sexta-feira, 19 de junho de 2015

Resistir é inútil?

Existem coisas irresistíveis, principalmente no inverno: sair tarde da cama, um bom vinho, chocolate, aquelas roupas bonitas que a gente não usa no verão e, também, assistir muita coisa na televisão. O inverno também apresenta paisagens únicas, como a geada (eventualmente a neve) e o arco-íris que apareceu outro dia de manhã. 

“Resistir é inútil” é uma frase que ficou famosa nas sequências de Star Trek e era característica dos Borgs, seres alienígenas que assimilavam e destruíam as espécies que encontravam pela frente (os Vogons também falaram isso quando, inadvertidamente, destruíram o planeta Terra, mas quem quiser saber mais deve procurar no Google). O que nem os Borgs e nem os Vogons esperavam era a qualidade humana de resistir e sempre superar dificuldades; e eles nunca tiveram sucesso na conquista do nosso planeta (pelo menos nas séries televisivas). 

Outro dia, apresentando uma tirinha de quadrinhos que comparava as oportunidades que um rapaz rico teria em relação à uma moça pobre, eu li uma frase que me incomodou, pois falava "que ainda existem pessoas que acham que os menos favorecidos tem chances de conseguir crescer na vida". Por conta disso, resolvi contar uma historinha. 

Era uma vez uma menina que guardava carros. Vamos simplificar e chamá-la de “flanelinha” que é como as pessoas chamam os guardadores lá no Rio de Janeiro para receber algum trocado pelo serviço informal. Muito simpática e prestativa, entrou para o rol de pessoas ilustres e lendárias lá do Parque Municipal de Petrópolis, que fica em Itaipava, um desses lugares irresistíveis e de boas lembranças para seus frequentadores. Além da simpatia, que provavelmente herdou da sua mãe que também trabalhava no Parque, vendendo água de coco (ela ainda está por lá), sempre estava com um livro na mão que pegava na biblioteca do Parque (acho que ela leu todos os livros de lá) e conversava a respeito da sua leitura com quem quisesse ouvir. 

Um belo dia, ela estava triste e um sujeito, que deixava o carro aos seus cuidados e com quem conversava bastante, perguntou qual era o problema e ela falou: 

- Passei no Vestibular! - mas antes de receber os parabéns, ela continuou – Só que eu não tenho dinheiro para pagar a faculdade. 

O grande feito foi para uma das melhores e concorridas faculdades de Direito do Brasil. O sujeito achou que tal oportunidade não deveria ser desperdiçada e se propôs a “dar uma força”: patrocinou a matrícula, conversou com alguns amigos que se propuseram a ajudar também e foi com ela conhecer a instituição, quando ela deu entrada num pedido de bolsa de estudos. Quando ele olhou o formulário viu que era algo muito burocrático e que dificilmente ela conseguiria a bolsa. Mais tarde, em casa, ele teve a ideia de mandar um e-mail para o reitor da universidade, contando a história toda e pedindo que ele avaliasse o pedido de forma personalizada, principalmente considerando que, apesar de aluna de escola pública, ela conseguira nota muito maior do que vários outros candidatos que vinham da rede privada. A atitude deu certo e ela conseguiu bolsa integral durante todo o curso. Após a formatura, muito comemorada, ela passou a exercer a atividade e a última notícia que eu tive é que ela estava na Europa, de férias. 

“Ah! Ela teve sorte” - diriam alguns invejosos. Só que ela não teve sorte não: ela mereceu, ela estudou, ela leu todos os livros da biblioteca pública, ela trabalhou muito durante e depois da faculdade; ela “correu atrás” e resistiu aos problemas e os superou. Ela é exemplo, assim como tantos outros que vemos por aí. O que sinceramente espero é que se um dia os Borgs vierem assimilar nosso planeta que eles encontrem vários seres humanos como a menina flanelinha e, dessa forma e como nos filmes, nossa humanidade será preservada. Resistir não é inútil.  



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Um comentário:

  1. Tudo de bom a história da "flanelinha" guerreira, que eu conhecia e acho que precisa mesmo ser divulgada, porque é real, verdadeira e mostra que é possível sonhar, realizar e resistir! Concordo inteiramente com a "moral" da história!!! Claro que circunstâncias têm peso! Mas o livre arbítrio existe, a força de vontade existe e a fibra e a "querência" sensibilizam as outras pessoas e criam uma espécie de "corrente do bem" que atrai a "boa sorte" para o sujeito que luta. É isso aí: chega de ter pena das vítimas, vamos valorizar os guerreiros e estender a mão para todos aqueles que querem sobrepujar as circunstâncias! Chega de determinismo simplório e derrotista! São os que acreditam no poder do ser humano de se reinventar que mudarão as circunstâncias para a maioria dos desfavorecidos que precisam e merecem um mundo melhor!

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