sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Conto do Papai Noel

No tempo do jardim de infância, onde a guerra escolar começava, uma das primeiras discussões filosóficas que eu tive foi com um coleguinha bem “metido” “chato” “complicado” que afirmava que Papai Noel não existia. Eu achava essa afirmação absurda, já que ele aparecia todo ano na porta do apartamento que eu morava, trazendo lá o presente que eu pedira. Depois de um certo tempo ele não apareceu mais, só que o presente estava lá, na volta da casa da minha avó, onde comemorávamos o Natal. 

Com o passar dos anos, passei a não ser mais um menino tão bonzinho assim e ele parou de frequentar a porta de casa, mas sempre deixava alguma coisa que não necessariamente era um brinquedo ou algum presente físico. Como sempre acreditei nele e já até discuti isso com o Quati e o Tob (os dois pelúcias que moram aqui) que afirmaram ser um absurdo não acreditar, resolvi contar uma historinha a respeito, para quem tem alguma dúvida. 

Com o calor que anda fazendo, a despeito da ameaça dos vírus transmitidos pelos mosquitos de verão, há duas noites que o sujeito dormia com a janela aberta contemplando a lua cheia e aproveitando do frescor da brisa noturna. Em dado momento, naquela hora já conhecida que não sabemos se estamos dormindo ou acordados, um barulho de sinos preenchia o silêncio da noite. 

- Ho Ho … cof cof cof 
- Caralho, que porra é essa! Hein? Como? Quem está aí? 
- Sou eu né! Não reconhece pela roupa? 
- Olha só: das duas últimas vezes que você apareceu, numa você vestia uma capa de chuva e estava em “estado de greve”; na outra você parecia um entregador e veio de caminhão. Quer uma água? Parece adoentado. 
- Levei um jato de inseticida na cara, desses que ficam programados para cada meia hora. Aceito a água sim, obrigado. 

Enquanto descansava, o bom velhinho contava das suas desventuras. Reclamou da dificuldade nos presentes: 

- Porra, é foda! É muito difícil: a menina pede uma boneca, eu providencio e lá vem algum ativista dizer alguma merda besteira por conta desse brinquedo. Caralho! Foi o que ELA PEDIU! Aí outra pede uma bola e alguém diz que isso é presente pra menino. Se for um menino pedindo uma bicicleta rosa aí é que a coisa fica mais complicada ainda porque vai dar briga de qualquer jeito. Ainda bem que isso vai mudar,  mas ainda vai levar um bom tempo. 

O sujeito foi buscar umas bolachinhas (também chamadas de biscoitos) e um copo de leite. 

- Obrigado! Já deixaram achocolatado pra mim e um pacote de salgadinhos Aí vem a turma dizer que sou mau exemplo porque sou gordo. Tenta comer essas coisas direto pra ver o que acontece. 

Papai Noel gostou dos biscoitos e ainda perguntou se tinha uma rabanada, no que foi servido. De boca cheia, mas já recuperado, começou as despedidas, não sem antes mandar outra raquetada. 

- E ainda tem aquela turma que me sacaneia direto falando que eu não existo porque se existisse tinha que ser mulher, e ainda falam que “[...] dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias?” Ah! Meu amigo! Vai te fuder Vai carpir um lote, né? Depois quando não tiver nada na árvore não vai reclamar. 

Abismado com o que ouvia, mas muito agradecido pela visita, ajudou-o a subir no trenó que partiu na direção da lua. Pela manhã, o sujeito foi contar a novidade e ninguém acreditou, lógico. Todos muito preocupados com seus umbigos, também chamados de smartphones, que nem levantaram os olhos para notar que as rosas amarelas do jardim mudaram de cor para branco e vermelho. Pois é... 

 
Bom Dia e Feliz Natal! Eu sou o Narrador.

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