domingo, 7 de setembro de 2014

O Décimo Primeiro Andar

A visão do hotel parcialmente isolado por aquelas faixas amarelas, comuns nos seriados policiais da televisão, além dos carros de polícia e do SAMU, todos com o giroflex ligado, a fizeram pensar (Que porra é essa? Acho que deu merda por aqui. Nossa! Alguma coisa aconteceu! O que será?”). 

Algumas semanas antes, depois de uma discussão doméstica por conta do sumiço de seu gato (dizem que foi abduzido pelo “homem do saco”, mas acredita-se que ele foi internado numa clínica psiquiátrica, depois do susto que ele levou há alguns textos atrás), ela colocou umas roupas (e algumas mentiras) numa bolsa, pegou um velho Uno Mille, primeira geração, que apodrecia no quintal de casa, engrenou uma segunda, soltou o freio de mão na ladeira, misteriosamente ele pegou, e ela foi embora para o interior de São Paulo, lá pros lados de Sorocaba. Apesar de pouco letrada, fizera um curso de decoração de bolachas (alimento mais conhecida como biscoito, apesar de serem coisas diferentes) e achou que tal conhecimento poderia abrir alguma alternativa de trabalho. 

Realmente isso ajudou porque havia uma padaria precisando de um confeiteiro, pois o atual, bem idoso (parecia que tinha uns duzentos anos), estava prestes a se aposentar. Como ela não tinha muita experiência, faria um curso rápido, na capital, onde o velhinho seria homenageado. 

Partiram os dois: no hotel ele ficou no oitavo e ela no décimo primeiro andar. O primeiro dia foi cansativo, mas bem proveitoso. Ao chegar de volta, tomou um banho, jantou e logo foi dormir. Combinara de encontrar o confeiteiro, para irem juntos, pela manhã, mas acordou tarde e assustada (a bateria do celular descarregou e o despertador não tocou), se arrumando correndo, mas ainda deu tempo de fazer uma “selfie” sem maquiagem (aquela amiga gostosona a desafiou a colocar uma foto assim, na rede social) e saiu batendo as portas, meio estabanada. Estranhou que o velhinho não estivesse no curso e, na volta, o circo estava armado, como contei mais acima. 

Como o isolamento era parcial, de posse do cartão do hotel ela pode entrar. Teve a impressão que os funcionários a apontavam e cochichavam, mas subiu para seu quarto sem se incomodar com isso. 

 - Olá! Sou a detetive Benson da UVE¹! A senhora é a dona Natasha? 
(“Caralho... Era só o que me faltava”) - Meu nome é Ana Paula, por favor. 
- Os recepcionistas me informaram que esse era seu nome e que a senhora conhecia o morto.
(“Como assim, morto?”) - Pera! Você está querendo me dizer que o confeiteiro morreu? Morreu de que? E por que meu quarto está isolado? 
- Ele morreu aqui e a senhora foi a última pessoa a vê-lo vivo. 

Ana Paula ficou sem palavras, enquanto uma equipe do CSI² colhia provas e mandava que abrisse a boca para o DNA. Levada para a delegacia local, foi deixada isolada em uma sala, até que apareceu um senhor baixo e gordinho. 

- Boa tarde. Meu nome é James Brass e sou capitão aqui, mas pode me chamar de Jim. 

Ela estranhou a intimidade e continuou quieta. (“Isso só pode ser coisa daquelas gurias bruxas, só pode”

- A senhora será liberada. O confeiteiro morreu de infarto. Uma foto no seu celular mostra o susto que ele levou. (“Susto? Como assim?”) 

Recebeu seus pertences e foi conferir a tal foto. Pelo que entendeu, já que estava atrasada, o velhinho pediu para a camareira abrir a porta, para ver o que acontecera, enquanto ela ainda estava no banheiro. Sentado na cama, ele viu, pelo espelho, seu rosto sem “make”, sem filtro e sem nada e acabou infartando, não sem antes virar um “photobomb” que “viralizou” na Internet. Depois disso, ela não voltou para a padaria e ainda não se sabe o que aconteceu com ela.  


Bom Dia! Eu sou o Narrador.  

¹ “UVE ou “SVU” é a sigla para Unidade de Vítimas Especiais, um “spin off” do original “Law and Order”, série da TV paga, e a detetive Benson é a personagem principal; ² “CSI” significa “Crime Scene Investigation”, outra série televisiva, onde aparece o capitão Brass.

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