quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

E você? Trabalhou no Réveillon?

- Gente! Ele morreu!!!! 

Durante o período de festas do final de ano, duas classes de pessoas são encontradas (e suas ramificações também): aquelas que viajam e retornam no “day after” e aquelas que trabalham exatamente na véspera de Natal ou Ano Novo. Algumas características são comuns, como não dormir a noite inteira, estar exausto no dia seguinte, não encontrar nenhum restaurante aberto para o almoço, não aproveitar a praia (se for o caso), além de algumas outras coisinhas individuais. De diferente, aquelas que viajam enfrentam o engarrafamento interminável das estradas, a dor de cabeça da ressaca, o mau humor de alguns companheiros/parentes de viagem, dentre outras coisas; os que trabalham só consideram tudo mais um dia, como qualquer outro. 

Nessa última classe estão os plantonistas, nossos “anjos da guarda” quando estamos no primeiro grupo. Eles que limpam as merdas que fazemos resolvem nossos problemas em caso de necessidade. 

Jamesvaldo, o James (a pronúncia é “djeimes”), residente de primeiro ano de um hospital geral, foi o sorteado para o trabalho da virada do ano. Chegou em casa, pela manhã, certo de que cumprira sua função (suturar vários pés cortados de mocinhas de vestidos brancos e curtos que tiraram seus saltos na praia, prescrever hidratação com glicose para aqueles que não dirigiam, mas bebiam sem parar, atender casos sem qualquer indicação de urgência e outros realmente urgentes, etc) tendo absoluta certeza que não ia colocar, nas redes sociais, nenhuma zoação sobre qualquer paciente, quer aqueles com nomes estranhos (ele entende bem desse problema), aqueles com histórias esdrúxulas e queixas absurdas que também procuram atendimento ou aqueles que, eventualmente, o médico tem vontade de rir (ter vontade é direito de todo mundo; contar isso já é falta de respeito, principalmente na Internet, como infelizmente observo por ai). 

Morava com mais quatro amigos, que ainda estavam na faculdade, e nenhum era acadêmico de Medicina, sendo que havia também um aluno de intercâmbio. 

- OMG! WTF! Call 911! 

Esses amigos foram festejar numa casa de festas próxima e emendaram na praia, de roupa e tudo, chegando em casa só lá pelas duas da tarde, do primeiro dia do ano, ainda acompanhados de desconhecidas sem nome que conheceram na balada. Foi uma dessas desconhecidas que deu o primeiro grito lá em cima. 

Ainda muito ligado devido ao plantão e já decidido a comer um risoto de pacote com algumas salsichas em lata (também chamadas de “vina” em algumas localidades mais ao sul do país), tomou um banho e resolveu “dar uma limpa” na papelada bagunçada do ano findo até a adrenalina baixar (isso só quem é médico sabe como é). Derrubou caixas de papelão, contas bancárias, folhetos sem uso e saiu rasgando tudo e empilhando. Confusão armada, ele mandou ver no risoto e tomou aquela cervejinha porque ninguém é de ferro. Consequentemente, a adrenalina baixou e ele resolveu deixar para arrumar a zona depois do cochilinho mais que merecido. 

- Vamos ligar para o SAMU! 

A pilha de caixas era enorme, assim como de papel picado. Arrumou um espaço na cama, deitou e dormiu. Só que, do lado de fora do quarto, dependendo do ângulo, a visão era de um sujeito “afogado” em papel somente com a mão visível na superfície do “mar” de celulose. 

- Melhor ligar para a polícia mesmo! 

A discussão na sala era enorme, pois nenhum dos colegas possuía discernimento, depois do grande período na esbórnia. A confusão era total: as desconhecidas gritaram, desmaiaram, deram vários pitis e isso tudo durou até o momento que a mão do James desapareceu, do monte de papel, e ouviu-se uma descarga de banheiro. Silêncio total, aparece nosso herói de cueca samba-canção e sem camisa, coçando o saco ajeitando a vestimenta e reclamando:

- Porra galera! Foda hein! Dá pra fazer silêncio? 

E você? Trabalhou no Réveillon?  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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