domingo, 1 de junho de 2014

O Amor Nos Tempos da Copa

Muita gente da minha geração só foi conhecer a Copa do Mundo em 1970, quando a equipe brasileira foi campeã no México. Éramos muito crianças para ter ideia do que era ditadura militar e alguns nem pra time local torciam. Lembro que vários jogos eu vi na casa da minha avó, cuja janela dava de frente para a Rua Uruguai, na Tijuca, e, depois das vitórias, sempre havia comemoração com desfiles de pessoas na rua e era bem divertido. Em 1974 tinha a televisão a cores, como novidade; em 1978 eu não lembro direito, porque estava às voltas com o vestibular, mas em 1982 a decoração das ruas é que era a coisa mais marcante nessa época. 

Com os pais de Ellen não foi muito diferente, só que eles moravam em Brasília. Sua mãe, bela cabocla amazonense, fora morar por lá bem pequena, quando a família arrumou emprego na construção de alguma coisa na cidade e nunca mais voltou para Manaus; seu pai, pelo pouco que se sabe, era filho de diplomatas de algum desses países, onde loiros de olhos azuis são comuns, já que ela puxou totalmente a ele no quesito aparência. 

Concebida na comemoração do tricampeonato brasileiro, seu nascimento foi na Maternidade Carmela Dutra, no bairro do Lins de Vasconcelos, pois sua mãe, que tornou-se adolescente inconsequente, foi expulsa de casa e fugiu para o Rio de Janeiro, onde, grávida e faminta, foi acolhida por um casal e com eles morou a vida toda, garantindo uma infância confortável para Ellen que virou a alegria da casa. Bom... o casal acabou assumindo o papel de avós, a mãe dela era meio filha, meio empregada, tudo deu certo, mas vamos pular essa parte para chegar ao que interessa. 

Viver no subúrbio, naquela época, era legal: muitas casas, principalmente em pequenas ruas, denominadas “vilas” (algumas ainda não foram substituídas por prédios e foram os “protótipos” dos atuais condomínios fechados das cidades grandes), onde todo mundo se conhecia, as crianças brincavam na rua, jogando bola e soltando pipa. Ellen chamava a atenção porque era muito “moleca”, destoava pela aparência e jogava futebol como ninguém, sendo a preferida da turma quando o assunto era “pelada”, obviamente no bom sentido da gíria. Em 1978, já com 7 anos, acompanhou sua primeira Copa do Mundo, com seus amiguinhos de vila, lamentou a perda, mas nem ligou muito porque já era flamenguista doente e seu time entrava na “Era Zico”. Em 1982, despediu-se dos amigos e foi morar na Tijuca, onde frequentava o clube local e era meio complicado jogar bola por lá (mas ela conseguia). 

Com a animação da Copa, logo incorporou-se aos grupos, que faziam pedágios nos sinais para conseguir grana para a decoração das ruas (ela é que conseguia o maior número de doações); o “Alzirão” (inaugurado em 1978) começava a ganhar corpo e foi lá que ela conheceu o pai da Bia, esposa do Eduardo e amiga fiel da Mônica, de quem já falei algumas vezes em outros textos. 

Ele era mais velho, muito tímido, mas ficou encantado: fazer o que né? Acompanhou seus passos, à distância, nos quatro anos seguintes, pois frequentava o mesmo clube e sempre que possível ia lá vê-la jogar. Em 1986 ele continuava “babando” por ela, mas teve que esperar até o o Brasil perder para a Argentina em 1990, quando, enquanto ela chorava copiosamente, lá no mesmo “Alzirão”, onde ele a viu pela primeira vez, Roberto perdeu a timidez e a amparou. Conversa vai, conversa vem, começaram a namorar. 

Com a história marcada pelas comemorações, claro que a Bia participaria disso, pois nasceu justo na hora dos pênaltis da final contra a Itália, em 1994, e é lógico que alguém estava com a televisão ligada em algum lugar e que dava para ouvir à distância.

- Força, Ellen! 
- Caralho! Como que o Márcio Santos me perde um pênalti! 
- Deixa o jogo, Ellen, que a Bia tá nascendo! 
- “Vai que é sua, Taffarel” - gritava o comentarista! 
- Ellen, força que agora vai! 

E o choro de Bia e alguns “puta que pariu” palavrões misturaram-se aos gritos de “É Tetra”! 

Este ano tem Copa do Mundo outra vez, só que a coisa está bem diferente: Ellen e Roberto são avós, a animação é a mesma, porém a política anda complicando as coisas e vão é assistir tudo pela televisão mesmo (isso se der tempo), mas os tempos do “Alzirão” serão sempre inesquecíveis.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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