quinta-feira, 3 de setembro de 2015

O Doador de Memórias

”Quando não há memórias, a liberdade é apenas uma ilusão” (Lois Lowry).

Um momento de calmaria preenche o final do inverno (e houve inverno?) já há algum tempo. A sensação é que algo mudou e que alguma coisa vai acontecer, mas ainda não tive sensibilidade para saber. Como a última mudança foi há três anos, ainda resta um para a próxima (se bem que um ano passa bem rápido). Explico: por alguma coincidência que nunca entendi direito, nos anos bissextos eu faço alguma coisa diferente que modifica a mesmice (foi assim na mudança para a montanha, depois para o sul, a mudança de cidade, dentre outras coisas mais antigas que teria que ler nas agendas velhas – aquelas que guardam algumas memórias). 

Já contei (será?) que escolho livros que “piscam” pra mim nas livrarias e que gosto de começar a ler em aeroportos. Comprado há quase um ano, ele “piscou” tanto que, inadvertidamente, comprei dois exemplares (isso já é coisa da velhice em processo de instalação). Um deles eu troquei, numa feira de troca de livros, por um da “Ediouro” de 1977 (só para lembrar meus velhos tempos), levando uma grande desvantagem na troca, mas foi interessante. 

“O Doador de Memórias” (Lois Lowry; tradução de Maria Luiza Newlands – São Paulo, Arqueiro, 2014) é um livro de 1993 e lançado no Brasil no ano passado, acompanhando o filme do mesmo nome e que até já passou no Telecine (apesar do sinal aberto, eu evitei de assistir antes de ler o livro e já vi, pelo trailer, que foi uma adaptação com muitas diferenças). É uma história futurística, no estilo “Divergente”, que fala de um “mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente – o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente.” (sinopse do site da Livraria Saraiva). 

Já imaginaram que coisa interessante? Sem contar detalhes, senão perde a graça, algumas “lembranças” foram mantidas: o uso da “vara” para os desobedientes, o incômodo que os bebês causam, quando não dormem à noite (mas eles esqueceram do que as avós ensinavam aos casais novinhos: “aproveitem para dormir agora, pois quando vierem os filhos vocês não vão dormir nunca mais!”), o controle da vida de todos através das “câmeras de segurança”, dentre outras pérolas que conseguimos identificar nos dias de hoje. Nessa “perfeição”, trocaram o amor pela atitude socialmente correta (isso parece alguma coisa?).

Gosto de lembranças: as boas são representadas nas fotos, nas agendas e na bandeja mágica; as ruins eu uso para reflexões e tenho dados risadas de algumas delas (já que não há outra coisa a fazer). Lembro dos amigos, aqueles dispersos pelo mundo, gosto de encontrá-los muito menos para recordar o passado e muito mais para saber como estão e são gratas as surpresas (tive várias dessas na última semana). Amor é um sentimento que deve ser preservado; atitude é outra coisa completamente diferente (quem sabe um dia eu falo disso). 

“A menina que saiu de casa, numa quarta-feira, já voltou há muito tempo e dela nunca mais se ouviu falar”


   

Boa Noite! Eu sou o Narrador.

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