sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Pelo singelo direito de sonhar

Faltando um mês para o Natal, mais uma vez recebi uma missão do Papai Noel e hoje foi o dia de cumpri-la. Duas irmãs, duas cartinhas deixadas na agência local dos Correios (a irmã mais velha escreveu as duas) e duas surpresas, cada qual a seu jeito, gerando um dia de alegria e emoção (com a participação mais que especial da mãe das meninas e da agente de saúde que localizou a família). 

Pensei muito no que escrever: a mágica do Natal está na fé, seja no aniversariante ou nas histórias do Papai Noel; as irmãs acreditaram e alcançaram seus sonhos e acho que isso é o mais importante de tudo. Ano bissexto, sonhos perdidos no tempo, um mês de "amizade condenada", surpresas de final de ano, tudo leva a crer que a mágica ainda está presente e resolvi reproduzir parte de uma das últimas postagens que coloquei no "Contos de Fada?" antes de vir para o sul, ainda em Petrópolis, e que é uma referência à uma amizade mágica de muitos anos. “Pelo singelo direito de sonhar” é um dos mais lindos textos que a Fernanda escreveu e representará o momento mágico de hoje. 

"Um dia me disseram que contos de fadas não existiam. Então, eu que sempre fui turrona, não acreditei e disse a todas as minhas amigas que eu mesma era uma fada, e mais do que isto, que todas as noites, ao adormecer, eu ia até a Lua, virava na Rua Regina, lá me abastecia de poderes encantados, encontrava as outras fadas e voltava para Terra, antes do sol nascer.   

No meu país encantado existiam também bruxas (mas todas do bem) gnomos, anjos, magos... Havia espaço para todos os seres encantados, e se você quisesse, diria na hora para você qual destes seres você era (todos nós, ao dormirmos, nos transformávamos em seres mágicos). Se fosse uma fada, deveria comer margaridas, porque este era o alimento sagrado das fadas, só eu que não precisava, porque comia lá na Lua.  

Até que em uma manhã chuvosa eu acordei e percebi que naquela noite não havia visitado a Lua. Senti-me muito triste: por que será que não fui para a Terra das Fadas esta noite?! Contei os minutos durante todo o dia, ansiosa, esperando a noite cair, para descobrir o que havia acontecido. Qual não foi a minha surpresa quando, no dia seguinte, vi que também não havia ido para a Lua naquela noite. Anos mais tarde fui descobrir que na noite anterior, havia perdido a minha licença para ser Fada, e com isto o caminho para a Terra das Fadas havia sido interditado pra mim... Jamais poderia voltar a Lua.   

Minha licença foi caçada no momento em que disse para minha amiguinha que Papai Noel não existia. E naquele dia eu não entendi, mas violei a maior lei do Universo... a do encantamento. Não sei se vocês sabem, mas além da lei da gravidade, daquela que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, tem também a do encantamento, são poucas as pessoas que conhecem, mas ela existe sim... diz sobre acreditar naquilo que não vemos, e é bem semelhante com o que os adultos, letrados, chamam de fé. Mas ela é mais do que isto, é a matéria que compõem os sonhos, que dá cor a vida e que traça o caminho para a Terra das Fadas. Violar esta lei é crime grave, ainda mais neste caso, em que eu estava retirando o direito de fantasiar daquela pessoinha. A punição para isto é a prisão perpétua no País do Ceticismo... o mesmo lugar aonde havia sido acorrentado aquele um que me disse que contos de fadas não eram reais. Ceticismo que, na tentativa de desvendar os mistérios do mundo, não te permite ver/sentir tais mistérios, porque cega os nossos verdadeiros olhos, os do coração. Não te permite imaginar o inimaginável e assim, tenta varrer a fantasia da sua vida, tudo fica meio cinza e morno... E toda a memória da infância encantada vai sendo esquecida, pois quanto a isto o Universo é cruel, assim que você fecha as portas para o mundo da fantasia ele também vai se fechando para você... 

Sorte que, 20 anos mais tarde,  consegui encontrar uma brechinha na porta da Terra da Fantasia,  porque sempre que você experiencia algo que você só consegue compreender pelas (sem) razões do coração, como o amor genuíno, uma fada sorri lá na Lua e abre uma pequena brecha pra você, que com sorte, pode avistá-la aqui da terra, e agarrar-se a ela... Para que isto aconteça só é preciso andar distraído, garanto...   

Ainda sonho em visitar a Rua Regina, principalmente nestas épocas do ano, em que sito ainda mais saudades dos encantos... mas meus pés continuam acorrentados, impedindo - me de voar mais alto... Talvez seja por isto que hoje carrego uma fada tatuada na minha cintura... Pelo singelo direito de sonhar.   

E se hoje, quase véspera de Natal, você me perguntar se acredito em Papai Noel,  a minha resposta seria, claro que sim!!"

 Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 20 de novembro de 2016

Animais Fantásticos e Onde Habitam

”Cadê o livro que ensina a receita dos feitiços? Aonde foi parar a garrafa jogada ao mar com o gênio ou a mensagem secreta?” 

Acordar cedo aos domingos é um hábito que cultivo, na contramão da maioria das pessoas que preferem dormir até mais tarde. Tenho que concordar que prolongar o período de permanência debaixo das cobertas é bom, mas é preciso estar dormindo mesmo: caso contrário os pensamentos podem seguir por caminhos dolorosos e a solução seria levantar e partir para outras atividades. 

"São as nossas escolhas, mais do que as nossas capacidades, que mostram quem realmente somos. Chegou a hora de escolhermos entre o que é certo e o que é fácil." Alvo Dumbledore 

Hoje faz frio... há dias faz muito frio... são nove meses de inverno (lembra que já contei sobre isso?)... talvez, em um mês, venha o verão, mas enquanto isso vou contar coisas mágicas que aquecem os nosso corações. 

Fiquei muito empolgado desde que soube, há pouco mais de 16 anos, que um personagem mágico fora criado e que os livros sobre sua história seriam lançados no Brasil¹; finalmente começaria uma nova era na literatura e que daria frutos dos mais diversos. Acompanhei toda a saga literária e cinematográfica e já vi as reprises televisivas um sem número de vezes (e como se fosse a primeira vez). 

"Emocionante não é? Quebrar as regras." Hermione Granger 

Ontem tive a chance de ver “Animais Fantásticos e onde habitam”, spin-off da série e que é a história da criação de um dos livros didáticos utilizados em Hogwarts, cujo autor seria Newt Scamander interpretado pelo ator britânico Eddie Redmayne² que dá ao personagem a intensidade necessária para demonstrar todo o amor aos animais que cuida em sua valise. 

"Pode se encontrar a felicidade mesmo nas horas mais sombrias, se a pessoa se lembrar de acender a luz." Alvo Dumbledore 
"Afinal, aquilo que amamos sempre será parte de nós." Harry Potter

Aliás, podemos dizer que estamos diante de uma história de amor, ou várias histórias, facetada e contada de forma bem mais adulta que a maioria dos contos de fada: definitivamente o filme não é para o público infantil (segundo a crítica especializada “Trata-se de uma obra mais adulta. Afinal, quem cresceu com a franquia, já é adulto hoje em dia. Mas não se preocupem, não vai faltar magia.”). 

Completando o dia, a Warner deixou, de presente, a parte 1 e 2, em sequência, de Harry Potter e as Relíquias da Morte… podia ser melhor? (vou pular essa resposta…). E se ainda existe dúvida sobre onde foi parar o livro dos feitiços, o gênio ou a mensagem secreta, que tal sair de bicicleta, sentir o vento no rosto, apreciar o céu azul e deixar crescer o amor que existe dentro de nós? 

"As coisas que nos pertencem acabam voltando para nós. Bom, nem sempre da forma que esperamos" Luna Lovegood  

  
Boa dia, bom domingo! Eu sou o Narrador.  

¹O lançamento da edição brasileira de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, pela editora Rocco, foi em 1 de janeiro de 2000. 
²Eddie Redmayne ganhou o Oscar de melhor ator principal em 2015 pelo filme “A Teoria de Tudo”, interpretando Stephen Hawking

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Quanto tempo demora um mês

Bem vindo ao “Coisas do Narrador”, spin-off do blog “Contos de Fada?”. Se você chegou aqui certamente gosta de entrelinhas, imagens criptografadas e “easter eggs” (existe tudo isso espalhado por aqui); caso contrário, deguste as sandices que escrevo e as leia com o coração.

“Em algum momento tudo passa, deixa lembranças, doces momentos, brilhos, cores, alegrias, tristezas, erros e acertos.” 

O plano de Adrielle era simples: a distração da lua cheia seria mais do que o suficiente para tirá-la do desvio temporal (onde toda sua comunicação seria cortada); feito isso, bastaria empurrar o sujeito para o jardim, arrumar um dia de sol e colocá-lo de novo na sua rotina alternativa por conta do ano bissexto: ele ficaria bem humorado, sem vontade de “picar a mula” para outros cantos, toda a dor que sentia iria embora, e a ideia inicial se restabeleceria sem imprevistos.  Ao cair no jardim, entretanto, o sujeito viu Adrielle, que prendera o pé numa raiz. 

- Ei, menina, quem é você? 
- Minha irmã fez isso tudo pra você. 
- Onde fica “isso tudo”? Cadê aquela outra que não sabia fazer café e gostava de brócolis? 

Quando ele acordou fazia muito frio, mesmo com o dia claro que se abria lá fora. A dor fora amenizada e uma ampulheta fora virada. 

- Ana, venha comigo. Já é tempo. Ele ficará bem. 
- Ela pediu que eu ficasse... assim farei... e ele não está bem certo de que devo ir também.

As irmãs se abraçaram e Adrielle sumiu numa nuvem cor de rosa. Com ela foram os últimos brigadeiros (estavam deliciosos). Ana olhou a ampulheta e lembrou de um dito antigo: 

“O tempo, enquanto dorme, é um gigante; quando acorda é poderoso e sopra a maldade pra dentro do estábulo, derrubando a arrogância dos que se julgam reis. Senhor da razão: terra de ampulheta que desliza lentamente pelo cristal que brilha à luz do sol. Quebre-se o vidro, espalhe-se o pó com aquele vento que dissolve o cansaço.. e que o tempo passe rápido e depois pare... para que eles sejam finalmente felizes.”  


 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Conto da Lua Cheia

Li em algum lugar que os condenados esperarão 74 anos para ver novamente uma lua cheia como a de hoje... que bom que eles estarão lá! 

Preso no desvio temporal, ele seguiu em silêncio no retorno inesperado para casa. No caminho havia muita chuva, mas consertara as luzes do carro e sentia-se seguro. Comprara um lanche e algumas cervejas para mais tarde. A cena ele já desmanchara de véspera, mas ainda havia muita lembrança à sua volta. Tomou banho, descansou, comeu o lanche que comprara e seguiu sem falar mais nada. 

A dor que ele sente é velha conhecida, talvez a única que o leve às lágrimas, e o consome na incerteza da perda tão certamente esperada, mas completamente indesejada. 

Ele permaneceu em silêncio, mas a visão da lua cheia acendeu seus olhos castanhos, refletindo no verde da tristeza as lágrimas escondidas e o desejo de um dia voltar a sorrir.

Finalmente, sob os raios do luar, escreveu um bilhete, daqueles que ninguém manda e que vira mensagem esquecida numa gaveta: 

“O poder que me ensinaste  
Poderá não ser suficiente 
Para o tempo passar depressa 
Preciso de você! Venha logo! 
Irei te buscar se preciso for, 
Mas não me deixe só... 
Can you understand?”

Lá naquele sonho, entre imagens e pensamentos, sombras e sentimentos, em seu coração somente um se faz presente e se chama saudade. 

- Beatriz, hora de dormir! 
- Só você me chama assim!

E um serelepe, após um afago e um sorriso, correu pela noite sob os os fios de prata da lua cheia, levando a mensagem a seu destino... 

  
 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 13 de novembro de 2016

Carpet of the sun

♪ ”See the carpet of the sun 
The green grass soft and sweet 
Sands upon the shores of time 
Of ocean mountains deep 
Part of the world that you live in 
You are the part that you're giving”♫ 

Trilhar pelos “Contos de Fada?” lembra uma vez que a “Garotinha” perguntou se eu estava com saudades do que escrevia antigamente. Hoje, talvez eu responda, mesmo que tardiamente, que às vezes sinto falta realmente. Por conta disso é que surgem textos com referência ao blog antigo, mas a vida continua e a gente tenta seguir em frente. Esquecer o passado? Não necessariamente... 

“Vindo e observando tudo na floresta, você estará livre para encontrar qualquer sentimento. Nesse dia você vai descobrir que conhece todos os caminhos e as coisas que lhe serão mostradas.” 

- Pensei em reservar o almoço, porque depois fica difícil arrumar lugar. 
- Melhor não.... um lanche depois será perfeito; compramos e comemos em casa mesmo. 

A ideia hoje era uma caminhada, levada a termo, na Floresta Nacional de Três Barras (mesmo local onde já houve um pedal e que contei aqui). O local é incrível e aberto, generosamente, a qualquer pessoa que queira conhecer. Foram pouco mais de 11 km de contato direto com a natureza. O dia estava nublado, mas não choveu, o que facilitou a caminhada. 

“Observe a grama verde, macia e doce: é o tapete que o sol lhe oferece; a parte do mundo que vive em você é a parte do amor que tudo complementará ” 

- Tenho pão de forma, queijo e presunto... nem precisaremos comprar. 
- Farei um brigadeiro, então. 
- Vou precisar saber os ingredientes... 

Há muitos anos havia uma banda que já mostrei aqui e que se chamava Renaissance. Tive o prazer e a honra de ver dois shows da vocalista Annie Haslam (o último em 2005 com Marcus Vianna, onde tirei algumas fotos) e uma das músicas da banda é bem adequada ao dia de hoje. Dessa forma, o texto segue com uma adaptação livre da letra de Carpet of the sun. 

- Leite condensado... 
- O que mais? 

“Sinta o dia, o calor da luz do sol ao seu redor, pois foi a melodia do amor que te encontrou.” 

- Manteiga...
- Tem que ter panelas não é mesmo? 
- Você não tem panelas? 
- Tenho, claro. Serve cacau em pó ou prefere achocolatado? 

“Na Natureza, a semente que plantamos hoje, amanhã será uma árvore... e a vida segue em frente, pois é tudo parte de nós dois.” 

- Ana, cheguei. 
O abraço das irmãs durou um bom tempo, lá naquele lugar que nunca aconteceu. 
- Preciso de você, Adrielle. O que era uma ótima ideia entrou num caminho complicado. 
- Você sabe que seu tempo está no fim e eu também não posso ficar por um período muito longo.
- Eu sei, mas daremos um jeito nessa confusão!



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

domingo, 6 de novembro de 2016

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Hora de voltar. 

Ela pedalara até bem longe, mas não estava tão cansada assim. Fez uma última saudação ao céu azul e o caminho pelo campo virou uma pintura, alternando tons de verde com um dourado brilhante em alguns trechos do percurso. 

Ana pegou a pequena sacola azul, azulzinha, onde raios de sol do passeio foram colocados e os espalhou por todos os lados, fazendo brilhar ainda mais o presente que levava para eles. 

Ele reclamou: estava abatido, falou que não era isso que tinham combinado e que eles erraram tudo; Melinda estava péssima, mas preferiu ficar quieta num canto. Ele pegou a caixinha de madeira que Ana lhe entregara; dentro dela havia uma almofadinha em forma de coração. Chamou a amiga vampira que finalmente sorriu e falou: 

- Aqui já há sol e um coração... agora basta preencher com outro coração que abrace, que possa dar um beijo de boa noite ou somente possa dizer um “até”. 

Ana sorriu e seguiu sua viagem de volta. Na despedida, deixou um pequeno cartão em cima da mesa com um poema.

- Eles estão mais calmos? 
- Não, mas isso virá com o tempo. 
- Quer chá, Beatriz? 
- Só você me chama assim... 


Boa Noite! Eu sou o Narrador.