domingo, 1 de janeiro de 2012

Conto de Ano Novo

No primeiro dia do ano ela acordou com dor de cabeça, a boca seca e os olhos embaçados. Procurou o banheiro, lavou o rosto e notou que o comportadíssimo vestido azul marinho com botões coloridos na frente, que usara, fora substituído por uma camisa social meio surrada, fedendo a cigarro como todo o quarto do hotel barato de beira de estrada que ela se encontrava. 

“WTF?” Ela pensou.

Tirou a camisa e jogou no canto do banheiro; vestiu rapidamente suas roupas de festa e, antes que o sujeito asqueroso que roncava naquela cama lamentável acordasse, saiu pela porta na direção do carro (um Uno Mille que pegou emprestado) e picou a mula, enquanto aquelas imagens, associadas à ressaca do absinto, não causavam o esperado efeito emetizante. 

Quase três anos se passaram desde que ele declarou seu amor pela primeira vez. 
Era um desses caras que passeia de mãos dadas, diz que ama no MSN mesmo quando ela está “offline”, mexe no cabelo dela enquanto conta as coisas que fez durante o dia, enfim: para muitas, ele é tudo de bom. 

Só que ela sempre fugia. Fez cu  doce durante todo esse tempo. Sumia da vida dele para depois reaparecer com o “rabinho entre as pernas” pedindo desculpas e dizendo que estava com saudades, que o adorava e coisa e tal. 

Uns dois meses antes do Natal ele resolveu dar outra chance pra ela e voltaram a conversar. Claro que isso aconteceu porque ela deu em cima de novo e ele sempre gostou dela (digamos que ele era “trouxa”). 

A coisa até andou: ela comprou um presente e combinou de entregar pessoalmente. Ele arrumou a casa, preparou um lanche legal e ela não apareceu. 
Sem contar os detalhes mórbidos, ele detonou um e-mail onde a chamou de insensível e egocêntrica (realmente esses adjetivos eram corretos)!
Deletou do Facebook, MSN e ela respondeu pedindo desculpas, mas sem aparente sucesso. 

Como ela "se achava" e tinha absoluta certeza que ele "comia na mão dela", resolveu, então, fazer uma surpresa: na virada do ano apareceria na sua casa depois da meia noite, como no ano anterior, daria um abraço, entregaria o presente e tudo ficaria bem como sempre. 

Muito religiosa, participou dos festejos da sua crença, viu os fogos e, animadinha, foi até a casa dele. Tudo apagado, bateu e a janela da vizinha abriu: 
- Ih, minha filha! Ele já saiu faz tempo! E estava acompanhado pela fulana. Ela nem parecia ela porque agora ela não usa mais aparelho nos dentes, emagreceu, tirou os óculos e estava com um vestido lindo, mas muito indecente por sinal! Vocês estudaram juntas né? Feliz Ano Novo pra você!

Depois de alguns segundos com aquela “cara de paisagem”, ela deu meia volta, entrou no carro, foi até a praça onde rolava um show brega de fim de ano, veio o absinto, incorporou Natasha e o restante eu já contei. Pois é...  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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