Tenho observado uma tendência de textos ou imagens falando de “x” coisas que tem a ver com algum tema. Sempre um numeral, seria algo similar ao “Dez coisas que eu odeio em você”, filme clássico da sessão da tarde. Com o tempo chuvoso, eu poderia fazer um texto com o “X coisas para fazer em dias de chuva”, mas achei isso de gosto tão discutível como o que anda por ai. Sendo assim...
Ele acordou cedo afastou as cortinas da janela e viu um esboço de sol que possibilitaria um bom passeio a pé. Como ainda fazia frio, deu um tempo, lavou a louça da véspera, guardou algumas roupas e tornou a olhar para a rua, quando enormes pingos de chuva o fizeram desistir da ideia inicial.
Pensou por um tempo e resolveu remexer em caixas empoeiradas, cheias de lembranças e fotos, quando uma carta, dessas de baralho, caiu no chão. Abaixou para pegar e viu que era um desenho, em preto e branco, assinado por “risca risca”, de uma cartomante. Procurou detalhes, vasculhou a mente atrás da origem daquela carta, quando um redemoinho o sugou para dentro do desenho e, digamos, quando caiu, foi amparado por enormes almofadas que amenizaram o tombo. Estava numa tenda, dessas de parque de diversões, onde era possível observar uma mesa com uma bola de cristal, alguns incensos acesos, e uma decoração mista de colorido e cinza.
Certo que ensandecia, resolveu sair dali e foi dar num gramado. Ao olhar para trás, a tenda desaparecera e observou uma discussão de uma menina com um sujeito esquisito, baixinho, de barba verde e cabelo roxo, um desses seres que não tem definição, que estava sentado num banquinho cor de abóbora, para não perder a esdrúxula combinação de cores. Aparentemente ele meio que protegia uma fronteira transparente que ia de lugar algum para outro lugar nenhum.
- Para passar, precisa resolver o teste. - explicou para a menina, entregando uma prancheta com uma folha de papel e um lápis multicolorido.
Sem muito entender (afinal que teste era esse?), primeiro ela desenhou um passarinho que tomou vida e saiu voando. Concluiu que o lápis era mágico e tentou novamente com uma borboleta, conseguindo o mesmo efeito. O baixinho permanecia sério, enquanto várias imagens tomavam vida, enchendo o jardim de bichinhos que logo desapareciam. Como ele não falava nada e nem dava qualquer pista, ela tentou novamente e pegou o lápis, desenhou uma pedra, uma folha de papel e uma tesoura, entregando a seguir para o baixinho que sentado estava, sentado continuou.
Então ela falou: -"Você escolhe um e eu outro". Ele escolheu a pedra (acho que ele pensou que era o desenho mais forte) e ela a folha de papel que embrulhou a pedra e foi jogada fora. Aí sobrou a tesoura... usou-a, recortou a folha do desenho inicial como uma flor e ofereceu ao baixinho!
Finalmente ele sorriu, agradeceu, deu as “boas vindas” e permitiu que passasse. Antes que algo mais acontecesse, o sujeito chegou mais perto da menina e perguntou:
- Como você veio parar aqui?
- Não sei, eu estava dormindo e, de repente, “boom”! E você?
- Achei esta carta, não lembrava muito bem o que era e aí “boom” também.
- Ah! A Cartomante de Papel! Ela faz isso às vezes.
- Você a conhece?
- Sim... eu que a desenhei.
Novo redemoinho, dessa vez sem tombos, o sujeito acordou meio assustado. Afastou o cobertor e ouviu o barulho de alguma coisa caindo no chão e, ao verificar, encontrou uma prancheta, um lápis multicolorido e o desenho da cartomante. Com todo o cuidado, preparou uma caixa, colocou tudo lá dentro e guardou no armário.
Boa Dia! Eu sou o Narrador.
N.N: A Cartomante de Papel é um desenho da Laís. Tentei uma autorização de uso, mas ainda não consegui (mas já agradeço)e, por isso, não coloquei a imagem ainda. Espero que ela goste do texto que é um remake dos textos “O Teste da Fronteira Transparente” e “O Conto da Cartomante de Papel” que podem ser encontrados no “Contos de Fada?”. Conheça parte dos trabalhos da Laís clicando aqui.
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