domingo, 30 de março de 2014

Domingo de Chuva

O outono, lentamente, começa a marcar a baixa temporada nas cidades praianas e o movimento de hotéis e pousadas também fica bem preguiçoso. Aproveitando que a previsão era de chuva para o domingo, o pai da Mônica resolveu dar uma folga para os funcionários e fechou parte de seu estabelecimento, após o check out de alguns poucos hóspedes, logo pela manhã. Para não decepcionar alguns eventuais e raros visitantes, somente a cafeteria permaneceria aberta e ele mesmo serviria os fregueses. Alcione se ofereceu para ajudar e isso lhe deu a ideia de pegar Yasmin para passar o dia por lá. Um pouco relutante, Mônica acabou achando a novidade interessante: acordou cedo e, após a amamentação, arrumou a menina, agora quase com um ano, encheu uma mochila com os víveres habituais de um bebê e, quando seu pai chegou, ela já estava prontinha para o dia com o avô. 

Morar longe demais das capitais (como dizia o Gessinger), numa cidade ingênua e tão pequena, onde os jornais não chegam, a parabólica é seletiva e a opção é acompanhar as notícias pela Internet mesmo (aproveitando que ainda não censuraram), algumas coisas chamaram a atenção, passando direto pelas tradicionais notícias de violência. Além dos insetos no chá de camomila (que foi abolido do cardápio da pousada), uma briga judicial na Itália, onde os avós são acusados de intromissão na vida dos netos a levou à uma reflexão: será que ela estaria prejudicando a relação de Yasmin com os avós? 

Voltou para a cama, onde Leo ainda dormia. Assim ficaram abraçados mais um tempo, porque essas ocasiões eram raras (quem tem filho pequeno sabe do que se trata). Quando acordaram de vez, a chuva fina dava alguma vida às árvores do lado de fora, enquanto ainda haviam folhas que aguardavam a dormência “outono-invernal”. O dia passou preguiçoso: viram filmes, conversaram, namoraram e, no final da tarde, lá veio o avô com Yasmin. 

- Então? Ela deu muito trabalho? 
- Nada, Dona Mônica. - disse Alcione – ela foi o sucesso lá da cafeteria. 

O avô, todo orgulhoso, contou que deu uma arrumada por lá, para que a menina tivesse diversão. Montou um cantinho com brinquedos, coisas coloridas, umas sucatas do tipo “chocalho de garrafinha pet com arroz dentro” e isso atraiu alguns outros avós que levaram netinhos para brincar também, já que a notícia, dessa novidade, andou pelas redes sociais em velocidade de “dobra”. Crianças felizes, avós mais ainda, todos se divertiram e ninguém reclamou de nada. 

Mônica abraçou o pai. Lembrou dos anos de alienação parental, pensou no que perdeu, mas agora iria recuperando aos poucos. Ela também estava feliz e até muito emocionada. 

Enquanto Leo dava banho em Yasmin, ela foi até o computador e escreveu um comentário na tal reportagem: 

“O que eu acho é que os avós fazem parte. Claro que eles se metem e dão muitos palpites, mas eles são pais da gente e merecem nosso respeito e não processos na justiça. Tenho muita pena dessa filha que processa os pais.” 

E, lá fora. a chuva fina continuava a cair...  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Um comentário:

  1. Linda a foto e gostosa a história dos laços, encontros e desencontros familiares e dos sempre possíveis resgates. Afinal, a infância em família é o chão sobre o qual caminhamos ao longo de toda a vida.

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