sexta-feira, 27 de junho de 2014

Curtindo a Vida Adoidado

”A vida passa muito depressa. Se não paramos para curti-la de vez em quando, ela passa e você nem vê!” (Ferris Bueller) 

Desde os tempos do “Contos de Fada?” que eu sempre faço um comentário na passagem do meu aniversário. Esse ano, no dia mesmo, eu estava muito cansado, já que trabalhara na véspera e no próprio dia, e acabei não escrevendo nada. Sem contar que o inferno astral foi implacável e isso sempre atrapalha um pouco a inspiração. De qualquer forma, teve lá o “Parabéns”, mesmo “baixinho”, muitos recados recebidos (o “corujal” ficou lotado), um bolinho no dia seguinte e todo o necessário para espantar as desventuras e abrir espaço para as boas vibrações. 

Para complementar a atividade, nada como um passeio. Lá nos tempos do Ferris Bueller, em 1986, ele cabulou aula, passeou com os amigos e curtiu um dia sensacional, para ninguém botar colocar defeito. Ainda bem que os adolescentes de hoje não necessariamente viram o filme e muito menos ouviram falar do Ferris, mas ele foi um ícone daquela geração, onde descer ladeira na casa da avó, num carrinho de madeira, nem era novidade. 

Resolvi incorporar o personagem (no bom sentido, é claro) e parti pra Joinville, onde curti uma folga, bem merecida, para passear no shopping, comprar livros, ir ao cinema ver dois filmes de ficção científica que não acrescentaram absolutamente nada na minha vida, mas foram uma ótima distração, e encontrar a amiga Alice, com direito a café da manhã, presença de Amanda e ganhar presente especial: agora sim começou a nova era! 

Para registrar, nada como fotos e o vídeo de um dos momentos clássicos do filme. Quem não viu, vale a dica também!  



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Orquídeas e Margaridas

“Talvez as formas e as cores de uma orquídea nos surpreendam mais do que a simplicidade de uma margarida, mas devemos lembrar sempre que as duas são flores.” (Daniela Raffo) 

O empate, no jogo do Brasil com o México, não atrapalhou a visita. Mônica finalmente foi ver a amiga Bia, um mês depois que recebeu alta definitiva do hospital, onde tivera Rodrigo. Foi sozinha, para não atrapalhar com outra criança junto. 

“Depois do acidente eu lembro de pouca coisa. Muito barulho de sirene, depois um "bip bip" de alguma coisa que deveria ser um monitor e acordei num quarto, com um choro de bebe que não era o meu e sim de um casal que ocupava o outro leito e aí que minha mãe contou, mais ou menos, o que se passara. Eduardo estava internado, em outra ala do hospital e eu fui transferida para a maternidade, onde os médicos indicaram uma cesariana, mesmo que eu ainda estivesse de 35 semanas, mas como o acidente pareceu grave, eles preferiram não arriscar, já que o hospital era pequeno e não tinha tantos recursos assim.” 

Bia foi criada como uma princesinha. Ainda estava na dúvida se teria parto normal ou não, mas nem houve condição de decidir. A única coisa certa é que seria numa maternidade “de ponta”, na zona sul do Rio, já que seu seguro dava a cobertura. Um passeio rápido para ultimas compras para o bebê, numa outra cidade, onde as roupinhas eram muito bonitas, virou um pesadelo, quando um caminhão perdeu os freios, bateu no carro deles que saiu da estrada e ficou pendurado numa ribanceira (por sorte havia um salgueiro bem valente para segurar o veículo). Acabou internada num hospital público mesmo, sem maiores mimos ou luxos, mas com uma equipe dedicada e acolhedora. Claro que estranhou: ao invés de um quarto privativo, dividiu uma pequena enfermaria de dois leitos, por 10 dias, com outras companheiras, que logo levavam alta, já que seus filhos não ficaram na UTI, como o seu. O quadro não era grave, mas era um bebê pequeno e os médicos preferiram observar de forma mais contínua. 

“Era muito estranho. Minha mãe ficou comigo, mas eu não ficava à vontade, principalmente quando trouxeram Rodrigo para que eu amamentasse. Tinham outras pessoas, era tudo muito esquisito.” 

A sala da serviço social da maternidade foi um alento, para Bia, nesses momentos confusos. Apesar de minúscula, tinha elásticas dimensões, onde todos eram bem vindos. Através de uma pequena porta aberta para o corredor, que lhe proporciona a visão e a audição dos que por ali desfilam, a assistente social chega a conhecer a identidade de um ou de outro pelo som do caminhar; não se espalha em sorrisos ou em benefício assistenciais e sim em agenciamentos precisos e agudos, frente a uma vida sem coloridos artificiais, mas exatamente assim, da forma que é, e do quanto é. Seu olhar é largo, é critico, mas sobretudo é acolhedor.; e acolhe porque, mais do que tudo, sabe silenciar frente ao drama do outro e, tal qual copo vazio, absorve sem julgar. 

“Conversei muito com ela e com outras mães da UTI, que já estavam lá há muito mais tempo do que eu e ainda continuaram quando eu sai. Nossa sorte é que estávamos numa maternidade “humanizada” e as pessoas eram muito legais. Só que isso indicava a falta de privacidade que te falei, pois lá os maridos acompanham as esposas e ai compartilham também das nossas noites de puérperas, em nossos leitos de leites, sangues, alegrias, dores e choros de bebês.” 

Mônica ouvia tudo com certo espanto. A amiga mais nova deu a impressão de ter amadurecido séculos, até no jeito de falar. Bia era insegura, mas, depois de tudo isso, surgiu uma pessoa completamente diferente, como se estivesse somente escondida esperando o momento certo de aparecer. 

“Eu ainda dei sorte, por um lado, mas outras mães, que estavam em outros quartos, contaram de seus constrangimentos frente ao olhar do marido da "outra' companheira de quarto. Como eu estava com minha mãe e, geralmente, eu amamentava na UTI - só nos dois últimos dias é que o Rodrigo ficou comigo no quarto - não havia grande problema, mas mesmo assim foi chato. Elas sentiram a mesma coisa que eu, da sensação de desconforto quando o avental do centro cirúrgico se abria em seu corpo exposto, sob uma cegueira hipócrita do sexo. Em seu amamentar seguido pelo canto de olho, do outro homem, conhecido há pouco e, não poucas vezes, cheirando a pinga.” 

Rodrigo chorou, Bia levantou, pegou o garoto no colo, fez um agrado e foi amamentar. A cabeça de Mônica rodava, cheia de pensamentos. Com ela foi diferente, não foi fácil também, mas a realidade que conheceu, pelas palavras da amiga, nunca passara em sua cabeça. 

“É... assim caminham as sistematizações que, fora da possibilidade de um capital que garanta a individualidade, transformam o sujeito tal qual sua natureza animal. Mais ou menos assim: além de não ter a possibilidade de escolher o médico que vai atender ao seu parto, de não poder decidir a forma de parir, a forma de alimentar o seu filho, tem que dividir o quarto não com outra mulher, mas com o marido dela.” (Sarah) 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Agradeço à amiga, Sarah Alcantara, que escreveu o texto original, editado para o blog, e autorizou a publicação. 

sábado, 14 de junho de 2014

Junto e Misturado

A visão do céu azul, do caminhão tanque abastecendo o posto de gasolina em frente, que estava sem combustível por conta das estradas interditadas, e o movimento do relógio da água, deu a esperança de que as coisas começam a voltar aos seus lugares. Melhor ainda quando o comunicado do Corpo de Bombeiros relatou que o nível do rio cedeu dois centímetros, mesmo que a inundação ainda persista praticamente inalterada. Pequenos sinais de que o problema caminha para seu término. 

Atingido indiretamente pelas enchentes, conclui que, este ano, o inferno astral veio com toda a fúria, mas temos que ser do grupo "copo meio cheio" ou, então, desistir. Claro que vários foram atingidos diretamente, perdendo suas casas e pertences, mas saíram vivos e essa dádiva todos agradecemos em nossas orações, sem esquecer de elogiar o trabalho da Defesa Civil junto com os Bombeiros, Polícia Militar e todos os demais voluntários que trabalham, incessantemente, para minimizar o efeitos da enxurrada. 

Como a vida continua, resolvi escrever alguma coisa relacionada a outros temas da semana, mas aí veio um problema: muitos eventos numa semana só, ou seja, Copa do Mundo começando no Dia dos Namorados, que teve lua cheia e que foi na véspera de uma Sexta-Feira 13, classicamente um dia dedicado aos contos de terror. Depois de muito pensar, vamos ver o que saiu. 

Ana Paula ficou sozinha em casa. Como todos viajaram e não conseguiram voltar, com as estradas interrompidas, aceitou o convite daquele casal tão simpático que morava no final da rua, para assistir a abertura da Copa do Mundo pela televisão. O jogo, propriamente dito, não interessava muito, mas a televisão deles era daquelas de cinquenta e tantas polegadas e o lanche estava ótimo. No final do primeiro tempo ela pediu licença, agradeceu e preferiu voltar pra casa, pois uma certa melancolia relacionada ao dia fez com que o recolhimento fosse uma boa opção. Em casa, ligou sua própria televisão e resolveu assistir a "Galinha Pintadinha", o que a fez lembrar de alguma coisa da festa de abertura. 

No meio da barulheira das comemorações pela vitória da seleção brasileira, alguns gritos, gemidos e até uivos meio atípicos eram ouvidos ao longe, o que gerou um pensamento malicioso: 

- Esse casal está é comemorando o dia! Quem diria! - ela riu. 

No dia seguinte, novo convite, só que, dessa vez, para jantar - “Nossa! Que casal simpático!” -  e ela aceitou. Mesa posta, luz de velas e, de repente, o casal abre as cortinas, o luar invade o ambiente, pelos, dentes e garras surgem em ambos, que começam a rir e gritar para ela: 

- Nataaashaaaa!! 

Aos gritos, Ana Paula começou a correr pela sala, já entendendo que ELA seria o jantar do casal de lobisomens. 

- Nataaashaaa!! 

- Nataaashaaa!! Acorda porra caralho guria! 

Levando vários tapas na cara, fora a jarra d'agua derramada em cima de seu figurino “blusa e shortinho” da seleção brasileira, ela acordou com aquele natural “gosto de guarda-chuva” na boca e uma puta enorme dor de cabeça. 

- Natasha não! Ana Paula, caralho por favor! 
- Ah! Nem vem né! Resolveu afogar as mágoas no jogo do Brasil e ainda quer passar de santinha? 
- Onde eu estou? Você ficou comigo o tempo todo não foi? 
- Melhor nem querer saber. Vamos embora antes que a merda confusão aumente. 

Salva pela velha amiga, aquela bonitona, Ana Paula chegou em casa, tomou um banho, queimou as roupas da festa, para eliminar qualquer vestígio da farra, e depois trancou a casa toda, por via das dúvidas. (“Quer saber? Sei lá...”)


- Para quem você está mandando este e-mail, Melinda? - perguntou o Guri.
- É para Adrielle, contando que eu repeti a dose de 2012.

Boa Noite! Eu sou o Narrador!

N.N: Agradeço, mais uma vez, ao Guilherme, pela tirinha exclusiva. Visitem o Porco Espírito.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Enchente Pequena e Rápida?

Para quem morou no Rio de Janeiro e depois mudou para Petrópolis, conviver com a chuva não é nenhuma novidade. Em 1966, a cidade passou por vários dias de chuva sendo o desastre lembrado até hoje, inclusive eu lembro bem de algumas coisas que a minha mãe contou na época. Naquele tempo, desastres naturais eram muito mais imprevisíveis do que atualmente, mas ainda causam grande problemas. Na capital carioca, a coisa realmente era rápida e, até hoje, qualquer chuva mais forte transborda o Rio Maracanã, a Praça da Bandeira inunda, mas o sistema de drenagem melhorou e os transtornos são menores. Na região serrana, além dos rios "botarem pra fora", os morros desabam e, na falta de solução melhor, sirenes foram instaladas, para que as pessoas fujam das suas casas. 

O que chama atenção é que deveríamos aprender com a história: se um dia choveu e o morro “desceu”, por que as pessoas moram nesses locais? Se a solução é sair correndo quando toca a sirene, onde estão as rotas de fuga? 

No último final de semana, todos sabiam que ia chover forte no Planalto Norte de Santa Catarina. A previsão do tempo, atualmente, é ótima, e dá pra você afinar a programação. Quando chove muito, naturalmente os rios enchem, as casas próximas, que muitas vezes, são construídas abaixo do nível da rua, vão ser invadidas pelas águas (por que constroem casas abaixo do nível da rua isso eu já não sei) e, progressivamente, os acessos serão interrompidos. Disseram que a última vez que isso aconteceu, nessa região e de forma tão intensa, foi em 1983 e a diferença com as enchentes no Rio de Janeiro é que a coisa vai piorando progressivamente e dá até um tempo maior para que as pessoas fujam e que algumas providências sejam tomadas, para evitar um desastre maior. 

Agora vamos à realidade: já que o trabalho não para, vamos procurar informações e saber se a estrada permite a passagem. Ah! Hoje temos internet e tudo é mais fácil! Ledo engano! Ao pesquisar sobre a condição das estradas, encontrei muita dificuldade para saber onde ficava o quilômetro "x" da rodovia "y". Alguém consegue entender, com precisão, essas localizações? Por que não dão uma informação mais simples do tipo estrada "tal", entre cidade "a" e cidade "b", não passa nada porque o rio "assim", que fica perto do local "assado", ultrapassou a ponte? Como não tenho essa inteligência privilegiada, procurei nos sites daqueles encarregados pela nossa segurança nas estradas (incluindo Facebook e Twitter) e as informações eram confusas. Ai tentei telefonar, mas também não deu certo. Como conheço o caminho, esperei amanhecer, já que a chuva parara, e “toquei o bonde”, já tendo avisado que iria chegar atrasado. Fiz uma viagem sem incidentes, mas foram 30 horas de incertezas (será que consigo voltar para casa?). 

No meio do desastre, mas seguro, continuei meu trabalho normalmente, ouvindo muitas pérolas, como a total desinformação da rede de transferência de pacientes, que pedia vaga para internação sem ter a menor ideia como passariam pelo trechos interrompidos (se eles não sabiam como é que a gente iria saber?) e, em alguns casos, nós, que trabalhávamos algo isolados, é que informávamos (por conta da experiência pessoal). Na confusão, um sem número de boatos, totalmente infundados, surgiram, o que aumentou muito a natural preocupação das pessoas. 

O que funcionou? As rádios! Sim... lembra do velho rádio de pilha? Pois é! As rádios locais transmitiram, incessantemente, as notícias praticamente em tempo real. Fiquei com pena de vários alunos que vi na estrada, esperando os ônibus escolares que não chegariam, já que as aulas foram suspensas (bem lógico, né... nem que não fossem suspensas eu mandaria um filho para o colégio depois de tanta chuva... mas, enfim, cada um sabe da sua vida). Além do rádio, o boca a boca ajudou muito, mas isso dependia, também, de alguém ter se aventurado pelos caminhos eventualmente inundados. 

Conclui que, mais de trinta anos depois, ninguém teve interesse num plano bem estruturado de emergência numa situação dessas. Tempo não faltou (ou será que pensaram que nunca mais iria acontecer?), mas ninguém pegou uma pastinha velha com alguma coisa escrita, bem escondida numa gaveta, onde as alternativas, rotas de fuga e tudo o mais estaria datilografado numa antiga máquina de escrever Olivetti, talvez com algumas coisas impressas no Word e isso não aconteceu porque não existe. Será que agora quem de direito aprende? Existe a tecnologia, que tal usar? Os desastres naturais são inevitáveis, mas os transtornos podem ser minimizados. Falta interesse, para não dizer que falta inteligência. 

A foto, que vou deixar hoje, eu tirei na segunda-feira de manhã, no caminho para o trabalho, e ela representa somente a esperança, porque o sol sempre vai aparecer em algum momento, para iluminar as nossas vidas.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador (já cheguei em casa).

sábado, 7 de junho de 2014

Conto do Patinho Feio e a Festa Junina (ou: Por que chove em dias de festa?)

Como já falei uma vez, quando você junta o frio e a chuva, aqui por essas bandas, o efeito é uma umidade danada que deixa paredes, piso e tudo o mais completamente molhados. Como antes estava muito seco, acumulou poeira e ai, como resultado, temos a lama dentro de casa. Depois de providencial limpeza, consultar a previsão do tempo pareceu uma boa ideia, já que hoje é sábado, mas nem precisaria disso, já que os trovões e os faróis dos carros acesos já "iluminavam" o que seria o dia. 

Luisa sempre foi bonita: bem magrinha, cabelos castanhos compridos, com discreto cacheado, pele clara, um sorriso bonito que realçava suas covinhas, mas chegou naquela fase complicada, onde a infância começa a ficar para trás e os primeiros amores acontecem, descobrindo um desagradável astigmatismo e a dentista a condena a longos três anos de uso de aparelho fixo, virando a versão feminina do “patinho feio” (isso só pra ela mesmo). Apesar de ficar mais retraída, descontava qualquer insatisfação andando de skate e desenhando, o que aliviava suas tensões. 

O momento mais divertido do colégio, antes das férias de meio de ano, era a festa junina. Nem preciso dizer que o figurino era motivo de muita movimentação nos ateliers das costureiras do bairro, principalmente para as meninas, já que figurino caipira de menino é muito fácil de fazer (quem é mãe de menino sabe disso). Só que o mais interessante, este ano, é que seria a última vez daquela turma, pois a partir do sétimo ano, os alunos não dançam mais (nunca entendi bem o por quê disso). 

Voltando à história de Luisa, no sorteio dos pares ela deu a sorte de ser escolhida para compor o casal com o menino mais bonito do colégio. Associado a isso, a dentista deu alta, retirou o aparelho e, como o problema de visão era só pra perto, nem os óculos ela precisaria usar na festa. 

Melhor impossível, Fada Madrinha considerou seu trabalho resolvido e "picou a mula" para Aracaju, porque as festas juninas de lá são muito mais animadas do que as daqui. O que ela não contava é que Luisa, resolveu comemorar sua sorte testando um skate novo que ganhara; não deu outra: tombo, entorse, gesso e o “patinho feio” teve que adiar sua transformação em “cisne”. 

- Ai, Ana! Não chove desse jeito no inverno! Chama a Fada Madrinha pra resolver esse problema! 
- Adrielle, a FM encheu a cara de quentão, no show da Elba Ramalho lá em Aracaju, está de ressaca e mandou um e-mail mandando eu me virar. 

Como Adrielle não faz as coisas pela metade, mandou uma chuvarada (daquelas que deixaria o Geraldo Alckmin aliviado) e a festa junina foi adiada para o início de julho. Até lá, Luisa já não terá mais o gesso e seu momento “cisne” finalmente acontecerá. 

- Adrielle, te amo! Só você, minha irmãzinha, pra resolver esse problema. 
- Ainda vou providenciar um apagão.... 
- Nãaaooooo! Segura isso porque o Narrador tem que contar essa história hoje!


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

N.N.: Essa história tem uma continuação. Clique aqui para conferir. 

domingo, 1 de junho de 2014

O Amor Nos Tempos da Copa

Muita gente da minha geração só foi conhecer a Copa do Mundo em 1970, quando a equipe brasileira foi campeã no México. Éramos muito crianças para ter ideia do que era ditadura militar e alguns nem pra time local torciam. Lembro que vários jogos eu vi na casa da minha avó, cuja janela dava de frente para a Rua Uruguai, na Tijuca, e, depois das vitórias, sempre havia comemoração com desfiles de pessoas na rua e era bem divertido. Em 1974 tinha a televisão a cores, como novidade; em 1978 eu não lembro direito, porque estava às voltas com o vestibular, mas em 1982 a decoração das ruas é que era a coisa mais marcante nessa época. 

Com os pais de Ellen não foi muito diferente, só que eles moravam em Brasília. Sua mãe, bela cabocla amazonense, fora morar por lá bem pequena, quando a família arrumou emprego na construção de alguma coisa na cidade e nunca mais voltou para Manaus; seu pai, pelo pouco que se sabe, era filho de diplomatas de algum desses países, onde loiros de olhos azuis são comuns, já que ela puxou totalmente a ele no quesito aparência. 

Concebida na comemoração do tricampeonato brasileiro, seu nascimento foi na Maternidade Carmela Dutra, no bairro do Lins de Vasconcelos, pois sua mãe, que tornou-se adolescente inconsequente, foi expulsa de casa e fugiu para o Rio de Janeiro, onde, grávida e faminta, foi acolhida por um casal e com eles morou a vida toda, garantindo uma infância confortável para Ellen que virou a alegria da casa. Bom... o casal acabou assumindo o papel de avós, a mãe dela era meio filha, meio empregada, tudo deu certo, mas vamos pular essa parte para chegar ao que interessa. 

Viver no subúrbio, naquela época, era legal: muitas casas, principalmente em pequenas ruas, denominadas “vilas” (algumas ainda não foram substituídas por prédios e foram os “protótipos” dos atuais condomínios fechados das cidades grandes), onde todo mundo se conhecia, as crianças brincavam na rua, jogando bola e soltando pipa. Ellen chamava a atenção porque era muito “moleca”, destoava pela aparência e jogava futebol como ninguém, sendo a preferida da turma quando o assunto era “pelada”, obviamente no bom sentido da gíria. Em 1978, já com 7 anos, acompanhou sua primeira Copa do Mundo, com seus amiguinhos de vila, lamentou a perda, mas nem ligou muito porque já era flamenguista doente e seu time entrava na “Era Zico”. Em 1982, despediu-se dos amigos e foi morar na Tijuca, onde frequentava o clube local e era meio complicado jogar bola por lá (mas ela conseguia). 

Com a animação da Copa, logo incorporou-se aos grupos, que faziam pedágios nos sinais para conseguir grana para a decoração das ruas (ela é que conseguia o maior número de doações); o “Alzirão” (inaugurado em 1978) começava a ganhar corpo e foi lá que ela conheceu o pai da Bia, esposa do Eduardo e amiga fiel da Mônica, de quem já falei algumas vezes em outros textos. 

Ele era mais velho, muito tímido, mas ficou encantado: fazer o que né? Acompanhou seus passos, à distância, nos quatro anos seguintes, pois frequentava o mesmo clube e sempre que possível ia lá vê-la jogar. Em 1986 ele continuava “babando” por ela, mas teve que esperar até o o Brasil perder para a Argentina em 1990, quando, enquanto ela chorava copiosamente, lá no mesmo “Alzirão”, onde ele a viu pela primeira vez, Roberto perdeu a timidez e a amparou. Conversa vai, conversa vem, começaram a namorar. 

Com a história marcada pelas comemorações, claro que a Bia participaria disso, pois nasceu justo na hora dos pênaltis da final contra a Itália, em 1994, e é lógico que alguém estava com a televisão ligada em algum lugar e que dava para ouvir à distância.

- Força, Ellen! 
- Caralho! Como que o Márcio Santos me perde um pênalti! 
- Deixa o jogo, Ellen, que a Bia tá nascendo! 
- “Vai que é sua, Taffarel” - gritava o comentarista! 
- Ellen, força que agora vai! 

E o choro de Bia e alguns “puta que pariu” palavrões misturaram-se aos gritos de “É Tetra”! 

Este ano tem Copa do Mundo outra vez, só que a coisa está bem diferente: Ellen e Roberto são avós, a animação é a mesma, porém a política anda complicando as coisas e vão é assistir tudo pela televisão mesmo (isso se der tempo), mas os tempos do “Alzirão” serão sempre inesquecíveis.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.