sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Falando de Ostras

Gosto de ler em determinadas situações: na espera do aeroporto e durante o voo; no horário que a secretária aqui de casa me expulsa para o quarto, afim de arrumar a sala; nos dias de chuva e frio. Com a chegada do outono (aqui o verão é curto e o inverno muito longo), com ipês amarelos substituindo as cerejeiras, ler tornou-se uma constante, quando não é possível andar de bicicleta. 

Descobri os escritos de Rubem Alves meio tarde... talvez mandasse cartas para ele falando alguma coisa sobre suas ideias, pois o sujeito era sensacional. Do primeiro livro que eu li, Pimentas, já escrevi um texto e não poderia ser diferente com “Ostra Feliz Não Faz Pérola”, que iniciei no final do ano e estou quase terminando de ler. Na sua descrição, ele diz que é “um álbum de fotografias, onde cada fotografia vale por si mesma... qualquer página é um começo e um fim”.

No final das contas, são ideias que ele colecionou ou “fotografou com palavras”. Pequenos textos, onde o leitor escolhe por onde começar e terminar, sem a obrigação do “começo, meio e fim”. Existe um texto, do próprio Rubem, onde ele conta a história da ostra triste (procure no Google), mas o livro veio dessas coleções que ele fez. 

Se pensarmos no assunto, principalmente os blogueiros, somos todos ostras! Parafraseando, escrever pode vir de uma dor, que não seja doída (mesmo que seja), e/ou da curiosidade. Dessa forma produzimos nossas pérolas, como essas do livro. 

Isso foi provado, também, num outro livro, dessa vez de Moacir Lopes - A Ostra e o Vento - onde a menina Marcela, que morava numa ilha (ilhas são parecidas com ostras – estive numa delas e tenho ideia do que isso seja), criou sua própria pérola (um amigo imaginário). 

Acho que vou fazer um caderninho, daqueles que preenchemos as páginas com palavras escritas a lápis, e juntar algumas ideias... pode ser que isso vire um post em dado momento, ainda não sei. 

“A ostra, para fazer uma pérola, precisa ter dentro de si um grão de areia que a faca sofrer. Sofrendo a ostra diz para si mesmo: - Preciso envolver essa areia pontuda que me machuca com uma esfera lisa que lhe tire as pontas… Ostras felizes não fazem pérolas… Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor, Não é preciso que seja uma dor doída…Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o nome de curiosidade. Este livro está cheio de areias pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi" (Rubem Alves) 

 

Boa Noite! Eu sou o Narrador.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Mosquitos do Verão

Trabalhar num pronto-socorro requer habilidade, conhecimento e também um tanto de experiência. Algumas coisas não estão nos livros, não são evidências científicas e só aqueles que labutam nesses locais é que sabem o que acontece. 

Ainda acadêmico, aquele jovem médico que trabalhou no Réveillon 2012/2013, fez seu primeiro plantão num PS municipal, de uma cidade litorânea, exatamente no dia primeiro de janeiro de um ano qualquer. Como pouco sabia, procurou alguma informação com um colega mais velho que logo deu as dicas: 

- De manhã não acontece nada porque os queimados pelos fogos, os alcoolizados e os com os pés cortados já chegaram de madrugada; o restante do povo tá dormindo. De tarde recomeça, mas com as quedas, principalmente da laje. 

O jovem aluno não entendeu grandes coisas ("como assim, queda da laje?"). Só que não tardou muito para o entendimento, já que o primeiro traumatismo de cabeça que ele atendeu foi de uma criança que estava numa laje com um tio que "tomara todas" e que resolveu soltar pipa. Caíram os dois. Para a sorte da criança, o tio amorteceu sua queda, mas ele foi parar na neurocirurgia. Na sequência de pacientes veio insolação, queimaduras solares diversas, mais alguns alcoolizados, mas, de repente, surgiu uma moça com o as pálpebras inchadas e rosto meio desfigurado, sugerindo até algum tipo de agressão. 

- Como é o seu nome? - perguntou o acadêmico. 
- Ana Paula – respondeu a moça, algo rouca. 
- O que foi que aconteceu? 
- Foi assim doutor... 

Ela contou que alugara uma casa na praia e que ficara maravilhada com o lugar. Apesar do calor, havia uma boa brisa, a casa possuía ventilador de teto e era muito aconchegante. Como o local era tranquilo, ela deixava as portas e janelas abertas o tempo todo, inclusive à noite. Só que ela não foi avisada que, lá pelas dezessete horas (e até às vinte horas, mais ou menos), era conveniente fechar tudo, pois chovia, surgiam as poças de água e os mosquitos apareciam, atacando de forma implacável. 

- Mas a senhora não usou nada para espantar os mosquitos? Não tinha um espiral, um espanta mosquito elétrico ou, então, um repelente de passar no corpo?
- Doutor! Claro que sim! Mas esses mosquitos eram diferentes de tudo que eu já tinha visto na vida. Como nada resolvia, achei uma garrafa de tequila e mandei pra dentro.
- Mas a senhora não me aparece alcoolizada, só está com uma reação alérgica. 
- Pois é, doutor. Com a tequila no meu sangue, os bichos enlouqueceram de vez. Alguns aproveitaram o ventilador de teto para voar como se fosse numa asa delta; alguns ficaram reunidos em volta do espiral como se fumassem narguilé. Em dado momento, resolvi abordar um casal de mosquitos, em total situação libidinosa, que estava em cima daquele lance de pastilha que a gente coloca na tomada. Eles até foram legais, pediram desculpas, mas é que pensaram que ali fosse a sauna. A coisa ficou tão esquisita que eles saíram de lá, tomaram banho e usaram o repelente de corpo como desodorante em aerossol. Depois foram até a raquete elétrica para deixar os cabelos em pé. 

Achando que tudo aquilo era uma pegadinha dos seus colegas mais velhos, passou o caso para um médico mais antigo e achou melhor procurar a sala de sutura, onde a coisa deveria ser mais amena. Devidamente medicada, algum tempo depois, Ana Paula acordou na maca do PS e, ao abrir os olhos (finalmente desinchados) deu de cara com um mosquito em cima do seu nariz que reclamou: 

- Acorda logo, Natasha! Volta pra casa que eu perdi a festa! Hoje vê se toma absinto!



- Natasha é o caralho! Meu nome é Ana Paula! 

Nesse momento ela levantou, arrancou o soro, pegou a maca como se fosse um pedaço de madeira e saiu dando “macada” em tudo que é canto, na tentativa, desesperada, de “detonar” o mosquito safado. Contida por vinte e cinco seguranças, foi sedada e internada na ala psiquiátrica do hospital, até que foi resgatada pela amiga gostosa de sempre. 

- Porra, Ana Paula! Dessa vez você superou todas as outras! Que foda! Vê se toma jeito e, da próxima vez, consulta um site desses de previsão do tempo que até lá eles falam de mosquitos.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Você abre os olhos e sua vida começou!

No mundo ideal, você acorda num dia de verão, toma um café da manhã (já servido) onde encontra frutas, pães diversos, queijo, presunto, leite e essas coisas todas, levanta da mesa, pega a bicicleta, pedala durante uma hora, volta pra casa, toma um banho e vai trabalhar (tirar a mesa e lavar a louça são atividades que não fazem parte dessa simulação). No mundo real você acorda atrasado, já faz um puta calor (mesmo às sete horas da manhã), toma um banho correndo (que perderá a validade na próxima hora), engole um achocolatado de caixinha e torce para seu ônibus somente estar lotado. O mundo real, com certeza, é diferente das nossas expectativas e ideais, mas não é por isso que ele é menos divertido. 

A diversão existe em várias situações e ver (assistir) filmes na televisão é uma delas. Grande maioria são produções estrangeiras (dubladas ou legendadas), mas, há algum tempo, existe uma determinação que obriga as repetidoras de TV por assinatura a colocar filmes brasileiros em sua grade diária. Existem boas produções, mas acabam ficando em segundo plano por conta de preconceito ao seu conteúdo. Classicamente a filmografia nacional era repleta de violência ou cenas impróprias para menores o que afastou boa parte do público (inclusive eu). De uns tempos para cá a coisa mudou e encontramos pérolas por aí. Uma dessas eu vi (assisti) no Canal Brasil, no domingo e na segunda-feira (tive que ver de novo, pois perdi uns ganchos para melhor entendimento), e que se chama “Insônia”

Baseado em obra homônima de Marcelo Carneiro da Cunha, teve sua conclusão em 2008, mas só foi lançado em fevereiro de 2014 por diversos motivos operacionais. Nos cinemas teve passagem discreta e em circuitos alternativos. A crítica foi péssima e, talvez, por isso, foi parar no Canal Brasil tão cedo. 

Só que eu gostei! Tirando o problema crônico do péssimo áudio (comum em filmes brasileiros) que me obrigou a ver de novo (e mesmo assim não consegui ouvir alguns trechos de diálogos), a narrativa é agradável, não enrola nos temas, tem um visual bonito, recheado de animações e efeitos visuais, e trilha sonora muito agradável. Dentre outras coisas, fala das expectativas, da relação familiar do pai viúvo com a filha e foi uma boa diversão para o final de semana.


Bom Dia! Eu sou o Narrador.

domingo, 11 de janeiro de 2015

E Ela É Uma Sonhadora!

Quem frequenta redes sociais conhece muito bem aqueles pedidos para jogos, curtidas de fotos, correntes, notícias falsas (desmascaradas pelo e-Farsas) e outras coisas que, efetivamente, poluem a linha do tempo. Só que existem coisas legais nas redes e uma delas, conheci ontem através de Alice (que sempre manda coisas boas). 

Ninguém melhor que um escritor para saber o que é um sonhador. Sonhador é aquele sujeito que sonha (aaaahhhhhh), mas a definição vai muito mais além: ele sonha, conta para todo mundo (através de seus escritos ou outras formas de arte) e o que ele mais quer é ver seu sonho realizado. 

Com o processo de extinção das fadas (cada vez que alguém fala que não acredita, morre uma e, aí, imagina a situação, não é mesmo) a coisa ficou mais difícil, mas não tão impossível assim. Diz a lenda que “elas podem ser encontradas sempre que lemos um livro e pensamos sobre elas, cada vez que nós criamos algo novo ou diferente do que já existe, como um desenho, um brinquedo, uma história... pois as fadas nos ajudam a perceber o melhor em cada coisa na vida. Elas nos ajudam a ver o mundo e a retirar o melhor dele.” (essa explicação eu li aqui e achei o máximo) 

Pensando nisso tudo, encontramos a página da Beatriz Peres no Facebook (clique aqui para conferir), uma menina de onze anos que escreveu um livro, quando pequena, e agora parte para a divulgação (Ah! Olha as fadas aparecendo!). O que eu achei interessante é que, entre outros, ela tem o sonho de chegar a 5000 curtidores da sua página. 

- Como assim? É só isso? - perguntaria um incrédulo 
- Só não, cara pálida! Pensa que é moleza! Aqui no “Coisas do Narrador” eu tenho 14 leitores fixos (que sempre agradeço) e nem por isso paro de escrever! 

Bom... já que conheço bem a dificuldade para divulgação de qualquer trabalho, coloquei o “mãos a obra” e comecei a distribuir convites para a página da menina, sem me importar se viraria um “chato” ou outra coisa qualquer que o horário não permite escrever. Aos poucos, e mesmo de madrugada, os amigos corresponderam às expectativas (fiquei impressionado com a quantidade de gente sofrendo de insônia). 

Confesso que ainda não li o livro, mas isso é a etapa seguinte. Ela mora em São Francisco do Sul, local que já falei no texto “Enseada” e que é muito legal. Lá na página de divulgação você pode ver como adquirir e detalhes do projeto da menina. Nada como uma boa dica para começar o domingo, não é mesmo? E 'bora bater palmas, salvar fadas e sonhar junto! 

 
Bom Dia! Eu sou o Narrador.

sábado, 3 de janeiro de 2015

Migrando no Final do Ano

Acostumado a trabalhar em qualquer época do ano, pouco importando se há relação com datas comemorativas ou feriados prolongados, já estou calejado com os preparativos para sobreviver aos dias de comércio fechado e desabastecimento local. Já falei algo a respeito há uns três anos, no texto "Férias", mas levei um susto, este ano, ao chegar em casa no dia útil subsequente ao feriado de ano novo, e resolvi estudar o fenômeno, com uma analogia ao movimento migratório dos pássaros. 

Além da falta de movimento na estrada, na entrada da cidade, via de fluxo intenso, não havia nenhum carro estacionado e, muito menos, pessoas andando na rua; no centro da cidade, a maioria das lojas estavam fechadas e, no decorrer do dia, nem a agência dos Correios ou o restaurante do hotel abriram. Havia um silêncio fabuloso, interrompido, às vezes, pelo “pi pi pi” irritante do posto de gasolina próximo (este abriu), quando alguém calibrava os pneus do carro. O dia chuvoso foi a pedida para um bom descanso depois do trabalho. 



Segundo a Wikipédia, com algumas observações minhas, entre parênteses, “as migrações são fenômenos voluntários e intencionais com caráter periódico com o objetivo de encontrar alimento e boas condições meteorológicas. Os fatores que desencadeiam as migrações são pouco conhecidos (no caso humano, elas são bem conhecidas – vide adiante). Em muitas aves observa-se o aumento das várias hormonas que iniciam o processo pré-migratório onde se pode observar a engorda (quem resiste à ceia natalina, não é mesmo?) e o crescimento das gônadas (talvez seja o equivalente ao “estou de saco cheio”). Essas alterações das concentrações hormonais podem ser induzidas por modificações externas como a variação do número de horas de dia (o horário de verão), a escassez de alimentos (supermercados vazios) ou das modificações climatéricas (um calor insuportável).”

Realmente, no caso dos humanos, o período mais interessante é o verão, logo após o Natal, onde, associado às férias escolares, criaram as férias coletivas, já que todo mundo gastou o dinheiro do décimo terceiro salário nas compras natalinas e o pouco que sobrou não dá para “alimentar” o comércio. O destino mais comum é a praia e o movimento de ida é algo diferente do movimento da volta, pois no primeiro os grupos são pequenos em relação ao segundo, onde todos se confraternizam e voltam praticamente ao mesmo tempo. Isso tudo é bem ilustrado pela charge de hoje, do Zé Dassilva, no Diário Catarinense.



Para efetivar a ação, a primeira providência é reunir a filharada, já que, da mesma forma que os pássaros, onde “sabe-se que as aves juvenis ainda não têm o sentido de orientação muito bom, pelo que não é muito raro observar indivíduos juvenis perdidos, enquanto que os indivíduos mais velhos, mesmo quando recolhidos e soltos em outros locais, conseguem orientar-se, mudar a rota e chegar ao sítio certo”, elas não irão sozinhas e levar as crianças durante a migração resolve um grande problema: nessa época elas ficam sem ter o que fazer e inventam de tudo para passar o tempo (incluindo subir em árvores, andar de skate no meio dos carros, dentre outras atividades lúdicas), levando seus pais à loucura dentro de casa. Uma vez reunida a família, surge a dificuldade de fazer todos os seus pertences entrarem nas malas dos carros populares atuais e até dos antigos, mas sempre presentes, fuscas e chevettes. Na chegada ao destino, vale a pena a identificação dos filhos com as diversas alternativas existentes, enquanto a implantação de chips subcutâneos de localização ainda não entrou no uso diário.


“Para as aves conseguirem finalizar as migrações necessitam, para além do sentido de orientação, de várias estratégias como voar apenas de noite aproveitando o dia para se alimentar, ou voar durante o dia para aproveitar as correntes térmicas diminuindo esforço físico ou, acumular reservas de gordura que permite percorrer grandes percursos sem paragens para se alimentar ou, ainda, como os passeriformes, percorrer pequenas distancias diárias, parando frequentemente para se alimentarem.” Nessa situação, descrita sobre as aves, também observamos equivalentes humanos, como viajar de noite (é mais fresco e, teoricamente, com menor trânsito), mas também existem os que viajam de dia, com várias paradas para fazer xixi, comer coxinha, comprar “chips” e outras guloseimas (isso costuma acalmar as crias durante os engarrafamentos nas estradas), já que as correntes térmicas não existem nas estradas (sem bem que pode haver um calor insuportável dentro dos carros, mesmo aqueles com ar condicionado que não funciona direito com o veículo parado). 

Quando, finalmente, os grupos chegam ao destino, só resta aproveitar a tranquilidade dos dias de folga na praia escolhida, lembrando que levar filtro solar e beber muita água é importante também (enquanto ela ainda existir, pois sua falta é comum nessa época do ano), assim como tomar uma boa dose de paciência antes da viagem de volta. 


Para aqueles que preferem migrar em outras épocas, eu sugiro que aproveitem: passar os dados da agenda velha para a nova, ler aquele livro encalhado, escrever alguma bobagem (como esta) no seu blog, são atividades interessantes, já que também é comum chover e caminhadas e pedaladas ficam mais difíceis. 

Boa Tarde! Feliz Ano Novo! Eu sou o Narrador.