terça-feira, 2 de agosto de 2016

Tempo Perdido

”Então me abraça forte 
E diz mais uma vez 
Que já estamos 
Distantes de tudo 
Temos nosso próprio tempo”

Conheci Brasília por volta de 1976, quando só havia um cinema que passava filmes em Super 8, num centro comercial chamado de Gilberto Salomão. A juventude da cidade era praticamente composta por filhos de funcionários públicos federais, diplomatas, militares e todas aquelas famílias que para lá foram transferidas do Rio de Janeiro, quando houve a mudança da capital federal. Definitivamente era um lugar que não tinha nada pra fazer e a turma inventava qualquer coisa para resolver a problemática. Alguns anos mais tarde, pensando no rock dos 1980, Brasília surge em todo o seu resplendor. 

No último final de semana, durante a vigília de oração com os jovens da Jornada Mundial da Juventude no “Campus Misericordiae“ da Cracóvia na Polônia, o Papa Francisco fez um discurso com um trecho que achei muito significativo e que vai a seguir, não sem antes comentar que estava muito frio por aqui e mesmo assim eu insisti e sai de bicicleta pela cidade, como já vinha fazendo há uma semana: 

“Na vida, porém, há outra paralisia ainda mais perigosa e difícil, muitas vezes, de identificar e que nos custa muito reconhecer. Gosto de a chamar a paralisia que brota quando se confunde a FELICIDADE com um SOFÁ! Sim, julgar que, para ser felizes, temos necessidade de um bom sofá. Um sofá que nos ajude a estar cômodos, tranquilos, bem seguros. Um sofá – como os que existem agora, modernos, incluindo massagens para dormir – que nos garanta horas de tranquilidade para mergulharmos no mundo dos videogames e passar horas diante do computador. Um sofá contra todo o tipo de dores e medos. Um sofá que nos faça estar fechados em casa, sem nos cansarmos nem nos preocuparmos. Provavelmente, o sofá-felicidade é a paralisia silenciosa que mais nos pode arruinar; porque pouco a pouco, sem nos darmos conta, encontramo-nos adormecidos, encontramo-nos pasmados e entontecidos enquanto outros – talvez os mais vivos, mas não os melhores – decidem o futuro por nós. Certamente, para muitos, é mais fácil e vantajoso ter jovens pasmados e entontecidos que confundem a felicidade com um sofá; […] não viemos ao mundo para “vegetar”, para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade.” 

O discurso tem várias outras passagens interessantíssimas e essa metáfora do sofá foi excelente. Se os adultos já tem a grande tendência ao distanciamento da vida, com o entorpecimento causado pelas luzes estroboscópicas das telinhas várias (celulares, tablets, televisões, dentre outros) o que dirá da garotada, encharcada de alimentos industrializados e babás eletrônicas? Nas empresas, o horário do cafezinho, onde conversávamos com os colegas, foi substituído pelo acesso aos smartphones; em outras situações nem a empresa existe fisicamente como no caso das “fintechs”; e agora vemos as marquises das lojas repletas de pessoas tentando acessar o sinal do wifi. 

A reflexão que tem que surgir é a tal da marca que não deixaremos na vida se nosso comportamento se limitar à mesmice e ao comodismo (ou você acha que foi fácil eu sair do sofá para andar de bicicleta num dia frio?). Imagina se toda essa tecnologia existisse no início dos anos 1980? Já pensou a falta que o Rock Brasília faria nas nossas vidas? Pense nisso, na próxima vez que for tomar um café.

   


Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Para ler o discurso completo do Papa Francisco clique aqui.

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