sábado, 3 de janeiro de 2015

Migrando no Final do Ano

Acostumado a trabalhar em qualquer época do ano, pouco importando se há relação com datas comemorativas ou feriados prolongados, já estou calejado com os preparativos para sobreviver aos dias de comércio fechado e desabastecimento local. Já falei algo a respeito há uns três anos, no texto "Férias", mas levei um susto, este ano, ao chegar em casa no dia útil subsequente ao feriado de ano novo, e resolvi estudar o fenômeno, com uma analogia ao movimento migratório dos pássaros. 

Além da falta de movimento na estrada, na entrada da cidade, via de fluxo intenso, não havia nenhum carro estacionado e, muito menos, pessoas andando na rua; no centro da cidade, a maioria das lojas estavam fechadas e, no decorrer do dia, nem a agência dos Correios ou o restaurante do hotel abriram. Havia um silêncio fabuloso, interrompido, às vezes, pelo “pi pi pi” irritante do posto de gasolina próximo (este abriu), quando alguém calibrava os pneus do carro. O dia chuvoso foi a pedida para um bom descanso depois do trabalho. 



Segundo a Wikipédia, com algumas observações minhas, entre parênteses, “as migrações são fenômenos voluntários e intencionais com caráter periódico com o objetivo de encontrar alimento e boas condições meteorológicas. Os fatores que desencadeiam as migrações são pouco conhecidos (no caso humano, elas são bem conhecidas – vide adiante). Em muitas aves observa-se o aumento das várias hormonas que iniciam o processo pré-migratório onde se pode observar a engorda (quem resiste à ceia natalina, não é mesmo?) e o crescimento das gônadas (talvez seja o equivalente ao “estou de saco cheio”). Essas alterações das concentrações hormonais podem ser induzidas por modificações externas como a variação do número de horas de dia (o horário de verão), a escassez de alimentos (supermercados vazios) ou das modificações climatéricas (um calor insuportável).”

Realmente, no caso dos humanos, o período mais interessante é o verão, logo após o Natal, onde, associado às férias escolares, criaram as férias coletivas, já que todo mundo gastou o dinheiro do décimo terceiro salário nas compras natalinas e o pouco que sobrou não dá para “alimentar” o comércio. O destino mais comum é a praia e o movimento de ida é algo diferente do movimento da volta, pois no primeiro os grupos são pequenos em relação ao segundo, onde todos se confraternizam e voltam praticamente ao mesmo tempo. Isso tudo é bem ilustrado pela charge de hoje, do Zé Dassilva, no Diário Catarinense.



Para efetivar a ação, a primeira providência é reunir a filharada, já que, da mesma forma que os pássaros, onde “sabe-se que as aves juvenis ainda não têm o sentido de orientação muito bom, pelo que não é muito raro observar indivíduos juvenis perdidos, enquanto que os indivíduos mais velhos, mesmo quando recolhidos e soltos em outros locais, conseguem orientar-se, mudar a rota e chegar ao sítio certo”, elas não irão sozinhas e levar as crianças durante a migração resolve um grande problema: nessa época elas ficam sem ter o que fazer e inventam de tudo para passar o tempo (incluindo subir em árvores, andar de skate no meio dos carros, dentre outras atividades lúdicas), levando seus pais à loucura dentro de casa. Uma vez reunida a família, surge a dificuldade de fazer todos os seus pertences entrarem nas malas dos carros populares atuais e até dos antigos, mas sempre presentes, fuscas e chevettes. Na chegada ao destino, vale a pena a identificação dos filhos com as diversas alternativas existentes, enquanto a implantação de chips subcutâneos de localização ainda não entrou no uso diário.


“Para as aves conseguirem finalizar as migrações necessitam, para além do sentido de orientação, de várias estratégias como voar apenas de noite aproveitando o dia para se alimentar, ou voar durante o dia para aproveitar as correntes térmicas diminuindo esforço físico ou, acumular reservas de gordura que permite percorrer grandes percursos sem paragens para se alimentar ou, ainda, como os passeriformes, percorrer pequenas distancias diárias, parando frequentemente para se alimentarem.” Nessa situação, descrita sobre as aves, também observamos equivalentes humanos, como viajar de noite (é mais fresco e, teoricamente, com menor trânsito), mas também existem os que viajam de dia, com várias paradas para fazer xixi, comer coxinha, comprar “chips” e outras guloseimas (isso costuma acalmar as crias durante os engarrafamentos nas estradas), já que as correntes térmicas não existem nas estradas (sem bem que pode haver um calor insuportável dentro dos carros, mesmo aqueles com ar condicionado que não funciona direito com o veículo parado). 

Quando, finalmente, os grupos chegam ao destino, só resta aproveitar a tranquilidade dos dias de folga na praia escolhida, lembrando que levar filtro solar e beber muita água é importante também (enquanto ela ainda existir, pois sua falta é comum nessa época do ano), assim como tomar uma boa dose de paciência antes da viagem de volta. 


Para aqueles que preferem migrar em outras épocas, eu sugiro que aproveitem: passar os dados da agenda velha para a nova, ler aquele livro encalhado, escrever alguma bobagem (como esta) no seu blog, são atividades interessantes, já que também é comum chover e caminhadas e pedaladas ficam mais difíceis. 

Boa Tarde! Feliz Ano Novo! Eu sou o Narrador.

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