terça-feira, 27 de maio de 2014

Quando Você Crescer

Estou numa fase meio “reclamativa”, provavelmente fruto da idade e do inferno astral. Tento levar alguma diversão aos meus dezesseis leitores (ganhei mais dois recentemente), mas como o blog é meu, às vezes fico de saco cheio de algumas coisas e “sento o pau” aqui, já que encontrei uma fórmula boa de escrever o que penso, num formato que acho mais legal que os dois blogs anteriores (eles eram legais também, só que muito mais herméticos). 

Outro dia apareceu, num blog da revista VEJA, um desabafo de um médico com um ano de formado que falava uma série de coisas, mas efetivamente o que me incomodou foi essa parte que transcrevo por aqui (o post inteiro está disponível no Facebook, mas não vou deixar o link). 

“Se hoje eu pudesse dar um conselho a quem está prestando vestibular para medicina, eu aconselharia que desistisse enquanto há tempo. A não ser que esteja disposto a levar uma vida de sacrifícios sem resultados e decepções diárias. Ser médico no Brasil não compensa. Ser médico no Brasil não é para qualquer um.” 

Aí fui na página desse médico e mandei uma mensagem, contando um pouco da minha história, que resolvi compartilhar (alguns trechos), já que tive muitos alunos, hoje a grande maioria relatando seus sucessos, o que me deixa muito orgulhoso, e também por não concordar com esse parágrafo acima. 

“Prezado […] Seu desabafo no Facebook apareceu hoje no blog [...], mas já tinha lido […]. Este ano completo 30 anos de formado […] e o que havia no meu início de carreira não era muito diferente do que existe hoje em dia, em relação à superlotação das emergências, gente no chão, falta de insumos básicos e tudo que se vê por ai. Isso nunca melhorou e não vai melhorar nem tão cedo (acho que não vou ver isso). Mas ser médico é muito maior que tudo isso: é dedicação eterna, todos os minutos de todos os dias. Dizem que é sacerdócio... talvez... não me considero sacerdote de coisa alguma, mas sou médico porque não me vejo em qualquer outra profissão. […] De qualquer maneira, foi muito esforço. […] Não é para qualquer um? Não é mesmo. Só que, mesmo com dificuldade, eu sempre quis fazer a diferença com meu trabalho. Minha cota de fracassos, em termos numéricos, felizmente é menor do que de sucessos; e minha taxa de reconhecimento do paciente é mínima. Só que isso não faz a menor diferença. Sou médico porque gosto da coisa e faço da melhor maneira possível, procurando aprimorar, a cada dia, a minha técnica e minha abordagem. Como procuro fazer a coisa da melhor maneira possível, não quero nem saber das insanidades dos gestores públicos. A minha cobrança vem do meu travesseiro, onde encosto a cabeça para dormir e eu durmo, porque fiz um bom trabalho. Fico triste quando vejo depoimentos como o seu e de outros garotos novos como você; não creio que você fez medicina por mercantilismo e sim porque tinha vocação para a coisa, senão nem teria terminado o curso. Só acho que devemos dar o exemplo de dedicação sem se importar com os desvarios dos gestores. [...] Divida com o usuário as suas condições de trabalho, para que ele possa te ajudar também, cobrando providência dos gestores. Isso dá mais trabalho que atender, mas se não fizermos isso, nada vai mudar. Teria muito mais para te falar, mas já me estendi muito. Um grande abraço e boa sorte.” 

Raul Seixas é aquele cara que nasceu há dez mil anos atrás e que dizia que “não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais”. Estou muito longe de saber tudo, mas, hoje em dia, nosso alcance aumentou. A escolha de uma profissão vem da vocação e, uma vez que você teve vontade, pode pesquisar, conversar e explorar todo o universo que virá depois de passar no vestibular e depois da formatura; independente disso, qualquer um tem o direito e o dever de tentar melhorar as coisas e, se achar que não era bem isso que queria, de começar outra vez (sempre há tempo). O que não posso admitir é o conselho infeliz. Se hoje alguém me perguntasse se vale a pena ser médico, eu contaria tudo que eu sei e diria que, pra mim, valeu e vale muito a pena. É difícil? Alguém conhece alguma profissão fácil? Vamos combinar, né? 

Deixo aqui uma pérola que encontrei, do LP “Eu nasci há 10 mil anos atrás” que vale a pena ouvir e refletir. O cara era o máximo! 





Boa Noite! Eu sou o Narrador.

3 comentários:

  1. Dr. Rêgo, Coloproctologista27 de maio de 2014 às 19:34

    Ele respondeu o seu comentário?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não respondeu, mas a mensagem que mandei é somente o trecho entre aspas.

      Excluir
  2. O que será que compensa ser no Brasil, em termos de profissão? Depende do que se entende por "compensa". De fato nada é fácil e nenhuma profissão é fácil. Para aqueles que esperam pelo mundo perfeito para começarem a fazer diferença e serem felizes, nenhuma profissão jamais será suficientemente boa ou valerá a pena. Que pena para eles...

    ResponderExcluir