domingo, 17 de abril de 2016

Releituras

Foi lá na adolescência que eu descobri o poder de fazer algumas coisas sozinho. Por conta de alguma trapalhada típica da idade, comecei a frequentar as salas de cinema desacompanhado e daí para outros espetáculos de lazer foi um pulo. Com o passar dos anos a coisa foi “piorando”, corri o risco de receber a crítica de ser onipotente e individualista, mas essa liberdade tem lá seus méritos e hoje, se for algo de lazer que me agrade, vou sozinho em qualquer situação, apesar de não enjeitar companhia. 

Ainda lá na adolescência, certamente antes de ir ao cinema sozinho, fui apresentado a exemplos de individualismo, vindos da ficção, sendo o Batman e o Superman os maiores ícones. Ambos órfãos, poderosos, encontraram no heroísmo e no combate ao crime, a solução para a solidão. Bom... mais ou menos... o Batman tinha aquele lance lá com o Robin, sendo o Alfred o grande acobertador da situação; o Superman pegava a Lois Lane de vez em quando, era uma coisa mal contada, ai ele deu uma sumida, ela casou com outro e teve um filho que tinha superpoderes (donde se conclui que seu marido recebera um super-chifre enquanto ela recebia uma super... deixa pra lá). 

Outro dia eu comentei da Coleção Vaga-Lume e tive a oportunidade de ver o filme “O Escaravelho do Diabo”, baseado no livro do mesmo nome. Nessa releitura para a telona houve uma adaptação contemporânea, incluindo telefones celulares e computadores, além de temas como bullying e déficit de atenção, que não comprometeu o conteúdo. O filme é ótimo, mas ficará pouco tempo em cartaz por conta do público que não tem ideia da importância da literatura infantojuvenil ali representada; na sessão que fui eu era o único espectador (onipotência e individualismo no nível “hard”). Claro que isso também tem outras causas além da falta de cultura : maior que ela ainda existe a falta de dinheiro mesmo, fruto da situação atual do país (quem vai sozinho ao cinema gasta menos). 

Voltando aos heróis, resolveram fazer um filme complicado, onde o Batman está velho e carcomido (não menos poderoso) e que resolve brigar com o jovem Superman. Seguindo a tendência de ignorar os fatos históricos e criar ódio entre os iguais, a história muda tudo o que se sabia a respeito da Liga da Justiça e até inventaram uma Mulher Maravilha “modelo Victoria's Secret” que é lindíssima, mas de fortona e gostosona não tem nada (Ah! Bons tempos da Lynda Carter!). Pra quem chegou agora, aquela turma da Geração Y, Z ou lá o que seja isso, talvez não faça a menor diferença. Fica a crítica por conta da minha turma que via essas séries na televisão como coisas inocentes e engraçadas, assim como nos quadrinhos em preto e branco. 

História... cultura... educação... quando teremos isso de volta? O alfabeto acabou, mas os jovens estão por aí. Vamos torcer para um país melhor, com coesão, sem egocentrismos, onde os representantes eleitos pensem mais no futuro da nação do que nos seus interesses pessoais. Deixemos, por fim, o “circo” para os personagens fictícios que alegram nossos momentos, solitários ou não, de lazer. Para finalizar, uma frase perfeita (como sempre) da amiga Andréa Pachá: “Será que depois desse triste espetáculo, seremos capazes de votar melhor e exigir a reforma política?” 

 
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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