quinta-feira, 9 de junho de 2016

Vida em Preto e Branco

”A partir das cinzas das Ruínas as comunidades foram erguidas. Protegidas pelos limites, todas as lembranças do passado foram apagadas. Após a ruína, nós recomeçamos criando uma nova sociedade: uma com verdadeira igualdade. As regras foram os elementos básicos dessa igualdade. Nós aprendemos, quando crianças, regras como: usar precisão de linguagem; usar suas roupas designadas; tomar seu remédio pela manhã; obedecer o toque de recolher; nunca mentir."  

Conheci o termo “distopia” há pouco tempo, lendo uma observação de uma amiga. Quando fui procurar o significado, eu descobri que já falo do assunto há um bom tempo, mas não “liguei o nome à pessoa”. Segundo o site “Significados”, distopia “é um pensamento filosófico que caracteriza uma sociedade imaginária controlada pelo Estado ou por outros meios extremos de opressão, criando condições de vida insuportáveis aos indivíduos. Normalmente tem como base a realidade da sociedade atual idealizada em condições extremas no futuro. Alguns traços característicos da sociedade distópica são: poder político totalitário, mantido por uma minoria; privação extrema e desespero de um povo que tende a se tornar corruptível.” 

Hum... muito interessante! Nessa linha, eu citei algumas obras como "Divergente", "A Escolhida" e até "Idiocracia", mas existem vários títulos a respeito dessas situações inclusive um clássico, que está na minha lista para procurar futuramente, que se chama "1984" (mas foi escrito uns 40 anos antes). Há alguns dias tive a chance de ver o filme “O Doador de Memórias” e a imagem aérea da cidade futurística lembrou outro lugar que foi a cidadela de Machu Picchu. Acho que já comentei que somos o futuro daquela civilização, assim como de tantas outras, que somente nos deixaram lembranças em ruínas como as que conheci nas Missões Jesuíticas

Essas “distopias” invariavelmente mostram o domínio através de uma ideia que seria a verdade absoluta, e duas coisas são imprescindíveis: acabar com as lembranças, o que nem é muito difícil pois é só contar as coisas que se passaram de uma forma bem tosca e que gere desinteresse; controlar as atividades das pessoas, o que com as câmeras de segurança com vídeos editáveis e com as redes sociais tudo fica mais fácil. Traduzindo: vamos detonar o passado, incutir somente as ideias que nos interessam e assim o controle é absoluto. 

Hoje a amiga Andréa Pachá comentou uma lei de Xangai: “Temendo que os idosos passem a depender do Estado, a cidade de Xangai promulga uma lei obrigando os filhos a visitar e prestar assistência aos pais idosos, sob pena de serem incluídos em lista de restrições a crédito. Mais uma vez, um problema que deveria ser solucionado pelas relações culturais, afetivas e pela tessitura de uma rede de cuidado, ética e solidariedade, se transforma em norma. E caberá à Justiça a responsabilidade pelo envelhecimento. Seguimos espectadores da judicialização da vida, não percebendo que ao terceirizar nossas responsabilidades a pretexto de economia e proteção, abrimos mão do protagonismo das nossas escolhas. Não há lei que nos faça mais humanos. Por melhores que sejam as intenções...” 

Acho que ela representou bem o caminho que, infelizmente, estamos trilhando: ao invés do respeito óbvio, leis são criadas para tentar resolver o abandono cultural. Outra representação que assistimos na TV paga é um programa que passa na GNT e que se chama “Vigiando a Vovó”. Nem preciso explicar muito a coisa, mas eu considero uma falta de respeito enorme às avós expostas pelos próprios filhos no trato com seus netos, principalmente quando se trata de cuidado “terceirizado”, onde os avós é que seguram a onda enquanto os pais trabalham. 

A lista de coisas é enorme e a manipulação da informação e da opinião aumenta, em progressão geométrica, a partir do momento em que se acredita em qualquer notícia sem a apuração dos fatos, onde até manchetes de sites de humor viram realidade.

Fica a reflexão para um dia frio: será que já somos uma distopia?

  
Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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