sábado, 9 de maio de 2015

O Conto do Amigo Invisível

Numa noite clara e bem fria, de um outono qualquer, o Guri apareceu com um caderno do Narrador, onde ficavam histórias quase esquecidas. 

- Leia uma para nós! - pediu Melinda. 
- Se o Narrador não se importar... 
- Manda ver, Guri! 

"No tempo que usava tranças e fitas vermelhas no cabelo, onde brincar era a coisa mais séria da vida (brincar sempre é coisa séria), ela conversava com bonecas e só dormia com aquele travesseiro de ursinho (isso ela faz até hoje) e nem via o tempo passar do lado de fora da janela. Um dia surgiu mais alguém: um amigo só dela, que ninguém via, e com ele conversava, contava seus segredos e pedia conselhos. As pessoas achavam estranho, mas não ligavam porque era coisa de criança. Só que, para ela, ele era de verdade e, de tanta verdade, aos poucos, ele foi criando vida, enquanto ela crescia e não usava mais tranças e nem fitas. 

Um dia ela pediu sua materialização: seria um dia especial, onde ela usaria um vestido de moça grande e deixaria de ser aquela menininha que só sonhava, para transformar o sonho em realidade. Só que, a partir de seu desejo, ele começou a causar medo naquelas pessoas que achavam que ele era somente fruto de sua imaginação. Ah! As pessoas tem medo do amigo invisível, pois elas esqueceram que o tiveram também e porque ele faz lembrar do tempo dos sonhos verdes 

A menina que usava tranças ficou triste porque ele não foi; ele ficou triste porque deixara de ser invisível e não pode ir; e, ambos tristes, seguiram seu destino em direção ao futuro... "

- Ah! Narrador! Essa sua historia antiga é muito triste. Se a gente estivesse lá, tudo poderia ser bem diferente! 
- Como assim, Adrielle? 
- Fácil! O começo poderia ser parecido: "aí ela cresceu, viajou para longe, fez faculdade, casou e constituiu família. Os brinquedos e o seu amigo invisível ficaram meio esquecidos no tempo, mas a amizade continuou". 
- Um belo dia – Ana continuou – ele viajou para a cidade dela e propôs um encontro, mas claro que isso não seria muito fácil, porque as agendas eram lotadas, muitas atividades, enfim, essas coisas de adulto que são um saco. 
- E onde vocês entrariam nisso? 
- Sei lá! Mas a coisa aconteceria assim: "Numa manhã de sol de início de primavera, um sujeito salta de um táxi, numa praça de um lugar distante, dirige-se a um guarda, faz uma pergunta qualquer e encontra um desses cafés no entorno dessa praça. Consulta o celular algumas vezes, escolhe uma mesa, dispensa o garçom momentaneamente e gira a cabeça de um lado para o outro, como se aguardasse alguém. Em dado momento ele dá um sorriso: ao longe, descendo uma ladeira, completamente apressada, uma bela moça, com longos cabelos negros e esvoaçantes, contrastando com uma capa que usava, vem em em sua direção. Cumprimentam-se com um abraço, sentam numa mesa, pedem cafés e pastéis de nata, conversam, ele entrega presentes, eles fazem selfies (para imortalizar a cena), terminam o café, pedem a conta, despedem-se e ela vai embora, tão apressada quanto veio."

 - Não ficou melhor? 
-  Hum... certamente! - concluiu o Narrador.
 - Crianças, hora de dormir! - disse o Mago. 

Todos caminharam para seus quartos, à exceção de Ana, que foi ter com ele. 

- O que deseja, pequenina? 
- Saber se você gostou dessa outra história. 
- Eu sempre soube que tinha dedo de vocês nesse outro caso.
- Como se você não soubesse, né? - ela riu! 
- Durma bem, Beatriz! 
- Só você me chama assim...  


Boa Noite! Eu sou o Narrador.

Um comentário:

  1. Linda história! Amigos são o bem mais precioso- longe dos olhos, perto do coração, visíveis ou invisíveis...

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