perdido

”Então me abraça forte 
E diz mais uma vez 
Que já estamos 
Distantes de tudo 
Temos nosso próprio tempo”

Conheci Brasília por volta de 1976, quando só havia um cinema que passava filmes em Super 8, num centro comercial chamado de Gilberto Salomão. A juventude da cidade era praticamente composta por filhos de funcionários públicos federais, diplomatas, militares e todas aquelas famílias que para lá foram transferidas do Rio de Janeiro, quando houve a mudança da capital federal. Definitivamente era um lugar que não tinha nada pra fazer e a turma inventava qualquer coisa para resolver a problemática. Alguns anos mais tarde, pensando no rock dos 1980, Brasília surge em todo o seu resplendor. 

No último final de semana, durante a vigília de oração com os jovens da Jornada Mundial da Juventude no “Campus Misericordiae“ da Cracóvia na Polônia, o Papa Francisco fez um discurso com um trecho que achei muito significativo e que vai a seguir, não sem antes comentar que estava muito frio por aqui e mesmo assim eu insisti e sai de bicicleta pela cidade, como já vinha fazendo há uma semana: 

“Na vida, porém, há outra paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ! Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cômodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videogames e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar; porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos enquanto outros – talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós. Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; […] não viemos ao mundo para “vegetar”, para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade.” 

O discurso tem várias outras passagens interessantíssimas e essa metáfora do sofá foi excelente. Se os adultos já tem a grande tendência ao distanciamento da vida, com o entorpecimento causado pelas luzes estroboscópicas das telinhas várias (celulares, tablets, televisões, dentre outros) o que dirá da garotada, encharcada de alimentos industrializados e babás eletrônicas? Nas empresas, o horário do cafezinho, onde conversávamos com os colegas, foi substituído pelo acesso aos smartphones; em outras situações nem a empresa existe fisicamente como no caso das “fintechs”; e agora vemos as marquises das lojas repletas de pessoas tentando acessar o sinal do wifi. 

A reflexão que tem que surgir é a tal da marca que não deixaremos na vida se nosso comportamento se limitar à mesmice e ao comodismo (ou você acha que foi fácil eu sair do sofá para andar de bicicleta num dia frio?). Imagina se toda essa tecnologia existisse no início dos anos 1980? Já pensou a falta que o Rock Brasília faria nas nossas vidas? Pense nisso, na próxima vez que for tomar um café.

   


Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Para ler o discurso completo do Papa Francisco clique aqui.