sábado, 17 de agosto de 2013

E se... uma parábola sobre o livre arbítrio.

Todos os dias encaramos situações, onde nossas decisões podem mudar nosso destino e, eventualmente, ficamos na dúvida se agimos certo ou não. Um pensamento costuma ser presente: “E se...?” Só que, nesse ponto, já não adianta mais: o que foi feito está feito e não tem volta (e mais uma série imensa de frases de efeito, nessa mesma linha, incluindo a exclamação: “Deu merda!”).

E se você está lendo este texto, isso significa que morri! Esquisito né? Mas e se isso fosse possível (morrer e escrever um texto depois, sem utilizar alguém com poderes mediúnicos)? Como não é possível (até onde se sabe), vou contar essa história na terceira pessoa mesmo...

Como de hábito, ele chegou ao aeroporto quase duas horas antes do embarque. Os totens de autoatendimento, para o check in, estavam inoperantes, o tempo estava nublado e alguma coisa no ar parecia cheirar mal. Resignado, foi para a fila achando que ia demorar um século (que bom que chegou cedo!), mas foi rapidamente atendido pela simpática Nat que soltou a seguinte pérola: 

- Quer embarcar mais cedo? Tem dois voos antes do seu com lugares vagos! 

Ele quase não acreditou na oferta, pensou dois segundos e escolheu o adiantamento. Voo no horário, avião vazio, também trocou o assento do "21-D" (corredor) para o último, lá na cauda do avião ("janelinha" sem ninguém do lado). “Que sorte” - pensou. O que ele não sabia é que a "sorte" era uma “pegadinha” do destino. Enquanto fotografava a paisagem fantástica da Baía de Guanabara, subitamente o mar ficou revolto e de lá saiu o Godzilla que agarrou o avião partiu-o ao meio (exatamente na fileira 21), jogou a parte da frente na baía e a cauda caiu na pista do aeroporto. Refeito do susto, meio pendurado na sua cadeira, saiu do avião e logo viu alguém orientando os passageiros. No que pensou: - E se eu não tivesse adiantado o voo? E se eu ficasse na fileira 21? Quando, então, descobriu que estava morto e que a tal pessoa era um anjo guiando os demais na direção da luz (aquelas coisas que todo mundo já ouviu falar, mas pouca gente tem vontade de saber direito como é). 

- Com licença, “seu” anjo! Tem alguma coisa errada aqui. 
- Acho que não! Seu nome está na lista de passageiros. 
- Mas esse voo não era o meu! A mocinha me enganou! 
- Ah! A Nat! Bonita né? Impossível resistir! É "anjo da morte estagiária", mas já vi que logo receberá seu manto preto e o cajado. Conseguiu juntar vários passageiros. 
- Mas pera lá! Isso foi propaganda enganosa! Vou reclamar com o ...
- Claro que não! - o anjo interrompeu - Você teve a opção de manter seu voo. Adiantou porque quis. Isso é chamado de livre arbítrio, ou você nunca ouviu falar disso? 
- Ah! Mas eu mudei meu assento. Lá atrás as outras cadeiras vazias amorteceram a queda. Mereço um ponto por isso! 

Essa discussão ainda durou mais alguns minutos, mas não teve jeito: o anjo foi implacável. Mas “e se” ele não embarcasse mais cedo? Será que, mesmo assim, o Godzilla apareceria justo no voo dele? E se...

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

N.N: A música "E se" é de autoria do Chico Buarque de Holanda e interpretada por Francis Hime.

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