sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Conto do Fogão

Na semana passada, ela esquecera um pouco da vida, viajou até sua cidade natal, onde moram seus pais, e era feriado, havendo uma grande festa comemorativa. Apesar de tentar passar despercebida, encontrou sua antiga amiga (aquela gostosona) que, evidentemente, não deixou de contar suas estripulias com o namorado.

Na volta para casa, uma bagunça danada, já que suas enteadas nada fizeram e o marido preferiu não desagradar as filhas.

- Então, a festa foi boa? - ele perguntou, com um sorrisinho meio amarelado.
- ("Teu cu!" – ela pensou) Claro meu bem! - ela evitou encrenca.

Nem tomou banho e partiu para a arrumação. Muita louça, muita lama dentro de casa ("o que custava tirarem a porra do sapato antes de entrar") e essa foi a parte fácil. O maior problema ficou com a lavagem de roupa, já que a umidade estava alta devido à chuva e ao frio polar que se abateu sobre a região. Preferiu não arriscar e selecionou apenas as roupas de baixo que poderia secar no fogão a lenha, já que havia um mini varal acima dele, justamente para isso. Para evitar o cheiro característico de fuligem, o grande lance era acender o fogão e só colocar as roupas um bom tempo depois.

Decidida, aproveitou que as gurias ainda estavam no trabalho e o marido encontrava-se em local indeterminado, mas fora de casa, verificou se, ao menos, a lenha que comprara com antecedência estava seca e iniciou os trabalhos no fogão. A compra foi boa, pois os preços estavam mais em conta e ainda ganhou um quilo de lascas de nó de pinho, como cortesia. Juntou uns gravetos e um pouco de jornal, acendeu essa base e colocou uma lasquinha bem pequena (sim, tem que ser algo desse tamanho porque o nó de pinho tem um poder calorífico absurdamente maior que a lenha comum e, se você usar muito, num fogão pequeno, a coisa pode esquentar de verdade), houve alguma fuligem, mas o fogão foi esquentando aos poucos. Aproveitou e colocou água na chaleira, separou a garrafa térmica, colocou chimarrão na cuia e foi tomar um banho, não sem antes já colocar algumas peças para secar e conferir se o boiler deixara a água do banho quente (sem surpresas dessa vez).

Estava exausta e o banho faria bem. Ligou o rádio no máximo de volume, naquela estação que só tocava sertanejo (o “cornual” é claro) e deixou a água quente e relaxante correr pelo seu corpo, no melhor estilo “comercial de shampoo”.

- Alô? É do bombeiro? Aqui é a enteada da Ana Paula! É que tá pegando fogo aqui! Já vem? Anda logo!

O som da sirene foi abafado pela música do rádio que ela cantava como se estivesse num karaokê: ♪”Tá tão difícil pra você também, né?/Com o coração vazio, mas sempre de pé/ Buscando alguma direção”♫

De repente um machado arromba a porta do banheiro e a fumaça negra é misturada com o vapor da água do chuveiro. Ela grita, o bombeiro não quis nem saber, coloca Ana Paula nas costas e a leva até o quintal, onde foi coberta com uma manta.

Bom... estava tudo muito certinho, até que a tapada da enteada chegou em casa, achou que estava muito frio e resolveu colocar mais lenha no fogão. Só que, ao invés dos tocos de eucalipto, achou que os caquinhos dentro daquele saquinho à parte eram mais fáceis de manipular e jogou tudo lá dentro, sem notar que era o nó de pinho. Alguns momentos depois, o fogo subiu muito, as tampas das bocas voaram e a roupa começou a queimar.

- Pronto, dona Ana Paula, foi só susto!

Ela totalmente catatônica, tanto por vergonha e outro tanto por ódio da enteada ("essa vai se ver comigo depois"), agradeceu, voltando ao banheiro para se vestir.

Na volta ao quartel, os heroicos bombeiros estavam felizes do dever cumprido. 

- Gente! Viram quem era? Ana Paula que nada! Era a Natasha! 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

N. N: O trecho apresentado é da música "Pra te fazer lembrar" do cantor Lucas Lucco ("de quem?" -perguntou o Quati).

Nenhum comentário:

Postar um comentário