terça-feira, 10 de junho de 2014

Enchente Pequena e Rápida?

Para quem morou no Rio de Janeiro e depois mudou para Petrópolis, conviver com a chuva não é nenhuma novidade. Em 1966, a cidade passou por vários dias de chuva sendo o desastre lembrado até hoje, inclusive eu lembro bem de algumas coisas que a minha mãe contou na época. Naquele tempo, desastres naturais eram muito mais imprevisíveis do que atualmente, mas ainda causam grande problemas. Na capital carioca, a coisa realmente era rápida e, até hoje, qualquer chuva mais forte transborda o Rio Maracanã, a Praça da Bandeira inunda, mas o sistema de drenagem melhorou e os transtornos são menores. Na região serrana, além dos rios "botarem pra fora", os morros desabam e, na falta de solução melhor, sirenes foram instaladas, para que as pessoas fujam das suas casas. 

O que chama atenção é que deveríamos aprender com a história: se um dia choveu e o morro “desceu”, por que as pessoas moram nesses locais? Se a solução é sair correndo quando toca a sirene, onde estão as rotas de fuga? 

No último final de semana, todos sabiam que ia chover forte no Planalto Norte de Santa Catarina. A previsão do tempo, atualmente, é ótima, e dá pra você afinar a programação. Quando chove muito, naturalmente os rios enchem, as casas próximas, que muitas vezes, são construídas abaixo do nível da rua, vão ser invadidas pelas águas (por que constroem casas abaixo do nível da rua isso eu já não sei) e, progressivamente, os acessos serão interrompidos. Disseram que a última vez que isso aconteceu, nessa região e de forma tão intensa, foi em 1983 e a diferença com as enchentes no Rio de Janeiro é que a coisa vai piorando progressivamente e dá até um tempo maior para que as pessoas fujam e que algumas providências sejam tomadas, para evitar um desastre maior. 

Agora vamos à realidade: já que o trabalho não para, vamos procurar informações e saber se a estrada permite a passagem. Ah! Hoje temos internet e tudo é mais fácil! Ledo engano! Ao pesquisar sobre a condição das estradas, encontrei muita dificuldade para saber onde ficava o quilômetro "x" da rodovia "y". Alguém consegue entender, com precisão, essas localizações? Por que não dão uma informação mais simples do tipo estrada "tal", entre cidade "a" e cidade "b", não passa nada porque o rio "assim", que fica perto do local "assado", ultrapassou a ponte? Como não tenho essa inteligência privilegiada, procurei nos sites daqueles encarregados pela nossa segurança nas estradas (incluindo Facebook e Twitter) e as informações eram confusas. Ai tentei telefonar, mas também não deu certo. Como conheço o caminho, esperei amanhecer, já que a chuva parara, e “toquei o bonde”, já tendo avisado que iria chegar atrasado. Fiz uma viagem sem incidentes, mas foram 30 horas de incertezas (será que consigo voltar para casa?). 

No meio do desastre, mas seguro, continuei meu trabalho normalmente, ouvindo muitas pérolas, como a total desinformação da rede de transferência de pacientes, que pedia vaga para internação sem ter a menor ideia como passariam pelo trechos interrompidos (se eles não sabiam como é que a gente iria saber?) e, em alguns casos, nós, que trabalhávamos algo isolados, é que informávamos (por conta da experiência pessoal). Na confusão, um sem número de boatos, totalmente infundados, surgiram, o que aumentou muito a natural preocupação das pessoas. 

O que funcionou? As rádios! Sim... lembra do velho rádio de pilha? Pois é! As rádios locais transmitiram, incessantemente, as notícias praticamente em tempo real. Fiquei com pena de vários alunos que vi na estrada, esperando os ônibus escolares que não chegariam, já que as aulas foram suspensas (bem lógico, né... nem que não fossem suspensas eu mandaria um filho para o colégio depois de tanta chuva... mas, enfim, cada um sabe da sua vida). Além do rádio, o boca a boca ajudou muito, mas isso dependia, também, de alguém ter se aventurado pelos caminhos eventualmente inundados. 

Conclui que, mais de trinta anos depois, ninguém teve interesse num plano bem estruturado de emergência numa situação dessas. Tempo não faltou (ou será que pensaram que nunca mais iria acontecer?), mas ninguém pegou uma pastinha velha com alguma coisa escrita, bem escondida numa gaveta, onde as alternativas, rotas de fuga e tudo o mais estaria datilografado numa antiga máquina de escrever Olivetti, talvez com algumas coisas impressas no Word e isso não aconteceu porque não existe. Será que agora quem de direito aprende? Existe a tecnologia, que tal usar? Os desastres naturais são inevitáveis, mas os transtornos podem ser minimizados. Falta interesse, para não dizer que falta inteligência. 

A foto, que vou deixar hoje, eu tirei na segunda-feira de manhã, no caminho para o trabalho, e ela representa somente a esperança, porque o sol sempre vai aparecer em algum momento, para iluminar as nossas vidas.  


Boa Noite! Eu sou o Narrador (já cheguei em casa).

Um comentário:

  1. O que constato ao ler e reler é esta sensação, tão boa, de viajar no tempo da fertilidade mágica que acompanha a linguagem do narrador (sarah)

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