quinta-feira, 10 de julho de 2014

Os Três Anões e o Mundo de Zofia

Enquanto o Planalto Norte ficava inundado/ilhado pelas chuvas e a Copa começava, impedindo que o resto do mundo soubesse da tragédia, já que a mídia só conta o que interessa, a chegada de um pacote de livros, encomendados pela Internet, informava que eu já não estava mais tão isolado como antes, pois chegou via SEDEX e conclui que alguns acessos já estavam liberados. Normalmente eu escolho livros numa livraria física, mas acabei escolhendo na livraria virtual, baseado nas sinopses e críticas. 

O primeiro que li, e terminei ontem, foi “O Estranho Mundo de Zofia e outras histórias” (Kelly Link, 1969; tradução: Cassius Medauar; Editora Leya – 2010), aproveitando que na televisão só havia a Copa e reprises de séries, o que criou grandes intervalos para a leitura. A crítica do livro era ótima, chegando a receber uma opinião do Neil Gaiman (Sandman, Stardust) que dizia: “Kelly vai inserindo uma palavra de cada vez em seu texto, transformando todas em mágica. É uma autora singular e deveria ser considerada um tesouro nacional”. 

O livro até é interessante, mas lembrou alguns comentários que eu recebi, no tempo que escrevia no “Conto de Fadas?”, quando me perguntavam o que eu bebia no que eu me inspirava para escrever, já que muitos textos ninguém entendia. Garanto que, apesar de algumas coisas irem para o blog após algumas festas, onde havia uma gelatina meio “malhada” (a tal da “gelapinga”), em boa parte eu somente escrevia o que dava na cabeça e o que eu tinha vontade, mas de uma forma muito hermética. A mesma impressão eu tive do livro de Kelly, mas eu acho que ela tomou mais gelatina do que eu. 

Aí lembrei de um conto do Klaus, que se chama "Os Três Anões", publicado no “Contos de Fada?” em 2009, e que reproduzo a seguir. As histórias de Kelly seguem uma linha semelhante, mas achei esse conto contemporâneo, já que o Brasil perdeu a Copa do Mundo num vexame sete vezes pior do que em 1950. 

“Era uma vez... 

Três anões: Triste, Muito Triste e Mais Triste Ainda, que viviam num condado, no sul de Depreção City, local tão deprimente que nem o nome da cidade era escrito de forma certa. 

Triste, o mais velho, deserdou de um grupo de outros sete anões, quando seus coirmãos não quiseram mais dividir a brancura de Neve. Muito Triste é filho de Triste com Neve e Mais Triste Ainda é um amigo imaginário de Muito Triste, tão triste que é, jamais teve amigos reais. 

Um dia eles cresceram e desenvolveram muitas habilidades mentais, dentre elas, a capacidade de transformar tristeza em força interior, enquanto o pai, um anão pouco desenvolvido, via, na tristeza, a vontade de morrer. 

Os filhos, sim, porque ele adotou o amigo imaginário de Muito Triste, por sua vez faziam da tristeza motivação: um exemplo foi quando ambos se apaixonaram pela mesma guria, Nevinha... sobrinha de Neve. 

Quando finalmente Muito Triste conseguiu marcar um encontro com Nevinha, Mais Triste Ainda ficou o elevado ao quadrado de seu nome, contudo, no fundo, pela primeira vez na vida, sentiu uma ponta de felicidade. 

Muito Triste, por sua vez, sentiu muita tristeza pelo irmão imaginário, mas pela primeira vez, sentiu a parte submersa do iceberg de felicidade, quando, então, resolveram se unir... 

E o que os livros contam até hoje é o seguinte: quando o excesso de tristeza se une ao excesso de tristeza, tem-se excesso demais para não reagir... 

E por isso q eu te digo meu caro: - existem histórias com finais mais deprimentes do que a sua! E essa foi uma delas..." 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N.: Klaus Pettinger é jornalista, escritor, fotógrafo (principalmente de raios e tempestades) e trabalha em alguma coisa que não me lembro, mas que não é em nada disso que já falei. Conheça seu blog “Klaustrofobias” em http://klaustrofobias.blogspot.com.br/

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