domingo, 1 de setembro de 2013

Sonho de Domingo

Hoje em dia, quando a meteorologia avisa que vai chover, é melhor seguir os conselhos da sua mãe e levar casaco, capa e guarda-chuva, mesmo que o amanhecer seja com sol. 

Naquele dia, a coisa não foi bem assim: a neblina misturada à fumaça das chaminés, dava um ar bucólico ao domingo frio de final de inverno (se é que o inverno acaba por aqui). Mesmo assim ele aproveitou uma réstia de sol e deu uma volta de bicicleta, não sem antes limpá-la um pouco e encher os pneus, já que estava parada há algum tempo. Os demais acordaram acordaram tarde e o café limitou-se a um café mesmo, sem bolachinhas ou chocolate, porque já era quase hora do almoço. 

Caras de sono circularam pela casa, assim como roupões pesados e pantufas, mas domingos não foram feitos para dormir, mesmo esse que, particularmente, tinha tudo de bom para continuar na cama. Após o almoço, cada um partiu para um canto: Ana foi procurar um feitiço perdido no tempo; Adrielle foi olhar a neblina e pegou algumas nuvens para futuras referências, caso necessitasse, enquanto o Guri foi olhar a chuva que fez o dia anoitecer bem no meio da tarde... 

- Ué? De onde veio este lago? E que casa é aquela lá? 

Todos correram para ver a novidade: um antigo lago, que fora aterrado, com a chuva tomou vida e trouxe junto peixinhos coloridos que pulavam pra todo lado, vitórias-régias que serviam de pouso para algumas rãs e até um velho celacanto deu o ar da sua graça, surpreendendo inclusive o Dragão! 

O que mais os intrigou foi a casa: encravada na vegetação de tal forma, que o limite entre seu final e as árvores era francamente impreciso, da distância que estavam. Já semidestruída, dava para ver duas janelas e talvez a porta fosse nos fundos. O Mago esteve lá uma vez e contou que era habitada por um homem comum, de bom caráter, correto nas suas coisas, que diziam ser um sonhador, mas alguns achavam que era doido varrido e, claro, tinham muita inveja dele. Era um sujeito que procurava sempre a continuação de alguma coisa e pouco parava em qualquer lugar; talvez tivesse um objetivo que nem ele sabia bem qual era. Ao certo, por muitas vezes, sofreu em silêncio, pois era discreto; em outras ocasiões, foi muito feliz e hoje fica sossegado em algum lugar incerto do mundo. 

Interrompendo a narrativa, eis que as águas se elevam, como um chafariz, e no centro daquilo que parecia ter vida, uma canção ecoou vinda de um ser brilhante que apareceu do nada. 

- Fênix! - gritaram em uníssono (nesse uníssono todos participaram) 

- Da mesma forma que o lago renasceu, trouxe uma história para vocês que eu chamei de "Renascimento"... 

"Transformo-me pelo vento, 
Pela solidão que me consome. 
Quando sinto que não posso mais voar, procuro a realidade. 
Meu nascimento vem das cinzas, das tristezas dos amores não amados. 

Sou um livro aberto da história; 
Conheço cada ponto do horizonte; 
É mais do que qualquer um possa imaginar; 
As pétalas dizem que esperança está em qualquer lugar. 

O homem é um ser complexo: 
Tão delicado, mas ao mesmo tempo tão explosivo. 
Aprendemos, com os magos, a magia da vida; 
Aprendi [...] a tentar ser quem eu realmente sou... 

Sou aquela que nunca deixará de existir 
E que ao mesmo tempo sempre estará em busca de um reino,
Onde a paz é completa... 

Estou em todos os lugares onde você precisar de mim.... Sou a Fênix dos seus sonhos..." 

- Acordem crianças! Já é quase hora do almoço! 

E num lugar distante e num futuro incerto, Adrielle e o Menino encontraram com o tal sujeito, numa outra casa, de varanda, fumando uma guimba, barba por fazer, camisa aberta, bermuda e chinelo. 

- Sabia que um dia vocês me encontrariam. Acreditar que os sonhos viram realidade faz parte. Sejam bem vindos!

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.  

N.N: Parte dessa história foi publicada originalmente no “Contos de Fada?” em 24/04/2010 e o belo poema de Fênix ("Renascimento") é de autoria de Francyne (Nini) Félix, com permissão. A foto foi tirada na Baia da Babitonga.

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