domingo, 3 de maio de 2015

Eu Sei

Antes de partir com Melinda, para trilhar o tempo, guiados por Deborah, o Guri participou de diversas histórias e, como Sherazade (شهرزاد), mil e uma noites de histórias poderiam ser contadas sobre ele, mas uma em especial eu gostei muito. 

Ele tinha uma amiga um pouquinho mais velha que ele; sua característica era ficar em rubro (algo tímida, talvez). Nada disso fazia muita diferença: se ele morasse num sótão, ela subiria uma escada de jardim e entraria pela janela, como já outras fizeram em outros mundos. Cresceram juntos, brincaram juntos até que chegou aquele dia: ela “espichou”, ele ficou. Magrela, muito bonitinha e ainda desengonçada (sem perder a beleza e a vaidade), enquanto ele permanecia baixo e algo gordinho (isso mudou com o tempo). 

Ainda conversavam? Claro que sim! Se bem que só fora do colégio (são séries diferentes), naqueles momentos das crises da idade e quando recordam os “papos seríssimos” que sempre tiveram (essas amizades são assim). Observar os dois, de longe, chega a ser divertido: ela passa, dá um sorrisinho e segue adiante, enquanto ele aguarda o momento de elogiar o passado. 

Só que um dia eles brigaram feio e, num poema, talvez inspirado por uma música, ele mandou todo o seu sentimento: 

“Naquele tempo, eu era moleque de rua, 
Vivia jogando bola e correndo de um lado para o outro 
E você só ria, assistindo aquilo tudo, 
Enquanto brincava com suas bonecas. 

E eu implicava com você... 
Acho que gostava do seu sorriso aborrecido 
E isso até era um brinquedo meu, 
Só que a gente sabia que éramos diferentes dos outros... 

E de onde você tirou a ideia 
Que, hoje, eu não te veria deitada aí na varanda, 
Enquanto você lia este livro, misturando suas cores com o azul do céu 
E a pintura da parede? 

Hora de fechar a porta, pois vá que o telefone toque 
E aí pode ser aquele tal alguém que nos separa, 
Com quem você vai ficar falando horas, 
Enquanto eu dou as costas e vou embora... 

Assim, volte para cá e veja 
Exatamente o que você significa para mim, 
Já que você sempre teve o dom de me levar  
Lá pra longe, onde vivemos nossas promessas...” 

E ele partiu tão triste, achando que tudo se acabara num momento de pouco tato (voltou depois, mas não era mais como antes). Ela também sumiu das vistas por um longo tempo. Um belo dia, sei lá quando, ela apareceu. 

Quando surgiu à janela, seus cabelos de ouro brilharam ao sol e seus olhos de mel, agora mais sérios, fitaram o Mago à distância. Disfarçou, ofereceu um pinhão a um serelepe; este veio a seu encontro e ela o acariciou, encostou seus pelos macios em seu rosto e entregou-lhe um envelope, que mais tarde chegaria às mãos do Mago. 

“Leia e faça chegar ao Guri” – estava escrito! 

“Vivi muito tempo sem entender algumas coisas: que os acontecimentos dependem do que arriscamos. Nesse nosso conto de fadas, sonhado quando estávamos acordados, eu confundi tudo e descobri, tarde demais, que os desejos feitos às estrelas se transformam em realidade. Siga feliz, ajude sua nova amiga a encontrar o seu destino. Conte a ela o que você sempre me disse: "que a força é uma coisa que você escolhe ter..." E eu jamais esquecerei disso. Beijos no coração. Eu também sempre estarei com você aonde você estiver.” 

E ela também partiu e nunca mais apareceu...

 



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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