sábado, 28 de maio de 2016

Somewhere Only We Know

”Naquele tempo, algumas vezes, nós fechávamos os olhos e viajávamos como a brisa, até o sonho acabar...” 

O embarque pela manhã fez com que ele quase nem dormisse e chegasse, no aeroporto, com três horas de antecedência. Apesar da prudência, os guichês de check in estavam vazios e os colaboradores da empresa aérea só chegaram próximo ao horário previsto para o voo. 

- Mandam chegar cedo e ninguém trabalhando... se eu soubesse continuava dormindo. 

Nem... tudo da boca pra fora. Férias planejadas há tempos e a ansiedade era a regra. De qualquer forma, todo mau humor eventual desaparecera quando surgira aquela figura sorridente (“parece divertida”) de altura mediana, cabelos de cor castanho e na altura dos ombros, olhos esverdeados, pele branca e bochechas coradas, vestida com um conjunto moletom e só... não precisava mais nada: lembrou do imprinting que acontece com os lobisomens (vide a saga Crepúsculo), mas a bala de prata era o fato de que ela não estava sozinha. 

“Decidir é jamais desistir... Os sonhos se transformam em realidade, aquecem e nos trazem a vida que pensamos perdida por ai.” 

Foi-se o voo. No desembarque pegaram o mesmo ônibus e ficaram perto. Uma esperança surgiu quando ele a ajudou, assim como seu acompanhante – seu irmão gêmeo (“bem que eu achei eles muito parecidos, mas tem aquilo de alma gêmea... quase isso”), no preenchimento da “Tarjeta Andina de Migración”: franceses, não estavam entendendo nada do que estava escrito. A separação definitiva foi no guichê da imigração e não mais a viu... coisas de viagem. 

“Você me fez ressurgir. Vindo de um nada esquecido no tempo, no meio do sonho deixado na montanha que parecia somente uma bruma eterna. Você fez meu coração bater diferente, mesmo na minha insana ilusão de que teria você em meus braços... Fez meus olhos brilharem ao sol, mesmo no momento da dor da perda, quando vi que não tinha mais chance.” 

Os dias passaram, lugares foram conhecidos, mas a imagem daquele belo rosto o acompanhava de vez em quando. Na multidão chegou a encontrar outros que partilhara alguns passeios, mas nada foi comparado ao que sentira. A última parada foi em Águas Calientes, a pequena cidade que abre as portas para Machu Picchu. O fim do dia foi no meio da bela tarde de sol com céu totalmente azul, onde estranhamente uma brisa marinha sentiu-se na serra, a mais de dois mil metros de altitude, depois de caminhar por muitas léguas e chegar até lá. Na estação, pessoas reunidas para o trem de volta a Cusco, onde as primeiras notas da canção soaram como sinos: seria algum sinal? 

Coraline aguardava seu irmão (gêmeo) que fora ao banheiro. Ele a viu e não acreditou na coincidência. Aproximou-se e recebeu um sorriso, um abraço e um beijo infantil. Conversaram um pouco e tomaram vinho. A música aumentou e tudo virou festa de despedida quando foram novamente separados e isso foi tudo o que restou do seu olhar de diamante... só lembranças que irão embora como nuvens ao vento. 

- E foi isso mesmo que aconteceu? Ele ficou sozinho e ela se foi? Nem trocaram um e-mail ou coisa assim? Acabou e "listo"?

- Quem sabe? Eu entrei no meu trem, segui meu caminho e não vi mais nada. Isso tudo foi uma paixão de férias bem interessante. Só que tem um detalhe: as paixões jamais terminam, mas podem se apagar quando não se transformam em amor eterno. 

♪“I'm getting old and I need something to rely on”♫

 



Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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